domingo, 19 de outubro de 2008

12ª Dia

Burgos - Hontanas - 30,9 Km

Realizado - 292,80 Km

Para Santiago - 498,20 Km



Com a despedida de Maria novamente encontrei-me sozinha. Para sair de Burgos pela manha contei com ajuda de Tiago (brasileiro) e Julian (francês) que estao realizando o caminho sempre próximos a mim, porém, como sao mais rápidos sempre chegam ao final da etapa antes. No decorrer do caminho voltei a encontrar Guilherme e Mario (pai), brasileiros de Curitiba. Guilherme, sempre com muita energia acompanhou Tiago e Julian, enquanto Mario gentilmente me acompanhou.
A etapa foi muito dura, penso que a pior até este momento. Quando estávamos já chegando ao final, faltando uns 10 Km, pensei que restaria apenas 2h30. Por volta de uma 16h já nao aguentava mais caminhar. No caminho havia subidas e descidas, nos últimos Km´s entramos em um retao que nao acabava mais. Olhavámos o horizonte e nao víamos cidade alguma. O sol estava alto, porém o vento estava muito frio, que a cada parada enrigecia nossos músculos. Comecei a ter dores musculares, o que dificultava a caminhada. Ao Final dos 30 Km nao conseguia mais caminhar. Foi duro. Para piorar, ao chegarmos no final da reta demos de cara com um povoado muito pequeno que fica no meio de um vale. Era por isso que nao enxergávamos nenhum pueblo. Quando mirei a cidade, no fundo do vale, e a descida que teria que fazer, tive vontade de sentar e chorar. Desci os últimos intermináveis 100 m de costas, para poupar os joelhos, quadril e pernas, que nao mais me obedeciam.
Quando cheguei no albergue, que também era um bar/restaurante, encontrei uma americana, filha de brasileiros, Otávia, que fala muito bem o português. Otavia quis me ajudar, porém eu nao queria nada, nem conversa, de tanto cansaço. Tudo que queria era uma cama.
Fui para o quarto, deitei-me e chorei. Chorei muito: de cansaço, dor e alegria, por poder estar em uma cama quentinha, onde poderia descançar.
Foi uma oportunidade incrível para exercer a liberdade orientada pela espiritualidade inaciana que tanto busco. Uma liberdade interior em relaçao também a saúde, podendo sentir-me feliz interiormente, mesmo que meu corpo estivesse tao abatido.
Foi um momento especial apesar de tudo, pq todos os peregrinos apareciam com uma soluçao para minhas dores. Um vinha com remédio, outro com gel, outro com massagem nos pés. Cuidados nao faltou. Há muita soliedariedade por aqui. Algo que nunca havia vivido antes. Nao há barreiras da língua para podermos nos ajudar. Senti-me amada e cuidada. Posso também exercer meu amor com eles também. Há respeito, companheirismo, amizade. Há muito AMOR.
Mario (brasileiro pai) me ajudou muito. Me ajudou a superar a pressao psicológica do desejop da chegada, a manter-me serena no propósito, a vencer a dor e sobretudo a recuperar a confiança. Serei eternamente grata a ele.