quarta-feira, 10 de maio de 2023

Dia 11 - De Obanejos Riopico a Burgos

Distância : 12 km

Hoje foi o dia que eu dei de presente ao meu corpo. Depois de uma noite bem dormido, meu celular acordou e eu consegui colocar carga nele! Mesmo assim, havia decidido que hoje seria o dia de descansar. 
Assim, partimos de Obaneja às 7 da manhã para cruzar o aeroporto de Burgos e chegar na porta do albergue Casa de Cubos às 9h30. Já tinha uma meia-dúzia de mochilas esperando...
O albergue é sensacional com muitos serviços e 120 camas! Todas cercadas com uma mureta pra garantir um pouco de intimidade, apesar de que aqui ninguém se importa muito com isso.
Mais tarde, depois ee um descanso merecido, fui visitar a catedral de Burgos. Muito linda e cheia de arte dos séculos 13 ao 16, no estilo gótico. 
Depois da visita, que custa 5 euros para os Peregrinos (terça é grátis), fui na missa e fui jantar. E agora estou pronto para roncar e acordar amanhã para caminhar.

Dia 10 - Aprendizado

Aproveito o dia livre em Burgos para compartilhar o que tem sido o caminho até agora, dentro do meu coração. Os primeiros dias foram dias de auto-conhecimento: um encontro comigo mesmo, onde tenho constatado algumas coisas que não percebia e outras que não queria ver mesmo. Uma das coisas mais impressionantes foi encarar à fragilidade de meu corpo, de minhas emoções, e dos relacionamentos. Em vez de ir me motivando a cada passo, foi como se eu fosse me frustrando lentamente, até o ponto de decidir dar este dia de hoje de presente ao meu corpo: um dia de descanso praticamente sem caminhar. Estou muito feliz e seguro de ter dedicado um dia ao descanso, mesmo que isso seja um risco à chegar em Santiago. Percebo também a fragilidade das relações que construímos aqui mas que ao mesmo tempo se tornam fortes pois cada encontro ou re-encontro é vivido no momento presente e com muita intensidade. Poder sentar ao lado de alguém  e escutar é um dom muito grande que eu ignorei até agora. Assim, penso em todos os relacionamentos que tenho tido durante a vida e como tenho negligenciado o dom de dar tempo a eles. E isso não é nada mais do que estar presente com alguém.
Sinto que neste momento, Deus me chama a conhecê-lo mais. Em muitas missas os Evangelhos falaram sobre isso. Não sei ainda o que pensar, mas a passagem que ouvi em Gragñon ressoa na minha cabeça: "há tanto tempo vives comigo e me pedes pra te mostrar o Pai? Quem me viu, viu o Pai!" E sigo com isso em meditação durante a caminhada. O que sei é que cada encontro é re-encontro é cheio de emoção e dá vontade de ficar aqui sempre, mas sei que isso é parte de minha vida e esta também é peregrinar. Então sigo todo dia acordando e caminhando.

Dia 10 - De Villafranca Monte de Oca à Obanejos Riopico

Distância: 27 km

Durante a noite anterior em Villafranca, fomos acordados no meio da madrugada por um grupo de peregrinos bêbados que entraram no quarto cantando e acordando todo mundo, acendendo as luzes e tocando música alta à partir dos telefones. E um deles havia conversado muito comigo em Gragñon. Ele achou minha cama e queria me abraçar dizendo "Te amo, te amo" e eu querendo dormir... enfim, foi uma noite meio dura...
Me dei ao luxo de acordar mais tarde hoje pois havia reservado o próximo albergue. O Nelson, que caminhava comigo, foi na frente e eu caminhei sozinho o dia inteiro. Muitas lágrimas e descobertas, Assim, comecei a caminhar às 7h da manhã.
Logo depois do pueblo, a próxima parada é San Juan de Ortega, que fica a 12 km de distância depois de uma pequena montanha. Então, saí caminhando e já subindo a serra pra esquentar.
Chegando em San Juan de Ortega, parei pra tomar um café num lugar super simpático e havia dores no calcanhar. Estavam muito fortes, por isso, tirei as botas e procurei por bolhas mas não havia. Continuei devagar passando por diversos pueblitos debaixo de chuva até chegar em Atapuerca ao meio-dia. 
Esta cidade é um patrimônio histórico com um sítio arqueológico onde a presença de ancestrais humanoides existe desde 800 mil anos. Parei pra descansar os pés e comer uma banana.
Segui lomba acima até chegar em uma cruz no alto de uma montanha. Chovia muito e a descida para o vale de Rio Pico foi difícil pois as pedras escorregavam. Mas finalmente cheguei ao albergue, e que surpresa! Um quarto inteiro só pra mim!

Meu telefone ficou sem bateria e não consegui carregá-lo durante a noite pois estava com os conectores úmidos. Assim, não consegui escrever nada ontem. Tivemos a janta comunitária, apenas 8 pessoas no albergue, muitas conversas íntimas, e conheci Benoît do Québec (Drummondville), Kristina da Polônia, e reencontrei Rémi e Julia. 
Saímos todos juntos sem pressa de manhã para ficarmos em Burgos, onde planejo descansar os pés por mais um dia.
Então, bora descansar para acordar amanhã e caminhar!