quarta-feira, 10 de maio de 2023

Dia 10 - Aprendizado

Aproveito o dia livre em Burgos para compartilhar o que tem sido o caminho até agora, dentro do meu coração. Os primeiros dias foram dias de auto-conhecimento: um encontro comigo mesmo, onde tenho constatado algumas coisas que não percebia e outras que não queria ver mesmo. Uma das coisas mais impressionantes foi encarar à fragilidade de meu corpo, de minhas emoções, e dos relacionamentos. Em vez de ir me motivando a cada passo, foi como se eu fosse me frustrando lentamente, até o ponto de decidir dar este dia de hoje de presente ao meu corpo: um dia de descanso praticamente sem caminhar. Estou muito feliz e seguro de ter dedicado um dia ao descanso, mesmo que isso seja um risco à chegar em Santiago. Percebo também a fragilidade das relações que construímos aqui mas que ao mesmo tempo se tornam fortes pois cada encontro ou re-encontro é vivido no momento presente e com muita intensidade. Poder sentar ao lado de alguém  e escutar é um dom muito grande que eu ignorei até agora. Assim, penso em todos os relacionamentos que tenho tido durante a vida e como tenho negligenciado o dom de dar tempo a eles. E isso não é nada mais do que estar presente com alguém.
Sinto que neste momento, Deus me chama a conhecê-lo mais. Em muitas missas os Evangelhos falaram sobre isso. Não sei ainda o que pensar, mas a passagem que ouvi em Gragñon ressoa na minha cabeça: "há tanto tempo vives comigo e me pedes pra te mostrar o Pai? Quem me viu, viu o Pai!" E sigo com isso em meditação durante a caminhada. O que sei é que cada encontro é re-encontro é cheio de emoção e dá vontade de ficar aqui sempre, mas sei que isso é parte de minha vida e esta também é peregrinar. Então sigo todo dia acordando e caminhando.

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