quarta-feira, 15 de outubro de 2008

8º Dia - Najera - Grañon



Najera - Grañon - 27.7 Km
Realizado - 193.80 Km
Para Santiago - 597,20 Km

Espanha, 14/10/2008 (Terça-feira)






Este foi um dia esperado. Há muito tempo queria estar no refúgio de Grañon, mencionado nos livros que li, pelos amigos que viveram o caminho. Em fim. Não houve decepçao, apenas confirmaçao. O lugar é mágico. O refúgio fica no campanário da Igreja. Durante o percurso caminhei mais sozinha. Preferi, para poder parar de conversar, pensar, explicar. Cheguei a Grañon sozinha. Antes de chegar no povoado, passei por uma cidade chamada São Domingo de La Calzada. Lá percebi que estou com uma alergia nos pés. Cada um fala uma coisa. Encontrei um homem, que trabalhava próximo do local em que estava vendo os pés. Ele logo aproximou-se e me levou no posto médico. Disse-me que seria alergia a produtos químicos que sao utilizados nas lavouras de uva, por onde passei. Não pude consultar, porque não tinha em mãos um documento que tinha que ter trazido da vigilância sanitária. Apesar de ter seguro saúde, não quis acioná-lo, não achei necessário. A pessoa que me ajudou chama-se Joshuá, é um homem do mundo. Disse-me que não tem lugar fixo, mora onde está em lugares onde a estação do ano é o verão. Hoje está na Espanha. Próxima parada na India, no ano que vem na América Latina. Uma pessoa muito diferente, na qual gostei muito de conhecer. Foi muito gentil comigo. Ao chegar em Grañon, conheci novos amigos. Um filandês, um alemão, outro Tcheco, um argentino e muitos outros. Acreditem, consigo me comunicar até em Inglês. Como uma índia, uga, uga, eheheheh, porém me entendem, isso que importa.


Grañon é especial, pq os hospitaleiros conseguem congregar todos os peregrinos através do jantar que eles preparam para todos nós. É um momento de partilha intenso, que iniciou com a vivência da missa, para aqueles que queriam, depois veio o jantar, onde partilhamos, cantamos, rimos, em fim, logo após lavamos a louça todos juntos e por fim terminou com uma oraçao em uma Ermita.


Pela manhã fomos acordados com um belo café da manhã, também preparado por eles. Foi muito especial, conheci Maria, espanhola querida, que caminhou comigo no dia de hoje. Contarei mais na próxima postagem. Reencontrei Tiago e Jualian, porém o caminho de Isidro acabou hoje.


Estou com saudades, amo a todos. Estou muito feliz. O mais legal, é que não importa a dor física, porque o espírito está descansado.

7º Dia - Logroño - Najera



Logroño - Nájera - 27,6 km
Realizado - 166,10 Km
Para Santiago - 624, 90

Espanha, 13/10/2008

Esta foto é o amanhecer em Logroño, tirada de um parque que há na saída da cidade.
Hoje foi um dia especial, como sempre cheio de descobertas. Logroño é uma cidade grande, levamos cerca de uma hora para sair do perímetro urbano. Ao redor há muitos parques que foram construídos para aproveitar os pântanos que havia ao redor da cidade. Foi especial porque pudemos desfrutar da natureza, dos pássaros que cantavam, do dia que raiava.

Descobri que minha luta espiritual está chegando ao fim, finalmente. Preciso parar de pensar, querer encontrar explicaçoes para tudo. Tenho percebido que as coisas sao mais simples, porque elas simplismente são o que são, sem ter que ficar justificando tudo, encontrando resposta para tudo e tão pouco ter que explicar tudo. Caminhei novamente com Isidro, espanhol que me adotou. Conversamos bastante, porque aqui se tem tempo para ouvir as pessoas e compartilhar a vida. Ele, como o Igor, me perguntou se não me canso de pensar, buscar respostas para tudo. Isso me ajudou a refletir que tenho que simplismente viver, com simplicidade, ser o que sou, sem ter que ficar buscando entender meus sentimentos o tempo todo. Se observar o tempo todo pode ser também algo que nos aprisiona. Tem sido muito importante viver tudo isso. O dia todo caminho. Inicio logo cedinho e paramos apenas no final do dia, passamos muitas coisas, alegria, dor, saudades, em fim. Tudo se torna um grande aprendizado.


Quando cheguei a Nájera, estava muito exausta, queria apenas chegar no refúgio, comer algo e dormir. Isidro queria preparar um filé para nós, porém eu não queria. Ele me levava pra lá, pra cá. Entramos em um bar, que oferecia menu do Peregrino e a atendente foi muito mal educada conosco. Eu estava já estressada pelo cansaço, atitude da moça me deixou indignada. Segui com Isidro buscar o que comer, e eu compartilhei com ele minha indignação, porque aqui na Espanha há alguns lugares em que as pessoas não são acolhedoras, e nos tratam como um baú de dinheiro. Percebem que somos peregrinos, por isso aproveitam-se disso. Cobrá-se muito caro tudo, e come-se muito mal. Fiquei 7 dias sem comer bem. Queria comer arroz, feijao, carne, salada. Aqui só comem, Ramones, ramones, ramones (espécie de presunto, sei lá), muito gordurento. Como se comecessemos Bacon puro.

Depois deste estress do dia, Isidro me fez cair na real, de que criei um caminho perfeito, onde em todos os lugares as pessoas são boas, porém isso não existe, porque o caminho está corrompido.

Há sim muito amor entre os peregrinos. Um cuida do outro, preocupá-se com o outro. Isso que vale. O comércio em cima do caminho é muito grande. Temos que ficar atentos.

O mais importante de tudo é que descobri que amo meu país profundamente. E agradeci a Deus por ter nascido brasileira. Nao há país melhor que o nosso.