sexta-feira, 19 de maio de 2023

Dia 20 - De Foncebadon à Ponferrada

Distância: 29,7 km

Hoje eu esperava tanto frio que vesti os dois casacos pra sair na rua. No entanto, está a mais quente que na etapa anterior.
Subi sozinho até a Cruz de Fierro, onde cravei minha pedrinha e pude contemplar meus amigos também colocando suas pedras e dizendo muitas coisas. Foi um momento muito emocionante, pois além de tudo, o sol nasceu e jogou sua luz sobre a cruz bem nesta hora. Muita gente super emocionada mesmo.
Logo mais adiante encontrei a Ana, uma espanhola que vive na Suíça e já havia caminhado uns dias comigo. Ela seguiu todo o resto da caminhada ao meu lado. 
Foi uma descida cheia de pedras com direito a muitos escorregões de ambas as partes, até chegarmos no pueblo de Molinaseca, lindo de morrer, onde paramos para descansar. Depois, seguimos até Ponferrada. Esta é a cidade onde comecei o caminho hoje 15 anos atrás. A emoção é grande pois começo a me lembrar agora do caminho que havia feito no passado. Conseguimos vaga no albergue municipal, que mesmo agora, 10h30 da noite, ainda tem vaga. Para minha surpresa, o Armando, o hospitaleiro que estava em Gragñon, estava aqui também. Fiquei muito feliz!
Depois, fomos visitar o castelo de Ponferrads e passamos a tarde inteira caminhando dentro das masmorras e quartos e muralhas. No final do dia, cozinhei um spaghetti à carbonara para quem quisesse. O Joel, um peregrino que caminha há 3 anos, e a Ana, comeram comigo.
E agora, pronto para dormir, para amanhã acordar e caminhar!

Dia 20 - Cruz de Fierro

A Cruz de Fierro é um local todo especial no caminho. Trata-se de um poste com uma cruz no topo, onde muitos peregrinos tem deixado pedras e seixos representando bênçãos desejadas ou alcançadas. Isso vem acontecendo há várias centenas de anos, por isso, a pilha de pedras e outros objetos sob a cruz é imensa. Durante esta peregrinação, eu encontrei uma oração que eu adotei e segui, de acordo com um livro de orações que encontrei no Convento das Irmãs do Espírito Santo em Carrión de Los Condes. Descrevo abaixo o que propõe o livro, qur foi o que eu fiz:
Seguramente já sabes que ao atravessar os montes de Léon por la Margatería, um pouco mais acima de Rabanal del Camino, vais enco trar a Cruz de Fierro. Este lugar conserva um ritual que consiste em depositar uma pedra no montículo que coroa a cruz. No entanto, este rito requer uma certa preparação. 
Quando entrares na região de Léon, passarás pelo Rio Esla, em Mansilla de las Mulas. Na beira do rio, recolhas uma pedra que não seja demasiado pesada para a mochila, uma que possas manusear com tuas mãos, apalpar-la, acariciar-la. De vez em quando, fale com a sua pedra e recite a ela o poema de Léon Felipe:

"Assim é a minha vida, ó pedra, como tu.
Como tu, pedra pequena, 
Como tu, pedra ligeira,
Como tu, lasca que rola pelas calçadas e trilhas
Como tu, cascalho humilde das estradas
Como tu, que em dias de tempestade
Te escondes no seio da terra
Mas logo brilha debaixo dos cascos e das rodas
Como tu, que não servisse
Nem para ser pedra de uma construção, 
Nem pedra de um auditório, 
Nem pedra de um palácio,
Nem pedra de uma Igreja,
Como tu, pedra aventureira
Como tu, que talvez tenha sido feita
Somente para esta viagem,
Como tu, pedra pequena e ligeira"
Conte a sua pedra suas dificuldades e também suas alegrias. Vá enchendo-a de ti mesmo durante todos os dias até chegar à cruz. Pelo tato de suas mãos e teu espírito, a pedra não é somente pedra mais, mas se torna cheia de sentido. Chega a converter-se em um símbolo, figura de tua imagem e de teu espírito. 
Siga com a pedra firme na mão à partir de Foncebadon e, chegando ao local, crave a pedra com força ao pé da cruz. Tome um tempo para ver os outros peregrinos fazendo o mesmo e medite sobre o que se passou.