Hoje o dia foi muito melhor comparado com ontem: fisicamente não tive mais dores na canela e pude impor um ritmo mais animado, de modo que eu tive tempo para descansar mais a cada hora.
Novamente, saí de Estella sozinho às 6h30 da manhã junto com uma multidão de Peregrinos que ia brotando da terra. Parecia largada de corrida, mas pouco a pouco os grupos foram se separando e logo eu estava novamente caminhando sem quase ninguém à vista.
O primeiro tiro de 20 km foi até Los Arcos. Durante o caminho, logo na primeira meia-hora passei na Bodega de Irache onde tem uma fonte que dá vinho... enchi o tanque e tomei o dia inteiro.
Passei por algumas colinas com florestas e belas paisagens montanhosas, que foram se aplainando em grandes plantações de trigo. Novamente as flores e seu aroma perfumado foram minhas companheiras no dia.
Antes de chegar em Los Arcos apareceu um lugar tão convidativo para uma pausa que cheguei a cochilar uns 20 min. Então apareceu o Rémi da França. Um garoto de uns 20 anos que está viajando sem reservar albergues porque acredita no imprevisto. Hoje ele acabou tendo que dormir na rede que ele traz na mochila. Ele foi adiante e disse que ia pendurar a rede em alguma árvore.
Chegamos em Los Arcos. A cidade ganha o nome por causa da fachada de arcos da Igreja. Almocei com o Rémi e a sua amiga Roxane que vem do Chemin du Puy (ela começou a caminhar do outro lado da França - 600km a mais).
Depois fui na Igreja agradecer pelas coisas estarem boas hoje.
Seguindo adiante para Sansol, último pueblo antes de Torres del Rio, teve um lance sinistro: fui tomado de uma alegria tão grande que eu comecei a dar gargalhadas e de repente o vento soprou forte como se quisesse levar o meu chapéu, ihihi... e em seguida uma nuvem cobriu o sol que estava torrando o côco. Foi um sentimento de que eu estava sendo cuidado. Duro de explicar mas foi isso.
Passei também ao lado de um grande campo de terra tombada. Uma bela reflexão sobre o nosso coração, que segundo Jesus é terra para receber a semente da Palavra de Deus. Se o disco do arado não sulcar a terra, ela fica seca e é mais difícil da semente entrar. Assim, creio que é condição para bem recebermos esta Palavra de nos permitirmos abrir, quebrar, literalmente nos virarmos do avesso, não querer guardar o que temos carregado.
Chegando em Torres del Rio no albergue Pata de Oca, o hospitaleiro Antônio nos acolheu com carinho e já coloquei tudo no beliche. Tivemos um jantar comunitário e até tinha um violãozinho e toquei umas canções.
Depois tratei minha ampoule e agora estou pronto para dormir. E amanhã, acordar e caminhar.