Chegou o grande dia!!! Depois de 4 semanas de caminhada, o momento culminants de concluir a peregrinação ao sepulcro do Apóstolo São Tiago. Uma manhã preguiçosa, levantamos tranquilamente, arrumamos as coisas e saímos caminhando devagar e sem tomar café. Depois de descer o Monte do Gozo, logo entramos em Santiago.
Que emoção... fui lembrando de todas as cidades, todas as pessoas, todos os momentos, e ia caminhando junto com a Cris, lembrando também da primeira vez que havíamos estado aqui. Encontramos um voluntário da oficina de peregrinos chamado Juan Antônio. Ele estava indo para a oficina, que abria as 9h da manhã. Contou muitas coisas sobre seus muitos caminhos, mas agora ele já não pode mais caminhar longe e se dedica como voluntário. Sua função é entregar a Compostelana a cada peregrino que chega e segundo ele, a recompensa é poder olhar cada um e sentir o caminho dentro de cada olhar. E assim, seguimos caminho. Fomos descendo as ruas para o centro histórico e logo apareceram as torres da Catedral de Santiago.
Cheios de emoção, seguimos caminhando. Encontramos Mark, um outro jovem peregrino que havia animado a noite comigo no violão e piano em Gragñon.
E foi se montando o cenário de emoção para a chegada na catedral. Assim, baixamos o túnel que dá na praça do Obradouro com o coração a mil e terminamos nossa peregrinação ao ver a maravilhosa fachada da Catedral de Santiago.
Aí, as lágrimas vêm junto com a lembrança de tudo o que se passou, em conjunto com os encontros que fiz. A Cris estava lá para me deixar ainda mais feliz e emocionado. Outros peregrinos foram chegando e ficamos lá contemplando a catedral e tudo o que ela significa para um peregrino. Caminho encerrado? Ainda não...
Depois seguimos para a Oficina de Acogida de Los Peregrinos para buscar a Compostelana. Claro que quinze anos depois do primeiro Caminho não há mais ninguém escrevendo o certificado à mão. Agora a gente preenche os nossos dados em um site e recebemos um QR Code por e-mail. Este código é escaneado e o voluntário imprime o certificado. Pegamos os nossos e fomos finalmente tomar café (chocolate com churros), em meio a encontros com muitos peregrinos que havíamos conhecido no caminho. Caminho encerrado? Ainda não... ao meio-dia e meia começou a missa do peregrino na Catedral de Santiago.
Agora entramos pela porta lateral pois não é mais permitido ver o Portal da Glória. Havia tanta gente na missa que quase não dava pra sentar nem no chão. Foi uma missa de sábado, curta, com o sermão em homenagem aos 50 anos de uma turma de advogados da Universidade de Santiago. Porém, ao comungar, senti Jesus presente bem forte comigo e percebi que ele havia mesmo caminhado o tempo inteiro enquanto eu estava no Caminho. A última missa que eu havia assistido am Montréal antes do Caminho falava da passagem dos discípulos de Emaús e eu havia pedido a Deus que Jesus caminhasse comigo como havia feito com os amigos de Emaús. Assim, ao comungar em Santiago, eu tive a certeza em.meu coração que sim, Ele estava comigo. Lembrei novamente dos dias de caminhada, das pessoas que encontrei, e tive certeza: Ele esteve comigo. Fiquei novamente muito emocionado e não parava de chorar. Então, o padre avisou que antes de terminar a missa, eles iriam suspender o Botafumeiro, o imenso incendiário da catedral de Santiago. O incenso representa as nossas orações que são levadas ao céu pela fumaça que sobe. E eu aproveitei para elevar uma oração e percebi que cada passo dado neste Caminho havia sido uma oração. E lembrando de todos os passos novamente, pessoas, momentos, e vendo a fumaça subir, então chorei muito de alegria pela certeza de ter estado tão perto do Pai todo o tempo. Depois que acabou a missa, eu e a Cris nos abraçamos e choramos em silêncio. Não trocamos uma palavra, apenas um abraço longo e apertado que durou o tempo de nossas lágrimas. Choramos tudo o que tinhamos direito e eu me senti muito seguro e livre. Ficamos lá sentados, contemplando o altar enquanto a galera ia indo embora.
Logo em seguida, fomos visitar a tumba do Apóstolo São Tiago. Depois, deixamos a Igreja e fomos almoçar com a Sueli (que era voluntária em Gragñon) em um restaurante muito legal chamado O Botafumeiro, de uma família brasileira. Comemos muito bem, uma picanha bem gostosa.
Depois, pegamos o ônibus e seguimos para Porto, em Portugal, onde eu e a Cris vamos cada um para um lado, mas voltando pra casa. Caminho encerrado? As lágrimas foram todas derramadas, junto com muita coisa que eu tinha que por pra fora. Mas como na primeira vez, sei que chegar a Santiago não é um fim, mas um começo. Por isso, a vida é realmente um caminho de encontros e relações como aqui, e cabe a mim saber cuidar de cada um dos frágeis fios desta trama. Então, ainda vou dormir hoje para amanhã acordar e caminhar, até o fim da minha vida. E, como sempre diz a Cris, com passos firmes de quem sabe onde quer chegar!
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