domingo, 12 de outubro de 2008

6º Dia - Torres del Rio - Logroño



Torres del Rio a Logroño - 20 Km
Realizado - 138,5 Km
Para Santiago - 652,50



Espanha, 12/10/2008 (Domingo)



Hoje foi um dia especial. Senti muita consolaçao. Passei o dia muito bem. Andando com passos firmes de quem sabe onde quer chegar. Somente eu e Isidro, sempre encontrando nossos amigos peregrinos. O nosso grupo inicial está se desfazendo aos pouco. Tico, o peruano ficou em Torres del Rio se recuperando de uma tendinite, Tiago (brasileiro), Paco (espanhol), Jorge (espanhol) e um francês (Julian) seguiram em frente e Isidro (espanhol) seguiu comigo. Isidro meio que me adotou. Não quer me deixar sozinha, está sempre me cuidando. Ele está vivendo uma etapa importante em sua vida, um de seus propósitos no caminho, que é parar de fumar. Depois que leu o livro, no qual falei na postagem anterior, abandonou o livro com o maço de cigarro junto. Hoje passou o dia mareado, tentando vencer a vontade. É um guerreiro, hoje foi seu segundo dia sem fumar. Como disse, o grupo incial aos poucos está se dissipando. Hoje chegamos todos no mesmo albergue, nos encontramos, e como sempre é uma alegria. Porém, Jorge, um dos espanhóis, deixou o grupo e seguiu uma etapa a frente. Assim seguimos cada um com seu caminho, seu ritmo.

Durante o caminho eu e Isidro conversmos sobre nossas vidas. Dividimos histórias, fé, rimos muitos, foi bem legal. Ele vive em um povoado próximo de Logroño e sua esposa hoje veio visitá-lo no albergue. Ele ficou muito contente. Esta é uma vantagem de morar perto do caminho, pode matar as saudades da família.

Falamos bastante de religião. Isidro disse-me hoje que descobriu algo importante. Disse-me comigo descobriu que não pode ficar pré-julgando as pessoas por sua religião. Disse que não gostava de Católicos. Para ele, se eu tivesse dito que eu era católico já teria se afastava, pois em sua concepção inicial Católico não prestava. Disse-me que descobriu no caminho que o Catolicismo também tem gente boa e também leva para Deus. Assim como tem em qualquer religião. Este fato pode parecer simples, mas Isidro é a mostra da falência da credibilidade do Catolicismo aqui na Europa. Tenho observado isso por aqui, falarei disso em outra postagem.

As descobertas aqui sao especiais. Aqui se vive dia-a-dia o que Jesus ensinou: humildade (nao temos nada, nao queremos nada, solamente compartilhamos); paciência (pois só nos resta caminhar); amor (tratamos uns dos outros sem esperar nada), em fim, Deus está muito presente por aqui.

É isso aí. Amanhã se conseguir conto mais


Estella a Torres del Rio


5º Dia - Estella - Torres del Rio
















Estella - Torres del Rio - 30 Km
Realizado - 118.5 Km
Para Santiago - 672.5 Km
Espanha, 11/10/2008
Neste dia, após ter ficado triste no dia anterior, e ter conhecido pessoas como Panaiota (esquerda - canadense) e Michelli (direita - francesa), que souberam compreender-me e ser presença em minha vida naquele momento, decidi nao seguir com os meus amigos que caminhei os 3 dias anteriores, pois o ritmo deles é mais rápido que o meu. Logo cedo, enquanto no arrumávamos, pergutara-me se estava bem e disseram que iriam me esperar. Pedi a eles que não, pois eu iria no meu ritomo e não queria atrasá-los e nem me preocupar em seguí-los para que não se atrasassem. O dia começou assim, eu saindo depois de los niños, junto com Panaiota e Michele. Entendia alguma coisa que Michele falava e alguma coisa que Panaiota falava, sempre em Inglês. Foi um grande desafio pra mim comunicar-me com as duas que falavam muito pouco do espanhol. Em fim, foi um dia tranquilo, eu já havia me desligado de todos os meus companheiros, o que havia me trazido tristeza por deixá-los. A segurança veio com as minhas novas companheiras, agora no mesmo ritmo que o meu. No meio do caminho encontrei Isidro (espanhol) que acompanhou-me 2 dias antes, me ajudou a superar o Monte do Perdao. Ele estava junto a uma fonte, lendo tranquilamente um livro destinado para quem deseja parar de fumar. Permaneceu neste lugar até terminar de lê-lo e depois alcançou-me. Foi um momento feliz, pq permanceu comigo até terminarmos a estapa do dia, que foi mais pra frente do que havia me determinado. Segui junto com Isidro, Panaiota e Michele até chegar em um povoado muito feio, chamado Los Arcos. A meninas ficaram neste povoado, que ficava apenas 20,9 Km do local de início da caminhada. Eu porém segui com Isidro, Davi e Charle, estes últimos também espanhóis, que me deram muita força para vencer esta etapa que acabaria em 30 Km. Panaiota nao queria que me fosse, porém no dia seguinte ambas iriam apenas até Viana, enquanto eu teria que seguir sozinha até Logroño. Isto me fez optar por seguir com os outros amigos. Quando deixei Panaiota e Michele foi outro momento forte, pq aqui tudo se potencializa, as relaçoes sao muito intensas. Nos abraçamos e dissemos adeus, o que é muito duro. É duro saber que as pessoas que você passa a amar tem que deixá-las. Panaiota disse que o único dia em que ficamos juntos foi maravilhos, o que pra mim também foi.
Segui meu caminho com os niños, que para me ajudar a andar mais 10 km foram hablando, hablando, hablando....Isidro diz que não posso ficar muito introspectiva pq passo a andar muito lenta, viro uma lagarta no casulo, ao passo que se falo viro uma borboleta, fico ágil e sigo. Assim conheci melhor Davi e Charle, que me contaram um pouco de suas vidas. Aqui o conhecimento das pessoas acontece muito rápido, pq se tem tempo para ouvir, compartilhar, cuidar-se, amar-se....é muito especial poder ter tempo para o outro. Saímos de nós mesmos, passamos a ver o outro. Este foi um dia feliz, apesar dos momentos da partida. Aprendi muitas coisas, senti-me muito feliz. Aqui a dor é o de menos. Suportamos tudo com alegria. Não se preocupa com nada, a nao ser em viver o dia em plenitude. Aqui a linguagem é o amor. Se compartilha a comida, as dores, as alegrias. Quando encontramos os companheiros no próximo albergue é sempre uma festa. A cada dia estou mais forte. As bolhas já estao saradas. Sinto-me muito bem, com muita energia. O dia acabou com muitas dores nos pés, afinal, fazer 30 Km nao é mole. Iniciei a caminhada às 8h30 e parei eram 19h. E principalmente feliz, muito feliz. Cheio de descobertas interiores e afetividade vivida.
Sinto saudades de todos, muitas saudades...