terça-feira, 16 de maio de 2023

Dia 17 - De Léon a San Martin del Camino

Distância: 25 km

Hoje foi uma noite difícil de dormir. Muitos fantasmas sobre o futuro vieram atormentar meu sono e tive sonhos ruins. No meio da noite, os meus colegas de quarto foram embora mas eram ainda 3h da manhã!
Acordei ainda com os fantasmas e fiquei quase uma hora sozinho no quarto pensando sobre o futuro, paralisado. Então, a duras penas, comecei a arrumar todas as coisas, comecei a cuidar dos pés, desci para começar a caminhar e encontrei um grupo de brasileiros que estavam saindo para caminhar. Se chamam Gildo, Salete e José. Seguimos juntos durante um tempo no dia.
Caminhamos mais de duas horas dentro de um ambiente urbano, passando por diversas cidades diferentes, até chegarmos à La Virgen del Camino, onde a estrada se divide em dois: o caminho para Vilar de Masarife (pelos campos) e o caminho para San Martin (beirando a rodovia). Tive de ir pela rodovia, infelizmente, mas mesmo assim houve muitos momentos de alegria ao contemplar a Criação.
Durante o caminho passamos por várias entradas de túneis que seguiam para baixo da terra, alguns abertos, outros bloqueados. Não sei dizer para que servem.
Chegando em San Martin, logo encontrei o albergue Vieira: é o primeiro prédio da cidade. Conheci várias pessoas aqui, inclusive o Alex do Québec. 

Jantamos, toquei algumas músicas, trocamos muitas ideias. Conheci um casal que venderam tudo e decidiram passar a vida viajando. Enfim, estava um ambiente à altura do Caminho. Novamente agora, hors de dormir pois amanhã é dia de acordar e o quê? Caminhar...

Dia 16 - de El Burgo Ranero a Léon

Distância: 39 km

Hoje saí um pouco mais tarde pois tinha um albergue reservado e vim caminhando tranquilamente. Deixando El Burgo Ranero ainda noite escura. Caminhei mais de uma hora com a lanterna, em uma trilha que beirava a estrada.
O sol nasceu bem vermelho e o tempo fechado. Quando já dava pra ver as cores das plantações, encontrei Tony, um senhor da Coreia que estava caminhando um trecho curto. Sentei um pouco com ele e ele me falou sobre tomar tempo para cada coisa na vida. Parei mais adiante em uma área na floresta onde haviam mesas de piquenique e comi uns pães com queijo que Solange havia preparado na véspera.
Segui caminhando até Reliegos, sentindo-me cada vez mais parte do Caminho, como se eu sempre houvesse vivido aqui e como se cada brisa, canto de pássaro, cada planta é animais fizessem parte de mim. A sensação de estar bem, mas cada placa com a distância até Santiago passa a ser uma mistura de alegria por estar chegando e tristeza por edtar acabando. Segui tranquilo.
Reliegos é uma cidadezinha onde muitas casas são feitas embaixo de pequenas colinas, dando a impressão de casinhas de Hobbit saídas do filme O Senhor dos Anéis...
Segui adiante até Mansilla de las Mulas, uma grande cidade, onde atravessei o que uma época foi o arco de entrada da província de Léon. Agora restaram somente os muros laterais, mas o Caminho ainda passa entre esses muros. Parei para descansar os pés e segui.
Logo adiante já começam a se perceber os sinais de uma grande cidade: a trilha se muda em asfalto, grandes indústrias e comércios ao redor, estradas cheias de carros, sem dúvida estamos chegando a Léon.
Não antes de passar Puente-Castro, local de chegada dos peregrinos durante séculos. Segui caminhando esta cidade imensa por mais de 1h até chegar no Albergue de Peregrinos São Francisco de Assis, mantido pelos freis Capuchinhos.
Um frei chamado Federico (sem "r" mesmo) nos conduziu a uma visita à igreja dos Franciscanos. 
Depois, fui ver a imensa catedral de Léon antes da missa. Em seguida, jantamos e fui pera a cama. Dividi um quarto com quatro coreanos que saíram 3h da manhã para caminhar!!! Isso é que é gostar de caminhar a noite. Bem, eu acabei de acordar e vou caminhar agora... sempre acordar e caminhar.