sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O final e a luz para o reinício

Queridos amigos, nao há palavras para descrever a intensidade vivida aqui. Hoje começamos nossa viagem de volta para casa. Saímos de Santiago às 7h para chegar em Madri às 15h. Foi uma viagem longa, mas cheia de reflexoes. Passei por vários lugares nos quais caminhei e as lembranças já começaram a fazer parte do dia. Comecei a olhar todos os lugares e fui tomada de uma emoçao incrível. Uma tristeza por deixar o caminho daqui e ao mesmo tempo um pouco de medo do retorno. Voltar para minha vida e encontrar um jeito de viver no meu dia-a-dia o que aprendi aqui e td que significou, isso será um grande desafio. Esta experiência jamais consiguirei descrevê-la, mas posso validar que é maravilhosa. Espero que mais pessoas possam viver o caminho para encontrar-se, encontrar a Deus e aos outros. Enquanto via as fotos do caminho percebi que a grande mairoria das pessoas com quem convivi todos estes dias nunca mais as verei. Isso trouxe um aperto no peito. Enquanto as lágrimas rolavam refletia uma forma de transformar tudo isso em prática para viver melhor o grande caminho da minha vida, este ao final me levara para minha morada eterna, com Àquele que inspira meus dias e me trás esperança para uma vida muita mais feliz.

Sabem, tudo que desejei viver no caminho eu vivi. Foi incrível, pq na prática descobri que td, td que desejamos podemos realizar. Vejam só: Desejei ganhar a vinheira (concha) e o cajado e assim aconteceu, foi mágico viver isso; Desejei encontrar no caminho um pastor conduzindo suas ovelhas e passar entre elas, contemplando como é o pastoreiro e encontrei; Desejei viver em Grañon e Tosantos momentos de espiritualidade intensa e vivi, vivi muito mais, pois encontrei mais espiritualidade em Carrion de los Condes; desejei encontrar anjos no caminho e encontrei, muitos anjos, pessoas que nao tiveram limites para oferecer o Amor; desejei chegar a Santiago em um dia de sol, depois de uma semana inteira de chuva, assim aconteceu (único dia que a chuva deu trégua); desejei participar de uma missa onde fosse realizado a cerimônia com o botafumeiro e participei; desejei profundamente encontrar minha paz espiritual e encontrei; desejei encontrar a Deus na simplicidade e assim aconteceu; RECEBI DO CAMINHO MUITO MAIS QUE DESEJEI.

Cheguei ao final do caminho e com isso a certeza de que meu PEREGRINAR continua, agora com mais força, mais otimismo, mais simplicidade....

O final é o início, com maior desafio, porém muito mais iluminado pela vivência do Caminho...

Como disse o Pe. que celebrou a missa do Peregrino na catedral de Santiago: "Que vocês peregrinos, levem a força do caminho para onde vivem, possam viver o caminho da vida comprometidos com Jesus, para que na chegada à Catedral definitiva, possam ver a Luz resplandecente de Deus...."

Espero que minha vida seja assim e possa levar muito mais pessoas comigo, em um caminho de fé, de vida, de otimismo e muito, muito amor...

Obrigada a todos pelo apoio, pelo carinho, pelo companheirismo em todos estes dias...

Nos vemos por ocasiao do meu regresso....

SEMPRE COM PASSOS FIRMES DE QUEM SABE ONDE QUER CHERGAR!!!!!

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Fotos

A galera de peregrinos chegando neste dia
Aqui nossos amigos peregrinos queridos...
Aqui foi na chegada a cidade



Olha só a alegria da criatura, ehehehe.



Eu e Igor muito felizes




Igor no Caminho

Vejam, eu disse para todos que nao havia expectativa nenhuma de minha parte quando estava vindo a Espanha, apenas acompanhar a Cris e ajudar a realizar o sonho que ela tanto almejava. Mas o Caminho é uma combinaçao de vários elementos que permitem que você tenha uma profunda reflexao de você mesmo: o tempo enorme que a gente passa pensando na vida, mais as condiçoes de paisagem, temperatura e também a maravilhosa hospitalidade da maioria das pessoas daqui e dos peregrinos e também a simplicidade da vida de caminhante. Por isso, vou compartilhar algumas conclusoes.
A experiência do Caminho reforça tudo aquilo que a gente já vive ou tenta viver na nossa vida concreta, mas por aqui as experiências que temos sao muito intensas e marcantes. Eu fiquei pouco tempo por aqui, como se entrasse em um retiro do Cursilho na sexta e saísse no sàbado de manha, como a Cris já disse, mas me surpreendi com muita coisa que me aconteceu e muitas decisoes que tomei ou que ainda vou tomar. Vi muitas pessoas se ajudando em coisas simples que em nosso dia-a-dia parecem nao fazer diferença, mas realmente fazem, como dar um apoio ou uma mensagem de animo para todos, até mesmo carregar a mochila de alguém que nao tem mais condiçoes de caminhar. Compartilhar coisas, comida, roupa, tudo o que temos, que é pouco, mas que pode fazer diferença na vida de todos. Ontem na saída de Arzúa um carinha americano queimou sua própria camisa enquanto tentava secar no calefador, e quando estávamos pegando a estrada, vi a cara do sujeito e a camisa queimada e nao sei o que me deu, mas nao pude resistir e dei uma de minhas camisas para ele. O problema é que, só depois que estávamos na estrada é que percebi que nunca mais poderia ver o cara na vida. Assim, entendo que é uma perfeita entrega sem esperar nem que ele me escreva um e-mail de agradecimento, ou seja, nada em troca. Apenas vi o cara e dei o que podia. Ganhei dele um grande sorriso. Nao quero que entendam que estou me engrandecendo, mas quando descobri na carne esta sensaçao, vi que ela realmente vale a pena. Eu sempre ficava esperando pelo menos um obrigado de todos, mas nao querer receber realmente nada em troca é muito mais do que eu imaginava que podia fazer, mas fiz.
Outro ponto muito importante foi a imensa comunhao entre os peregrinos do caminho. Todos nos encontravamos e separavamos, sem ter muita certeza se iriamos nos encontrar de novo. Quando chegamos a Santiago, a sensaçao de despedida é estranha, pois desta vez realmente percebemos que nao iremos nos rever logo. Mas mesmo assim, todos se ajudam e sorriem. Esta sensaçao se confirmou na Comunhao dentro da Catedral de Santiago, onde pude contemplar os peregrinos de vários paises que caminharam comigo e trocaram suas experiencias, agora na fila da Eucaristia. Vejam: de várias raças e países diferentes, mas na mesma fila da comunhao... Quando estamos lá somos todos um só povo em Cristo.
E por último, fica o meu imenso orgulho pela Cris, que realizou junto comigo este sonho maravilhoso. Ficam as lembranças de vê-la emocionada lendo os comentários de todos e escrevendo as postagens, e fica a certeza de que Deus me deu realmente um grande presente para eu me alegrar e cuidar com carinho. Agora, tenho certeza que somos um só e muita coisa vai ficar bem melhor em nossa família...

Ontem, a caminho do Monte do Gozo, tive pela primeira vez o sentimento de força pelas alavancas que estávamos lendo de todos (postagens), e que também me deixaram muito emocionado. Novamente, digo para todos. As oraçoes e comentarios que recebemos foram muito importantes e nos impulsionaram ao final. Por isso, remetendo ao Cursilho, nao deixemos de orar por todos, pois isso funciona mesmo!!! Nao podemos deixar de orar.

E o recado que eu escutava o tempo inteiro, em vários idiomas, em Santiago, e também que já havia escutado em meu casamento, no Cursilho, etc e tal: "Termina agora o retiro, agora começa a tua missao..."

Gracias meu Señor Santiago
a vosos pes me tés xa
Sé queres tirar`m a vida
Pódesma, Señor, tirar
porque morrerei contento
N´esta santa Catedral

Que Deus abençoe a todos, nos vemos no Brasil.

Beijos
Igor Schultz

30º dia - 05/11/2008 - SANTIAGO


Monte do Gozo a Santiago - 4,8km
Realizado - 770,20 Km (nem acredito, eheheheh)
Chegamos a Santiago

Como estávamos muito próximos da chegada resolvemos que levantaríamos mais tarde. Afinal merecemos. Foi um amanhecer diferente para mim (Igor depois irá escrever como se sentiu). Como havia desejado, o dia amanheceu claro, com um sol digno de um dia especial como este. Levantei que nao cabia dentro de mim de tanta felicidade. Uma alegria interior incapaz de explicar. Alívio por saber que fianlmente consegui encontrar o vim buscar. Consegui superar meu pior inimigo, que era eu mesma. Na verdade quem sempre boicotou meus sonho fui eu mesma, que nao acreditava que era capaz. Descobri uma outra Cris, muito diferente do podia imaginar. Mais do que ter determinaçao precisei encontrar no meu mais profundo ser o que tinha de melhor, crer que sou capaz de realizar qualquer coisa, desde que esteja na presença de Deus. Como havia dito na postagem anterior entrei cantando Decolores. Estavámos com um grupo de amigos peregrinos. Todos nao cabiam dentro de si. Entramos na praça maior que se vê a Catedral de Santiago. Imensa em tamanho e capaz de abrigar toda a simplicidades dos peregrinos que se misturavam com grandes grupos de turistas que nos olhavam como se fossemos ET´s. Erámos como parte do que os turistas queriam ver em Santiago. Há uma certa mística em volta dos peregrinos, pois sao a realidade que aparentemente, para os turistas, é incapaz de ser alcançada. Estou muito feliz por viver tudo isso. A entrada a Santiago foi como viver uma saída de Cursilho de forma potencializada.
Agora a tarde resolvemos nossas pendências para voltar para casa. Chegaremos mesmo dia 08/11, com muitas saudades. Queremos poder ver a todos e contar um pouco do que vivemos.
Seguimos nosso caminho, sempre, sempre, com passos firmes de quem sabe onde que chegar....
ULTREYA

terça-feira, 4 de novembro de 2008

29º Dia - 04/11/2008

Arzuá a Monte do Gozo - 32,5 km
Realizado - 765,40 Km
Para Santiago - 4,80 Km

Foi um dia puxado pois a etapa foi longa. Enquanto andavámos parecia que o Monte do Gozo tinha pernas e caminhava para frente e nos parecia que caminhávamos para trás. Nunca chegava. Pensamos que chegaríamos cedo, pois quando escrevemos a postagem anterior pensávamos que faltava apenas 12 Km, porém faltavam 16 Km. O fato de termos nos enganado com a distância causou expectativa de chegar logo, causando ansiedade, com isso parecia que nunca chegava. Chegamos eram 18h15, foi um trecho cheio de subidas e descidas. Claro que no final era mais subida...eheheheh. Em fim, chegamos! E mesmo com a neblina e uma chuva fina dava para ver a cidade de Santiago. Durante uma parte do percurso vim cantando Decolores (hino Cursilho). Cantei um pouco em Português outras vezes em Espanhol. Confesso...cantei mais em Português, cheguei até a esquecer a letra em espanhol. Igor teve que me ajudar a lembrar, eheheheh. Enquanto cantava lembrava dos primeiros peregrinos do Cursilho e isso foi me dando uma emoçao, parecia que havia uma legiao de peregrinos caminhando comigo. Comecei a cantar e chorar junto, pq a emoçao era tanta que nao cabia em mim. A letra da música em Português tem muito sentido com o Caminho (De maos dadas nas mesmas estradas eu sou teu irmao). No Caminho se vive muito isso, todos no mesmo caminho, como filhos de Deus, irmaos em Cristo. No final da etapa Igor estava com dores nos pés e começou a ficar desanimado por nao chegarmos, entao sugeri que cantássemos de novo Decolores. Entao subimos a última ladeira cantando Decolores em Espanhol e Português. Amanha quando estiver indo para Santiago chegarei cantando Decolores, com a certeza que terei todos vocês como peregrinos muito próximos. Como se todos nós estivéssemos saindo de um Cursilho e cantando com a mesma emoçao de uma saída de Cursilho.
Para aqueles que sao Cursilhistas, imaginem a emoçao da saída do Cursilho de vocês, é isso que estou sentindo. Como Igor disse nas primeiras postagens, isso aqui é um grande Cursilho. Estou feliz, amanha, enquanto vocês se preparam para ir ao trabalho estaremos entrando na praça maior da Basílica de Santiago. Chegaremos por volta das 10h30 (horário local) e 7h30 (horário do Brasil). Lembrem-se disso e faremos juntos a entrada em Santiago.
Saudades de todos

Postagens




Olá pessoal, paramos um pouco para comer, estamos a caminho do Monte do Gozo, ponto que faltam apenas 6 km para Santiago. Aproveitamos para baixar as fotos e ler as postagens do blog. Que emoçao, ler cada palavra.
Matheus e Thabata a mamae e papai estamos com muitas saudades, e também esperando ansiosos pelo nosso reencontro. Este caminho também é de vocês, que precisaram também exercer o desapego da mamae e do papai para que pudéssemos viver tudo isso de especial. Espero que um dia Deus desperte em seus coraçoes o desejo de viver este caminho, que nos ensina o verdadeiro valor da vida. Temos muito que conversar e compartilhar. Segue foto que vocês pediram.
Amigos queridos, que lindas palavras, é maravilhoso saber que há muitas pessoas que descobriram o verdadeiro sentido de suas vidas, isso traz muita paz e esperança para todos nós.
Estou muito feliz. Está chegando a hora de descer do Monte Tabor, onde vive dias intensos com Deus, e voltar a assumir meu compromisso com Ele dentro da realidade da minha vida concreta.
Saudades....
Ultreya

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

28º Dia - 03/11/2008





Casa Nova a Arzuá - 22,5 Km
Realizado - 732,90 Km
Para Santiago - 37,30Km

Realmente nao acredito. Olho para trás e nao creio que realizei tantos Kms. Estou muito feliz. Disse para Igor que tudo que esperei no caminho realizei, muito mais, muito mais do que esperava. Hoje o dia foi chuvoso,também nos molhamos tudo, mas o Espírito tá tao em paz que nao há tristeza. Há uma indiferença interior tao grande que simplesmente nao desejamos mais sol do que chuva. Apenas caminhamos. Seguimos o dia com um jovem casal de Italianos (Cristina e David) que conheci desde o 1º dia de minha caminhada, porém há uns 3 dias estamos mais próximos, nos conhecendo mais, e dividindo um pouco mais o caminho. Encontramos mais um brasileiro, de Sao Paulo, um senhor chamado Paulo, aposentado, que está tao encantado com o caminho que disse que nao tem desejo de retornar para o Brasil. Esta fazendo etapas bastante curtas para curtir bem o caminho.
Igor estava mais aquietado que ontem, mais feliz. Isso também aquietou meu coraçao. Creio que haverá um tempo para o Igor voltar para o caminho e viver de forma mais plena.
Gente é impressionante como identifico o Cursilho no caminho. Tudo, tudo que vivemos no retiro tem haver com que se vive aqui. A diferença está que no Cursilho, apesar de ser uma experiência forte, ouvimos pessoas falando as coisas e mostrando o caminho. Aqui a vivência é intensa pq vai descobrindo no silêncio do caminho, na vivência da partilha, o caminho que te leva a Deus, a vc mesmo e ao outro. Comentei com o Igor que nao há como explicar, assim como falamos no Cursilho, pq tem que ser vivido.
Hoje, enquanto planejava as paradas do dia, lendo o guia do caminho que a Cris (amiga peregrina) me emprestou, li o que a Cris escreveu quando estava chegando a Santiago. Fiquei tao emocionada com seu relato, pq sinto na pele cada palavra relatada por ela. Talvez se tivesse lido isso antes de vivenciar o caminho nao teria o entendido com tanta força. Ao final do relato a Cris (amiga peregrina) disse: "Deus obrigada por permitir-me viver. Obrigada por permitir-me viver intensamente". É tudo de bom poder saber que há pessoas que passam por aqui e podem mudar suas vidas, de forma que possam viver com maior felicidade, pois descobrem o verdadeiro sentido da vida.
Amanha será meu último dia de caminhada forte. Faremos 32,3 km, para chegar ao Monte do Gozo, ponto em que faltam apenas 5 km para Santiago e se pode ver a Catedral. Isso me trás uma mistura de sentimentos, alegria por estar chegando, tristeza por ter que deixar a todos que conheci, ao caminho que ensinou a ser mais feliz e simples, porém muita alegria por estar próximo de reencontrar meus filhos amados.
Sou grata a Deus por tudo isso. Pelos meus amigos amados que me escrevem palavras tao doces e cheias de carinho. Palavras que me mantiveram forte, que me incentivaram, que me ajudaram a aprender um pouco mais de tudo isso. Leio a cada postagem com emoçao....Obrigada a todos....
Santiago aí vamos nós......TODOS NÓS.....
ULTREYA

27º Dia - 02/11/2008

Portomarin a Casa Nova - 30,2 Km
Realizado - 710,40 Km
Para Santiago - 59,80 Km

Foi um dia um pouco mais tranquilo, alternado com chuva e sol. Começamos a encontrar outros peregrinos que eu ainda nao tinha visto. Pessoas que fizeram o caminho em um passo mais lento. encontramos Olga (Espanhola), muito especial. Encontramos mais 2 casais de Palma de Maiorca que nao conheciam o Cursilho e nos disseram que a Igreja por aqui nao tem investido nos jovens o que faz com que cada vez mais os jovens estejam afastados da Igreja. Caminhamos com um grupo de peregrinos que há uns 4 dias nos acompanham, porém ontem estivemos mais juntos. Foi bom o dia de hoje. Dia em que o Igor começou a deixar o caminho falar para ele, porém como o tempo de permanência é muito pouco faz com que as coisas aconteçam de forma diferente. Igor encontrou a todos em um outro estágio de vivência, o que acabou causando ansiedade para que as coisas começassem a acontecer, resultando certa dificuldade para se entregar. Disse-me que sente como se entrasse no Cursilho na sexta-feira a noite e no mesmo dia tivesse que sair, tendo tempo apenas para viver a 1ª noite, eheheheh
Em fim, tenho tentado ajudá-lo dentro do possível, porém é difícil pq o caminho é dele e as descobertas também sao suas.
Saudades de todos.......
Continuamos com passos firmes de quem sabe onde quer chegar.....

sábado, 1 de novembro de 2008

Oraçao de Santo Inácio

Abaixo está a oraçao de Santo Inácio que cantei durante o caminho de hoje, como descrevi na postagem anterior:

Tomai Senhor,
E recebei, toda minha Liberdade e a minha memória também
O meu entendimento e toda minha vontade.
Tudo que tenho e possuo, vós me deste com amor.
Todos os dons que me deste
Com gratidao vos devolvo,
Disponde deles Senhor, segundo a Vossa vontade
Dai-me somente
O Vosso amor e a Vossa Graça
Isso me basta, nada mais quero pedir

26º Dia - 01/11/2008

Samos a Portomarín - 39km
Realizado - 719,20 Km
Para Santiago - 90 Km

Hoje começamos o dia com muita chuva e frio, o que dificultou muito a caminhada. Por todo caminho havia muito barro e excrementos de animais, o que no final das contas acabamos desistindo de ficar escolhendo lugar para pisar, pois nao havia jeito algum de desviar. Em um dia como hoje somente botas 7 Léguas para se sair bem. Como nao tínhamos tivemos que sujar nossas botas mesmo. Ficaram em um estado horrível. Enquanto caminhava dava graças a Deus por ter vindo para o caminho de botas e nao de tênis, pq nestas condiçoes nao aguentaria.
Depois de 2h de caminha na chuva, com frio, paramos um pouco. Foi entao que descobri que havíamos pego um caminho que acrescentou 4 km no percurso. MEu Deus, fiquei estressada. Pensei que nao iria conseguir caminhar o dia todo na chuva, com frio, molhada até o pescoço. Cheguei a pensar em pedir a Deus que cessasse a chuva, porém lembrei que era hora de exercer minha liberdade interior e resolvi pedir a Ele nao para cessar a chuva, mas para me dar energia para acabar o percurso. Entao comecei, faltando 25 Km para terminar a etapa, a cantar a música da oraçao de Santo Inácio. Cantava o mais alto que podia, quanto mais cantava mais rápido caminhava. Tive que exercer um auto-controle que nao pensei que tinha. Nao podia parar para pensar, pq tinha vontade de desistir, gritar, sei lá o que. Foi entao que me determinei a chegar até Portomarin, pq até entao ainda nao sabíamos que pararíamo em um povoado 10 km antes. Descobri que de fato sou determinada. Nao havia nada que me parasse. Ao final do dia estava com muitas dores nas costa, muitas mesmo. Deus é tao maravilhoso que ao final do percurso nos presenteou com um sol lindo. Lembrei-me de uma frase que Igor sempre repete: atrás das nuvens há sempre o sol....Igor encontrou um casal de Palma de Maiorca que nao sabiam o que é o Cursilho. Igor ficou indignado, eheheheh
Em fim, acabamos em um refúgio particular, quase um hotel, com bar anexo. Tomamos um banho quentinho e agora estamos esperando nossas roupas secarem para nos agasalharmos, eheheh
Gente, falta somente 90 Km para Santiago. Quando passamos o marco dos 100 Km me senti tao emocionada. Comecei a lembrar tudo que passei até aqui, me dei conta que minhas dores nas costas nada mais sao do que 700 Km percorridos até aqui. Nao pra acreditar...
O caminho me deu muito mais do que eu esperava. Ao final do dia conversava com uma Sra. Francesa, Monica, e falamos sobre isso. Aqui se vive coisas muito fortes, desde amar pessoas que vc nunca viu e descobrir o vínculo de irmaos em Deus, até descobrir que temos muito mais força interior que jamais poderíamos imaginar. Nao sou de fato a mesma Cris que saiu do Brasil. Sinto-me mais inteira, mais parte de Deus, do mundo, de mim mesma. Nao sei explicar este sentimento, mas queria muito que todos pudessem descobrir por si, vivenciando tudo isso. É duro, tem-se que ter determinaçao, mas a recompensa nao tem preço. Nao há tristeza pelas dificuldades, somente aprendizado seguido de alegria....
Saudades

25º dia - 31/10/2008

O Cebreiro a Samos - 31km

Realizado - 680,20
Para Santiago - 117,60

Hoje tivemos um dia muito bom. Apesar do dia de ontem ter se encerrado com muito frio e chuva, hoje acordamos e saimos com sol, e o visual maravilhoso do Cebreiro. Havia também muita neve depositada em algumas montanhas e ao longo do caminho. Iniciamos a Cris e eu a descida do Cebreiro, após nosso café e logo encontramos Tiko, um peruano que nos acompanhou o dia todo até a hora do almoco. Ele ficou conversando com a Cris sobre a vida, e eu fiquei caminhando um pouco a frente deles, maravilhado com os ensinamentos da Cris para o Peruano. Ela está muito inspirada mesmo e ajudou muito ao rapaz. Entao, chegamos a Triacastella e almocamos o menu do dia (churrasco), que estava muito bom. Depois do almoco, fomos atualizar o blog em um albergue onde encontramos brasileiros trabalhando. Acabamos ficando duas horas parados, contando o tempo do almoço e internet, e saímos de Triacastella quase 4h45 da tarde. Entao, seguimos pela carreteira em direçao a Samos, mas logo entramos em uma trilha maravilhosa que ficava cada vez mais linda a medida que o sol se punha. Toda colorida com amarelo, verde e laranja, como as cores do outono. Porém, a cidade de Samos nao chegava nunca e creio que foi o dia em que ficamos mais tarde caminhando. Chegamos no mosteiro de Samos para dormir por volta das 19h e caminhamos um pouco a noite na trilha e tivemos de usar a lanterna, mas a alegria de encontrar os amigos no final do dia é uma experiência legal e recompensadora. Tenho saudades de todos do Brasil e penso muito nas crianças, em como a experiencia que estamos vivendo pode também ajudá-los.

Saudades e beijos a todos

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

24º Dia - 30/10/2008


Villafranca del Bierzo ao Cebreiro - 30,7 Km

Realizado - 649,20 Km

Para Santiago - 148,60 km


Esta etapa foi a que me trouxe maior apreensao. Entre os peregrinos é considerada a pior etapa ao lado da etapa dos Pirineus. Saímos do refúgio por volta das 9h10 com um frio congelante. Para piorar, quando estávamos quase fora da cidade lembrei-me que havia esquecido meu cajado. Voltamos busca, pois a etapa seria de subida e precisaria dele. Estava vestindo todas as minhas roupas da mochila, mas mesmo assim foi difícil de aguentar o frio. Para ajudar choveu o dia todo, alternando alguns momentos de sol, o que nos presenteou com um lindo arco-íris. Caminhamos junto com uma holandesa, porém sem falar muito coisa, pois a etapa toda era subida. Estava sempre esperando chegar ao pé do morro que levava ao Cebreiro. Gente, vcs nao tem noçao como caminhamos, sempre subindo. Cheguei a falar para o Igor que isso parece coisa de gente louca, eheheheh, para quem no vive o caminho pode ser que nao entenda. Finalmente chegamos, por volta das 15h30, ao pé do morro. Começamos a subir por uma trilha toda lameada, que lembrava o filme do Robin Wood ou do Patriota. Chegamos a um povoado (Fava) , depois de 1h30 e eu estava me achando, dizendo par ao Igor que nem foi tudo aquilo que falavam quanto a dificuldade. Restavam apenas 4 Km de Fava a Cebreiro. Nossa fiquei super feliz e aliviada, porém foram os 4 Km mais duros. Caminhávamos muito por uma íngreme subida com lama até a canela, desviando dos excrementos de animais (vacas, gabritos, cahorros e outros sem identificaçao), com um frio (pq havia neve), com uma chuva fina e gelada, caminhando entre as nuvens, que impediam de enxergarmos mais do que 1 m a frente. Caminhamos 2 Km e eu entreguei os Bets....disse para Igor que nao aguentava de frio e dor nas costas e precisava parar. Para um peregrino párar faltando apenas 2 km é uma burrice, mas neste caso foi uma parada revigorante. Quando voltamos a caminhar subi morro acima como um cachorro que corre atrás da linguiça, td que queria era chegar no albergue para me abrigar e sair do frio. Cegamos no Albergue por volta da 18h15 (noite). Fomos muito bem recebidos em um albergue bem estruturado, bastante quente, com calefaçao. Deitei na cama que nao queria saber de nada. Porém neste povoado há exposto um milagre semelhante ao milagre de Lanciano, entao disse para Igor que nao poderia deixar de ir a Igreja para comtemplar tal milagre. Assim fizemos. Saímos junto com a Holandesa, um dinamarques e uma alema. Eu gritava como uma louca (Brasil eu te amo!!!), pq precisava extravasar o frio que sentia. Tudo que nao esperava era encontrar no caminho neve, porém sentia-me feliz por viver isso pela primeira vez na vida. Vimos o milagre, com emoçao e na volta para o refúgio paramos para jantar e voltamos correndo para dormir. Igor dormiu sem camisa e passou muito calor, para vcs terem uma idéia do efeito da calefaçao. Eu consegui dormir sem cobertor, ehehehehh.

Em fim, foi um dia cheio de alegrias, sofrimentos e realizaçoes. Adentramos à província da Galícia, onde há as mais lindas paisagens da Espanha. Ao final deste dia estávamos com um sentimento de vencer algo que, devido as condiçoes climáticas, parecia intransponível. Daqui para frente é só alegria, esperar chegar a Santiago.

Santiago aí vamos nós.......

23º Dia - 29/10/2008


Ponferrada a Viafranca del Bierzo - 22,9 Km

Realizado - 618.50 Km

Para Santiago - 179,30 Km


O caminho hoje foi diferente. Estava muio confiante e segura ao lado do Igor. Durante a noite eu acordava e me dava conta que o Igor estava dormindo na cama a cima da minha, isso me trazia uma alegria interior muito grande, agradecia Deus por ter nos presenteado com estes momentos que estaríamos vivendo juntos. Caminhamos juntos e muito felizes, conversando sobre tudo qu aconteceu por aqui e também no Brasil. Colocamos o papo em dia. Igor queria tirar fotos de tudo. Eu nao, já estou cansada de fotografrar td, entao passei pro o Igor a máquina e disse para registrar o que quisesse. Saímos do refúgio de Ponferrada por volta das 8h30. Durante o caminho fui mostrando para o Igor as diversas marcaçoes do Caminho. Chegamos no refúgio por volta das 16h, pq pegamos um caminho que foi marcado por um povoado que nao fazia parte do roteiro do caminho, entao tivemos que caminhar mais 4 Km, fizemos neste dia um total de 26, 9 Km. Igor foi bem, nao teve bolhas, e fomos direto para o refúgio Ave Fenix, muito tradicional no caminho, por ter um hospitaleiro chamado Jesus Jato, que acolhe os peregrinos muito bem. A noite participamos de uma ceia preparada pelo próprio hospitaleiro que depois realizou uma oraçao e uma cerimônia (foto) para espantar os "maus espíritos do caminho"(bolhas, tendinites, desânimos e qualquer outra coisa que impeça o peregrino de chegar ao final do caminho). Em fim. Este dia estava muito frio. Tive que lavar as minhas roupas, porém a secadora do refúgio pifou bem na hora de secar as roupas. Conclusao: estava naquele frio sem roupas quentes para realizar o caminho no dia seguinte. O hospitaleiro entao colocou o varal com as roupas sobre o fogao a lenha, secando as roupas e as impregnando com cheiro da fumaça. Tudo bem, fiquei bem feliz por ter roupar para enfrentar a etapa do Cebreiro, onde estava nevando.

O dia foi muito especial, pois dividir o camino com o Igor deu um novo ânimo para minha caminhada.

Saudades de todos

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

22º Dia - 28/10/2008

Molinaseca a Ponferrada - 6,8 Km

Realizado - 595, 60 Km

Para Santiago - 202,20

Hoje a etapa foi curta, pois precisava esperar o Igor que estava chegando. Foi um dia de muita ansiedade. Cheguei às 10h em Ponferrada e fiquei fazendo hora para entrar no refúgio que abriria apenas às 15h.
Aqui também há pessoas boas nos bares. Entrei em um bar recomendado pelo hospitaleiro Alfredo, do refúgio anterior, e pedi a atendente para deixar minha mochila para poder conhecer o Castelo dos Templários e toda a cidade. Gentilmente ela aceitou. Fiquei bastante tempo no bar e fui muito bem acolhida. Já passei por muitos locais em que fui bem tratada. Em fim.
Cheguei no refúgio, fui tomar banho para me esquentar, pois estava muito frio. Nunca passei tanto frio na vida. O frio daqui é diferente. Gente, ainda tomei banho frio, pq a caldeira nao esquentou a água. Quase morri de tanto bater queixo.
No final da tarde fui a um Cyber para poder atualizar o blog e fiquei esperando dar a hora de buscar o Igor. Saí correndo para a rodoviária. Ônibus ainda atrasou. Tinha uma mistura de sensaçoes. Ansiedade, alegria. Quando o ônibus chegou e vi o Igor, parecia uma criança. Ele desceu do ônibus e correu para mim. Nos abraçamos e choramos de alegria. Ficamos alguns minutos abraçados, nos tocando, como se quisessémos ter certeza que estávamos vivendo isso. Foi um sentimento de reencontrar algo que parecia perdido. Nao sei dizer. Senti uma alegria por viver este casamento tao abençoado. Agradeço a Deus. Ficamos tao entretidos um no outro que o ônibus quase partiu com a mochila do Igor. Eheheheh
Em fim. Estamos juntos e muito felizes. Na próxima postagem contaremos como foi o 1º dia de caminhada.
Saudades, obrigada a todos que torcem e oram por nós

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Cruz de Ferro



Recados:
1 - Cristiane, nesta bandeira está tua medalha, com ela minhas oraçoes para que vc encontre seu caminho, que tenho certeza que é um caminho de felicidade. Continue confiando em Deus amiga, tenho certeza que vc encontrará o busca, será muito mais feliz do que já foi até aqui.
2 - Mari e Ericson - todos os dias lembro de vocês. Tem sido muito útil a calça da Mari que tem me aquecido e a faixa de orelha que tem trazido conforto durante o caminho. Gente tá muito frio por aqui. Pelas previsoes irei ver neve. Obrigada amigos;
3 - Cris (peregrina) - tenho também lembrado de ti. Todos os lugares por onde passo fico pensando que por aquele chao vc também passou. Deus abencoe teu caminho de luz.
4 - Queridos amigos que tem orado por mim e pela minha família. Obrigada. Tenho sentido muto forte todo o carinho e amor que vem daí.
5 - Tata e Mano, cada passo em direçao a Santiago e a aproximaçao de nosso reencontro. Estou ansiosa por abraçá-los, filhos amados....
6 - Ni, obrigada por ser uma essa presença de segurança para meus passos. A mae se foi, mas deixou esse grande bem para nós 4. Nossa uniao. Amo vc.
7 - Sil - obrigada por ter assumido este papel de ser mae de meus filhos por estes dias. Estou segura de que estao bem com vc.

21º Dia - 27/10/2008



Foncebadón a Molinaseca - 20,2 Km


Realizado - 588,8 Km


Para Santiago - 222,40 Km



(Esquerda para direita - Julian (francês); Tiago (médico brasileiro); Mario (Curitiba pai) e Guilherme (filho))


Este dia foi bastante atípico. Foi o dia que em que me separei dos meus amigos queridos, meus anjos até este dia. Todos sabiam que teria que esperar e tardar uma etapa para poder esperar o Igor em Ponferrada. Enquanto meu grupo seguiria a Ponferrada, neste dia eu pararia em algum pueblo anterior. Entao todos seguimos juntos até a Cruz de Ferro. Este é um lugar muito especial. Nele deixamos todos os pedidos, oraçoes, sonhos, desejos, expectaivas, em fim, toda nossas vidas. Subi a cruz de Ferro com a bandeira do Brasil para deixá-la, entregando meu povo, meus amigos e todos os seus sonhos. Pedi a Deus bençaos para nossa naçao. No dia anterior preparei a bandeira para deixá-la na Cruz e costurei na bandeira a medalha de Santo Expedito que minha amiga Cristiane (amiga do trabalho) pediu para entregar no caminho. Senti uma emoçao muito grande, pq fiquei pensando naquele monte de pedras deixadas por todos os peregrinos que por aqui passaram. Há uma tradiçao que deixá-se na cruz de Ferro uma pedra trazida do país de origem. Eu esqueci a minha, mas deixei a bandeira do Brasil que trouxe.
Quantas vidas aqui trazidas, quantos sonhos, quantos peregrinos com suas vidas mudadas. Foi um momento de entrega. Momento também de desapego, pois foi o último contato que tive com meus amigos anjos.
Segui sozinha um caminho duro, pois descemos mais de 1000m, completamente na vertical, abaixo de chuva, sobre pedras escorregadias. Cheguei a Molinaseca às 14h30. Fui a primeira peregrina a chegar, pois fiz apenas pequena de 20 km. Foi um dia de descanso e expectativa para a chegada do Igor.

20º Dia - 26/10/2008

Astorga - Foncebadón - 27 Km

Realizado - 524,80 Km

Para Santiago - 266,20



Este foi um dia muito especial, pois nesta etapa enfrentaria os perros (cahorros) do caminho. Eheheh. Em muitos livros que li relatavam fatos ocorridos com peregrinos ao se depararem com os cachorros que existiam nesta regiao do caminho. Falei para todos os meus amigos peregrinos sobre meu temor dos perros, entao foi uma expectativa para todos, chegar a Foncebadon. Esteé um pueblo que está ressurgindo. Há muito tempo estava abandonado, apenas restavam ruínas, sendo refúgio apenas para perros sem dono. Entao segui meu caminho de Astorga a Foncebadón, cheia de expectativa e um pouco de temor. Segui sozinha o caminho todo. Nada de perros, a nao ser um sedento por água, quase a beira de sucumbir. O cachorro branco, grande, até bonito, mas descia a ladeira com a língua na pata. Parecia que nao tomava água a dias. Foi um dia feliz pois recebi uma força divina, muito além das minha expectativas. Este dia iniciei com dor de garganta, resfriada, com dores no joelho, quadril e nas bolhas. Pra falar a verdade nao havia um lugar em meu corpo que nao doesse. Estava meio tristonha por estar sola, já começa a andar como um rato (como dizia meu amigo peregrino Máximo), quando comecei a pensar em Jesus. Foi o máximo. Muito especial, pq comecei a contemplar Jesus peregrino, como foi sua vida, seus desafios, em fim. Entao lembrei-me de Jesus sofredor, que nao maldice suas dores, tao pouco suas chagas, que nao se entregou. Foi entao que me ocorreu que em meu seguimento a pessoa de Jesus sempre busquei o Jesus misericordiosos, buscava isso pra mim. Jesus bom, buscava isso pra minha vida. Jesus acolhedor, buscava também ser assim. Em fim, mas nunca busquei viver o Jesus sofredor. Afinal, quem na vida quer sofrer? Foi entao que veio em mim muito forte poder assumir meu sofrimento físico com coragem, sem reclamar, sem esmorecer, mas viver td com coragem. Gente, nao sei explicar, mas quanto mais desejava também seguir a Crsito no sofrimento, mais Ele se manifestava para mim, mais forças tinha, mais rápido caminhava. As dores, a gripe, o desânimo nao mais me impediam de seguir com coragem. Foi um momento muito especial para mim, pq muito mais do que seguir a Cristo naquilo que viveu de bom, o grande desafio é podermos ter coragem de erguer nossas cabeças quando pensamos que nao temos mais forças. É no sofrimento que mais podemos manifestar o Cristo que está em nós. Pode parecer loucura, porém senti-me muito feliz por poder seguir a Cristo em meu pequeno sofrimento, nada comparado ao que Ele viveu, e viveu com muita, muita coragem.

Poder viver a alegria interior mesmo quando nao está bem fisicamente é uma experiência especial.

Deus, obrigada por estar manifestando seu amor todos os dias, em todas as horas e momentos.

domingo, 26 de outubro de 2008

O meu amado fala e me diz:

"Levante-se, minha amada,
Formosa minha, venha a mim!
Venha: o inverno já passou!
Olhe: a chuva já se foi!
As flores florescem na terra,
o tempo da poda vem vindo,
e o canto da rola já se ouve em nosso campo.
Despontam figos na figueira
e a vinha florida exala perfume.
Levante-se, minha amada,
formosa minha, venha a mim!
Pomba minha que se aninha nos vãos dos rochedos
na fenda dos barrancos...
Deixa-me ver a sua face, deixe-me ouvir a sua voz
pois a sua face é tão formosa
e tão doce é a sua voz..."

Cantares 2, 10-14

sábado, 25 de outubro de 2008

19º Dia - 25/10/2008

Villar de Mazaride a Astorga - 32 Km
Realizado - 497,80
Para Santiago - 293,20

Nao tenho muito que contar no dia de hoje. Como foi uma etapa longa cansei muito e novas bolhas surgiram. Isso é normal para um peregrino. Caminhei o dia todo sozinha, como ontem. Por um lado é bom, pois posso refletir mais, porém quando fico muito instropectiva fico mais lenta, isso faz o corpo sofrer mais, pois levo mais tempo para completar a etapa. Hoje cheguei ao refugio por volta das 17h45. Exausta! Ainda fiz uma das minha topeirices: faltando 4 Km para chegar a Astorga, como enxergava a cidade pensei que estava próximo, entao resolvi passar no supermercado do pueblo anterior para nao precisar sair mais do refúgio, pois queria descansar. Isso era por volta das 16h30. Gente, ninguém merece, ter caminhado o dia todo, 28 Km, e ainda carregar uma sacola com comprinhas de mais ou menos 2,5 Kg. Durante os quatro Km nao conseguia me ajeitar, o caminho foi ficando cada vez mais penoso, a mochila mais pesada. Meu Deus, a cidade criou pernas...eu andava e ela também, mas em sentido contrário ao meu...eheheheh
Em fim, cheguei bem, e muito feliz, pois meus amigos estavam no albergue, inclusive Mario (pai) e Guilherme (filho) que nao nos víamos desde de quinta.
Foi um bom dia, com muita contemplaçao e reflexoes, mas isso conto em outra postagem.
Falta apenas 3 dias para encontrar o Igor, que alegria....
Saudades de todos

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

18º Dia - 24/08/2008

Arcahueja a Villar de Mazaride - 31 Km
Realizado - 465,80 Km
Para Santiago - 325,20 Km

Entao, hoje acordamos todos atrasados. Levantamos às 8h. Saímos do refúgio às 9h, horário considerado tarde para um peregrino. Tudo bem, valeu a pena, precisávamos descansar. Hoje a estapa foi longa e demoramos um bocado para cumprí-la, principalmente pq tivemos que passar por Leon, um cidade grande. Sempre no perímetro urbano levamos mais tempo, pq temos que estar mais atento as setas que desaparecem no meio das grandes cidades. Nos campos os sinais sao sempre mais evidentes. Paramos para visitar a Catedral de Leon, que também é líndissima. Depois envio fotos, pq nos refúgios nem sempre há possibilidade de conectar um pen drive. Em fim, seguimos o dia como sempre: caminhando, caminhando, caminhando....
Estou com tendinite, isso tem me prejudicado um pouco a caminhada. Tenho que ir na base de 3 Km/h, o que me fez chegar no refúgio somente às 17h55, enquanto ontem, para realizar o mesmo percurso cheguei às 15h45. Td bem, faz parte do caminho esses contra-tempos. Tiago e Julian, meus companheiros desde o 2º dia, seguem sempre mais a frente, mas quando percebem que estou muito para trás, me esperam...estao sendo meus anjos. Já tive muitos anjos por aqui: Isidro, Maria, Mario, Tiago, Julian, Panaiota, Michel, Joaquim, Otávia, Michele, Máximo e muitos outros. Por aqui o que nao falta sao anjos.
Amanha terei que fazer novamente 30 Km, apesar de querer diminuir, porém o caminho nao permite, pq ou faço 14 km ou 30. Se fizer 14 km terei que fazer muito mais nos outros dias para poder encontrar Igor na próxima terça-feira (28/10), entao me resta seguir amanha devagarinho.
Estou feliz, muito feliz, creio que estou vivendo na Graça. Isto me basta, nada mais quero pedir...

Decolores no Caminho

Gostei muito da postagem escrita abaixo, ela me recordou algo que havia esquecido de dizer. Encontrei por aqui também Cursilhistas, caminharam comigo e recordaram durante o caminho a música "DECOLORES". Mario (Curtibano pai), durante o caminho ouviu eu falar para outro peregrino que participava do Movimento de Cursilhos de Cristandade. Quando ouviu disse-me que fez o Cursilho e que durante todo aquele dia foi lembrando da música Decolores. Foi um momento feliz. Ele disse-me que lembrava muito claramente do Zétola e ficou muito feliz por saber que eu o havia conhecido. Recordamos da pessoa especial que Zétola foi. Daí pra frente fomos juntos, pelo caminho cantando Decolores. Um dia depois, Máximo (espanhol), veio pelo caminho cantando Decolores, quando aproximou-se de mim comecei a cantar também, entao fomos juntos cantarolando, em espanhol e português. Em espanhol a letra é igualzinha a que cantamos no Brasil, porém tem alguns trechos em que a melodia muda um pouco. A música Decolores tem sido minha companheira no Caminho..

Depois descobri que Tiago (médico sem fronteiras) também é um Católico, que já foi muito praticante. Participou 2 vezes de missoes pela regiao do Peru. Quase se consagrou como Leigo em um movimento Católico chamado Movimento de Vida Crista, muito forte na regiao do Rio. Julian (francês) também é Católico. Fomos todos a missa em Carrion de los Condes, onde partilhamos momentos de espiritualidade muito bonitos e fortes. Olhei para todos os peregrinos presentes e senti-me muito feliz por partilhar com todos a missa. É muito bom poder estar com pessoas que comungam da mesma fé...

Decolores


Do PPS enviado pela Yanne hoje (muito obrigado!)

Si estás en gracia, no temas, con Cristo todo es posible, hasta lo imposible. Lo que importa es tener fe, pero fe verdadera, evangélica, no te pierdas el gozo de ver a los hermanos en Cristo y a Cristo en los hermanos

Estar "de colores" significó y significa estar llenos de la Gracia de Dios, vivir con Él, comprometemos con Cristo y con el hermano.


Quizá la frase de Fray Luis de Granada explica bien lo que todos los cursillistas sentimos con el "De Colores": "La Gracia es aquella vestidura de muchos colores, porque de la gracia proceden los colores de todas las virtudes".

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Liberdade interior

Hoje o dia foi bastante reflexivo. Tenho descoberto muitos motivos pelos quais estou aqui. Um deles seria minha busca espiritual, que sempre foi muito intensa. Estou feliz, pq minha inquietude espiritual sessou. Tenho sentido muito forte a presença de Deus, que tem me dito muitas coisas e me questionado em muitas coisas, através de td que tenho vivido, através das pessoas que tem deixado suas marcas em mim, em fim...Porém hoje ficou muito claro pra mim que um dos grandes aprendizados é o exercício do desapego. Desapego das coisas, de mim mesma, dos amigos, mas o mais difícil tem sido o desapego em relaçao a minha família.
Há muitos anos tenho procurado viver os ensinamentos de Cristo, através dos exercícios espirituais dos jesuítas. Nesta esporitualidade buscamos, no dia-a-dia, exercer a liberdade interior em relaçao a td: saúde, coisas, pessoas, a nós mesmos. Aqui tenho vivido esta prática na pele. Desapego pessoal foi o primeiro exercício. Temos que sair de nós mesmos para ajudar os outros peregrinos que precisam de nosso apoio; Desapego da saúde, dia-a-dia, nao importa as dores, bolhas, oq ue for, temos que seguir, com alegria interior, que provém do próprio Deus. Agora estou tendo que exercer a liberdade em relaçao as pessoas. nao tem sido fácil. É uma prova dura, pq todos os dias sinto uma saudade que nao cabe em meu peito. Esta é a grande batalha que estou vivendo. Sinto muita falta dos meus amigos, principalmente da minha família, meus filhos. Penso todos os dias e as vezes acho que nao vou aguentar.
Lembro-me de Cristo, que Deus está comigo, e quanto é importante manter minha alegria interior mesmo na saudade. Estou feliz pq Deus tem me permitido viver toda essa experiência. Nao sou mais a mesma, isso tenho certeza.
A magia do caminho está em poder viver no mais puro desapego interior, assim descobrir, na prática, saindo da teoria, que a felicidade tá na simpicidade do dia-a-dia. Isso parece a coisa mais óbvia do mundo, mas o mundo, os egos, os apegos e td mais nos impedem de viver a plena felicidade.
Pensava que era feliz, hoje tenho a mais absoluta certeza...
Nao há como ser o mesmo depois de passar por uma experiência dessas....
Aqui tive que me abandonar completamente em Deus, esperar dia-a-dia Nele....
Cada dia Ele me apresentou um novo jeito de ver as coisas, pensar, me alegrar, compreender o outro...

17º Dia

Burgo Ranero a Arcahueja - 30 km
Realizado - 434,80
Para Santiago - 356,20

Hoje levantamos com um frio como nunca vi. Saímos às 8h15 da manha, com geada nos campos e ao fundo uma paisagem linda: montanhas cobertas de neve. Nevou em Madrid, por aqui o frio é intenso. Hoje tive que segurar um pouco o passo, nao consegui caminhar todo o tempo com Tiago e Julian, pq eles vao em um passo muito forte, na base de 5 Km/h. Para seguí-los tenho que fazer algum esforço, como estou com um pouco de dor no tornozelo esquerdo achei mais prudente, para evitar a tendinite (muito comum entre os peregrinos), pegar mais leve.
Nosso grupo hoje novamente se desfez. Máximo (espanhol) seguiu para Leon, onde termina sua etapa do caminho. Mario (Curitibano pai) e seu filho, Guilherme, ficaram em um povoada antes. Eles sao muito rápidos também, acredito que nos alcancem amanha. Continuamos eu, Tiago (brasileiro médico) e Julian (francês).
Quando chegamos em Arcahueja estávamos bem e pretendíamos seguir para Leon, mais 8 Km, porém chegaria a Ponferrada no domingo, quando preciso chegar na terça, para esperar o Igor. Depois que se passa metade do caminho consegue-se realizar etapas mais longas com maior facilidade. Porém as dores nunca nos deixam.....
As saudades sao constantes, isto é o mais difícil do caminho...

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Gratidao

Todos os dias quando abro o blog e leio td que me escrevem uma nova força toma meu ser. Nao há como explicar o que acontece. Sinto a presença de todos, sinto-me protegida, acompanhada, amada por todos. A todos meus queridos amigos, leio cada linha com atençao, cada uma delas me trás novas emoçoes.
Se pudesse trazer cada um de vocês para viver este caminho os traria. É duro, difícil, porém nao tem preço que pague o que se vive aqui. Tudo que é maravilhosos desejamos aqueles que amamos.
Há cada etapa vencida nos aproximamos de Santiago e uma sensaçao de aproximaçao com o sagrado vai tomando nosso ser. Há uma alegria pela conquista, mas ao mesmo tempo uma saudade de tudo que se vive aqui.
Amo todos vocês. Obrigada, obrigada por tudo, pela força, torcida, amor, oraçoes.
Serei eternamente grata a todos que me ajuaram a conquistar o que estou vivendo. Aos meus parceiros do caminho que me deixaram, aos que estao comigo, ao meu amor que ainda virá, a todos que me acompanham.
Gratidao, é o que sinto...
Saudades

16º Dia

Terradillos de Templários - Burgo Ranero - 31 Km

Realizado - 404,80 Km

Para Santiago - 386,20 Km



Hoje foi um dia muito feliz, também muito frio. Saímos do refúgio com tempo bastante úmido, ainda estava noite, e o frio era intenso. Porém saímos com passos firmes de quem sabe onde quer chegar. Hoje andamos em 6: eu, Tiago (brasileiro médico), Guilherme (Curitibano filho), Mario (Curitibano pai), Julian (francês) e Máximo (espanhol).
Hoje decidi desde que levantei que nao ficaria para trás, nao seria lenta, mas me determinei em acompanhar Tiago e Julian, únicos que restaram comigo do grupo que se encontrou no 1º dia da caminhada. Fiquei impressionada como rendeu o dia de hoje. Uma etapa que seria dura, por ter 31 Km, foi a melhor, mais tranquila. Chegamos a fazer 8 Km em 1h20, tempo que levava em meus períodos de treino em Curitiba para realizar apenas 6 Km. Chegamos ao refúgio em Burgo Ranero por volta das 15h20, sendo que saímos às 8h da manha e fizemos 3 paradas para comer.

Em uma dessas paradas aconteceu uma coisa muito engraçada: daquele monte de comida que tive que carregar ontem pra fazer um pick nick que nao aconteceu, sobrou sanduíches para hoje. Entao guardei alguns para o decorrer do caminho. Quando chegamos no restaurante para comer algo, meus amigos pediram o que queriam e eu pedi uma Coca-cola. Sentei com eles e fui comer meu sanduíche. O dono do restaurante disse-me que nao poderia comer dentro do restaurante, pq nao comprei lá. Eu disse: td bem, vou-me para fora. Ehehehe, naquele frio. Nao contente, o homem pediu a Julian para me dizer que também nao poderia ficar em frente ao restaurante. Eu disse: td bem. Entao sentei-me em um lugar ao lado da porta do restaurante. Comi meu sanduíche com a Coca, depois entrei no restaurante, ajeitei-me, usei o banheiro, e quando saímos disse ao homem: muchas gracias. Ele gentilmente respondeu: Hasta luego.
Nao senti-me ofendida, mas entendi a posiçao do dono do restaurante, apesar de nao ter sido muito humana e tao pouco inteligente, pq afinal eu era uma peregrina cliente, que poderia indicar seu establecimento para outros, caso fosse bem tratada. Fiquei mais preocupada com o constrangimento dos meus amigos do que o tratamento dispensado a mim. Tiago disse-me: tem horas que dá vontade de levantar pras dez. Disse-lhe entao: pra que? Quebraríamos toda a espiritualidade que estamos vivendo. E ele concordou.
Essas coisas acontecem aqui no caminho. Há lugares que somos muito bem tratados, há outros que nos tratam muito mal. Por acaso o caminho da vida é diferente?

Quero dizer que todas as oraçoes de vocês tem tidfo muito efeito em mim. Hoje me senti tao forte, uma guerreira no caminho. Fizemos os 31 Km em um tempo menor que normalmente levava para fazer 26 Km.

Nao há como explicar a açao de Deus.

Dia 28 de outubro o Igor me encontrará. Tenho aguardado este dia com ansiedade. Meus amigos também esperam com alegria. Inclusive me ajudaram a acertar as próximas etapas para chegar em Ponferrada no mesmo dia que o Igor. Chegaremos juntos, entao o Igor poderá conhecer os meus anjos no caminho. Agradeço a Deus pela vida de cada um deles.

Saudades...

terça-feira, 21 de outubro de 2008

15º Dia

Carrion de Los Condes - Terradillos de Templários - 26 Km
Realizado - 373,80
Para Santiago - 417,20
Este trecho foi muito chato. Uma reta infinita, plana, porém nao se via nada. Tudo que víamos era horizonte. A primeira cidade que chegamos depois de Carrion ficava a 17 Km. Por causa disso, no dia anterior me enchi de suprimentos, pensando em mim e nos meus companheiros. me ferrei. Pq levei mais 1,5Kg nas costas e todos se disssiparam. Os mais rápidos sumiram, e os que estavam comigo todos recusaram minha oferta. Conclusao: Carreguei 1,5 kg por todo oc aminho. Queria morrer. Eheheh....
Tudo bem. Passei o dia ganhando o peso que perdi. Pq tudo qu queria era comer tudo pra diminuir o peso. Eheheh
Cheguei no albergue por volta das 15h. descansei um monte. O estava precisando.
Amanha será um dia duro. Está chovendo, fazendo frio e temos pela frente 31 Km.
Como cada dia há uma nova surpresa, veremos

Saudades

Fotos do Jantar no Albergue das monjas.


segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Nenhum Recado pra Mim?

Eu também estou com saudades!!

14º Dia

Boadilla del Camino - Carrión de los Condes - 26 Km

Realizado - 347,80

Faltam para Santiago - 443,20



A caminhada foi tranquila. Entramos em umt recho de reta, segue toda a vida e é plano. Paramos bastante, e por isso chegamos tarde, já eram 16h30. Ficamos hospedados no Albergue administrado por monjas Agustianas. Super acolhedoras.

Nao há como explicar o que vivi aqui neste albergue. Uma presença de Deus tao forte que nao há como explicar. O jantar foi organziado através da partilha do que cada peregrino tinha. Todos entregaram para as irmas o que tinham, e todos juntos organizaram o jantar. Com saladas de diferentes tipos, paes, sopas, macarrao, muito vinho e com sobremesa. No ar pairava muito amor, pq a partilha estava presente.

As irmas, depois do jantar, fizeram um momento de congregaçao. Reuniram todos os peregrinos, independente de religiao, língua, crença, tudo para agradecerem e partilharem momento de espiritualidade. Havia 2 intépretes (inglês e francês), pq as Monjas falaram em espanhol. Foi tao lindo, pq uma das monjas (peruana), falou sobre fé. Disse que a fé é um caminho que tem que se percorrer, com muito amor, abertura, determinaçao. Disse que Sao Tiago viveu esta fé, foi chamado, e viveu seu caminho, assim como cada um de nós em nossas vidas. Mais que tudo, Sao Tiago descobriu que este caminho é Cristo, que segue conosco, a todo tempo. E mais, que Cristo nao apenas está conosco neste árduo caminho da vida, mas que carregar para nós as pesadas mochilas interiores de cada um de nós. Nao preciso que estava chorando. Claro...

Foi tudo muito especial. Aqui, é assim. Há muitas coisas árduas que vivemos. Nao é mole. Porém sempre no dia há algo que acontece que renova nossas força.

Saudades de todos....

Obrigada pelas palavras de incentivo....tem sido muito importantes para mim

RECADOS

Maria - Os regalos que me deu estao sendo muito úteis. Já usei o lenço e a meia. Muchas Gracias, amiga. Que bom que enviou a letra do nosso hino de chegada a Burgos, pq já havia esquecido.
Rosangela (fisio) - Obrigada pela cobertinha que me fez trazê-la. Tem me esquentado muito nas noites frias. E a faixinha tem me ajudado no alongamento,
Isidro - O pin que vc me deu nao me pertence mais, há muitos outros peregrinos mais lentos que eu. nao passei o pin para frente pq foi um regallo que tu me deu, entao faz parte do meu caminho;
Jorge - Obrigada pelas mensagens que me manda no celular. Os grampos me regallou estao sendo muito úteis;
Queridos amigos - Leio todas as postagens que me escrevem. Com muita emoçao. A cada leitura que faço minhas forças sao renovadas. Obrigada por me ajudarem com tanto carinho;
Jane peregrina - Li sua postagem com emoçao. Nossos caminhos estao muito ligados, saber que estas me acompanhando renovou minhas forças;
Igor - Te amo muito, espero cada dia pela tua chegada. Aqui tá todo mundo te esperando e loucos pra te conhecerem;
Silvana - Obrigada pela amiga que tem sido. Pelo cuidado que tem tido com meus filhos, que sao td que tenho de mais precioso, juntamente com Igor. Vc faz parte deste caminho, sabes disso;
Tata e Mano - mamae está com muita saudades, muitas mesmo. Amo vcs e espero ansiosa por vê-los novamente. Estou muito orgulhosa pela coragem que têm demonstrado. Por partilharem este sonho comigo. Tenho certeza que vocês saberao correr atrás dos sonhos de vocês também.

Estou sempre um dia atrasa com minhas postagens, pq q Internet por aqui nao é tao acessível quanto eu pensava. Hoje terminei meu 14º Dia.

13º Dia

Hontanas - Boadila del Camino - 29 Km
Realizado - 321,80 Km
Para Santiago - 469,20

Hoje foi muito mais leve. Apesar das dores caminhei mais tranquila, com mais paradas. Caminhos eu, Otávia (americana filha de brasileiros) e Mario (Curitibano). Ao final Otáviajá estava cansada e demonstrava abatimento, entao eu e Mario começamos a marchar e cantar músicas de soldados. Terminamos o percurso assim. Tudo isso para poder dar mais ânimo para Otávia, pq afinal, aqui é isso, todos por um. Acabamos descobrindo que Otávia estava se irritando, porém no final disse-nos que fomos seus anjos. Ficamos em um refúgio muito especial. O refúgio do Dudu. Ele é um espanhol que ama o Brasil. Em seu refúgio há coisas do Brasil espalhadas por todo canto. Neste final de ano irá passar o Natal em Curitiba e prometeu visitar-nos. Se tiver oportunidade apresento Dudu a todos que desejarem, pq vale a pena conhecê-lo. Fui para no refúgio do Dudu indicado pela Cris, que fez o caminho. Ficamos todos muito a vontade, senti-me bastante acolhida. Foi um dos melhores refúgios que fiquei. O âmbiente propicia descontraçao. Td de bom, terminei o dia muito feliz. Com sensaçao de ter comprido td que me propus, estando bem emocionalmente e fisicamente. Nada como um dia após o outro.

domingo, 19 de outubro de 2008

12ª Dia

Burgos - Hontanas - 30,9 Km

Realizado - 292,80 Km

Para Santiago - 498,20 Km



Com a despedida de Maria novamente encontrei-me sozinha. Para sair de Burgos pela manha contei com ajuda de Tiago (brasileiro) e Julian (francês) que estao realizando o caminho sempre próximos a mim, porém, como sao mais rápidos sempre chegam ao final da etapa antes. No decorrer do caminho voltei a encontrar Guilherme e Mario (pai), brasileiros de Curitiba. Guilherme, sempre com muita energia acompanhou Tiago e Julian, enquanto Mario gentilmente me acompanhou.
A etapa foi muito dura, penso que a pior até este momento. Quando estávamos já chegando ao final, faltando uns 10 Km, pensei que restaria apenas 2h30. Por volta de uma 16h já nao aguentava mais caminhar. No caminho havia subidas e descidas, nos últimos Km´s entramos em um retao que nao acabava mais. Olhavámos o horizonte e nao víamos cidade alguma. O sol estava alto, porém o vento estava muito frio, que a cada parada enrigecia nossos músculos. Comecei a ter dores musculares, o que dificultava a caminhada. Ao Final dos 30 Km nao conseguia mais caminhar. Foi duro. Para piorar, ao chegarmos no final da reta demos de cara com um povoado muito pequeno que fica no meio de um vale. Era por isso que nao enxergávamos nenhum pueblo. Quando mirei a cidade, no fundo do vale, e a descida que teria que fazer, tive vontade de sentar e chorar. Desci os últimos intermináveis 100 m de costas, para poupar os joelhos, quadril e pernas, que nao mais me obedeciam.
Quando cheguei no albergue, que também era um bar/restaurante, encontrei uma americana, filha de brasileiros, Otávia, que fala muito bem o português. Otavia quis me ajudar, porém eu nao queria nada, nem conversa, de tanto cansaço. Tudo que queria era uma cama.
Fui para o quarto, deitei-me e chorei. Chorei muito: de cansaço, dor e alegria, por poder estar em uma cama quentinha, onde poderia descançar.
Foi uma oportunidade incrível para exercer a liberdade orientada pela espiritualidade inaciana que tanto busco. Uma liberdade interior em relaçao também a saúde, podendo sentir-me feliz interiormente, mesmo que meu corpo estivesse tao abatido.
Foi um momento especial apesar de tudo, pq todos os peregrinos apareciam com uma soluçao para minhas dores. Um vinha com remédio, outro com gel, outro com massagem nos pés. Cuidados nao faltou. Há muita soliedariedade por aqui. Algo que nunca havia vivido antes. Nao há barreiras da língua para podermos nos ajudar. Senti-me amada e cuidada. Posso também exercer meu amor com eles também. Há respeito, companheirismo, amizade. Há muito AMOR.
Mario (brasileiro pai) me ajudou muito. Me ajudou a superar a pressao psicológica do desejop da chegada, a manter-me serena no propósito, a vencer a dor e sobretudo a recuperar a confiança. Serei eternamente grata a ele.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Jantar com o grupo


Todos os dias saímos juntos para jantar, o conhecido menu do Peregrino. Neste dia, em Atapuerca fomo a um restaurante muito especial, bem produzido, com boa música ambiente. Nem acreditamos quando vimos o restaurante, pq o povoado é pequeníssimo. Foi o melhor jantar que tive desde que cheguei aqui. Comemos como entrada salada mista, esta foi a melhor salada que comi em toda minha vida.
Este que está comigo é Tiago, brasileiro.

Determinaçao e preparo físico


O Caminho é para todos que querem com muita determinaçao, porém um mínimo de preparo físico torna o caminho menos penoso. Conheço pessoas que o enfrentaram sem nenhum preparo físico, porém, enquanto caminho, fico pensando quanto sofrimento nao teriam passado.
Eu particularmente considero que tenha me preparado para viver o Caminho. Como disse em postagem anterior, corro há três anos, tenho sido acompanhada por uma assessoria esportiva, mesmo assim sinto a força do caminho. Nao tenho dores musculares, mas tenho muitas dores nos pés (bolhas nao há mais), no quadril e ao final de um dia sentimos o peso dos exercícios.
Se me pergutarem o que precisa para realizar o caminho diria: muita determinaçao e preparo fìsico, para quem deseja vivê-lo com menos sofrimento físico. Nao é fácil.....
Aqui na Espanha a prática da corrida também é difundida. Durante a passagem pelos povoados tenho passado por muitos corredores. Isso me faz sentir saudades de correr. As vezes, quando cruzo com um corredor tenho vontade de deixar a mochila e sair correndo. Pena que faltá-me um par de tênis para fazê-lo.
Bjs ao meus amigos queridos da Trainer, saudades também dos nossos encontros no Barigui. Logo volto, com mais determinaçao.

Catedral de Burgos


Este é o momento em que cheguei a Burgos. Ao fundo esta a Catedral, muito londa. Para vocês terem uma idéia, quando se esta chegando na cidade a primeira coisa que se encherga sao as torres da Igreja. É fantástico. Hoje a noite irei na missa, rezarei por todos.
Saudades.
Amo vocês

11º Dia - Atapuerca - Burgos



Atapuerca - Burgos - 21 km


Realizado - 261,90 Km


Para Santiago - 529,10 Km



Esta é minha amiga Maria, uma espanhola especial que conheci em Grañon. Há 3 dias que caminhamos juntas. Depois que Isidro nos deixou, foi com ela que compartilhei o caminho. Claro que há outros peregrinos que seguem próximos a nós, mas sempre tem um que fica mais chegado. Nestes 3 dias tem sido Maria uma companhia muito rica. Hoje porém Maria acabou sua estapa do caminho e mais uma vez tenho que lidar com o momento da despedida. Isso é uma parte triste do caminho, porém necessária para o crescimento e aquisiçao da liberdade interior que tanto busco.
Hoje foi uma caminhada tranquila, uma etapa curta. Chegamos em Burgos às 13h30. Praticamente abrimos o albergue, fomos as primeiras a chegar, porém apenas eu me registrei, pois Maria parte hoje para Pamplona, sua cidade de origem.
Hoje estou um pouco chorosa, pq a saudade é tao grande que parece que nao vou conseguir aguentar. Enquanto caminhava pela manha, era umas 11h30 aqui, resolvi ligar pra casa pra ouvir as voz das crianças e do Igor, pq nao consigo me desligar deles. Pra piorar nao tem mais Isidro e Maria falando para mim: " É aqui que tem que estar, viva o agora, pq é isto que tem".
Amanha vou caminhar com Julian e Tiago (brasileiro médico), pra poder sair de Burgos, que nao é fácil. Cidade grande, pouco sinalizada. Sigo, dia-a-dia, com passos firmes de quem sabe onde quer chegar.....
Saudades!!!

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Jó, Servo de Deus, e seu Caminho

A história de Jó conta as angústias e preocupações de um homem que perdeu tudo o que tinha na vida, mas mesmo assim, não amaldiçoou a Deus. Esta semana estamos orando sobre este livro. E no final da história, Deus o questiona a Jó o porquê de tanta reclamação. Porquê não se reconhecer criatura e se entregar nas mãos do Criador? Caindo em si, Jó aceita a proposta de Deus e é abençoado tendo a sua vida de volta, e muito mais. Assim foi o caminho de Jó e assim também é o nosso caminho. Quando nos esquecemos que somos criados e que Ele nos conhece melhor do que nós mesmos, acabamos vivendo uma vida confusa. Porém, com os olhos em Cristo, que nos leva ao Pai, mesmo a maior confusão parece ter sempre uma saída fácil.

Isso se confirmou em nossa aula de Libras hoje, onde o Pe Wilson nos apresentou o vídeo da vida de um rapaz iraquiano que não tem os braços e se comunica através de sinais com os pés. E, como sempre, o Pe pergunta: "Ele está triste?". Não, respondemos nós, ele vive a sua vida com todos os benefícios que estão ao nosso alcance, dos quais muitas vezes reclamamos. A caminhada de cada um é dizer um humilde "sim" ao nosso Criador, na esperança de um dia vê-lo face a face.

10º dia - Tosantos - Atapuerca

Tosantos - Atapuerca - 26, 1 Km
Realizado - 240,90 Km
Para Santiago - 550,10

Espanha, 16/10/2008 - Quinta-feira

Hoje como todos os outros foi especial, pois encontrei 2 brasileiros, Mario (pai) e Guilherme (filho). Acreditem! São de Curitiba. Fiquei muito feliz por encontrá-los e poder voltar a falar português, sem ter que ficar me esforçando para entender o que me falam. É tudo de bom poder falar com naturalidade, sem ter que pensar. Até isso aprendemos a dar valor...
Hoje foi dia de ver novos rostos, fazer novos amigos.
Aqui é assim, despede-se de uns, porém encontrá-se outros, e nunca estamos sós.
Sinto-me bem e bastante confiante. Estou conseguindo vencer todas as etapas. Cada dia é um novo dia. Assim vivemos por aqui. Um dia de cada vez, seguindo a jornada de pouco em pouco, assim nao fica tao duro.
Saudades, segui aqui o meu caminho.
Tata e Mano eu os amo muito, sinto falta de vocês.
Igor, você é o amor da minha vida. Agradeço a Deus por tê-lo como marido. Te amo.

9º Dia - Grañon - Tosantos

Grañon - Tosantos - 21 Km
Realizado - 214,8 Km
Para Santiago - 576,20 Km
Espanha, 15/10/2008 - Quarta-feira

Este foi um dia especial. Momento de mudar de ciclo. Estou mais forte. As dores estão presente, mas estou mais resistente. Hoje Isidro nos deixou em Belorado, terminou a sua etapa no Caminho. Aqui há muitos espanhóis realizando o caminho, porém a maioria faz em etapas. As pessoas se vão, mas o aprendizado fica. Aqui divide-se vida, inquietudes, alegrias, td. Vive-se de forma muito simples, pq aqui não cabe milindres.
Como em Grañon, Tosantos também é um Hospital de Peregrinos, com isso também guarda toda hospitalidade acolhedora. Neste povoado também desejei estar e viver tudo de especial que trouxe-me. Também compartilhamos a ceia e pela manhã tivemos um pelo café da manhã, td preparado com carinho.
Após a ceia vivemos um momento especial de espiritualdiade. Compartilhamos uma oração na Capela que fica na parte mais alta da casa. O momento foi conduzido pelo hospitaleiro espanhol, que de forma amorosa explicou-nos como tudo aconteceria. Fizemos um breve momento de introspecção, através do silêncio, todos aquietaram suas mentes. Em seguida seguimos um pequeno folheto litúrgico redigido em várias línguas. Cada parte foi rezada em uma língua diferente, conduzida por um peregrino da respectiva nacionalidade. Cada um poderia seguir a oraçao em sua própria língua. A espiritualdiade presente uniu diversas nações em seus diversos idiomas. Diversos povos, unidos por um só Deus. Depois cada um leu, em sua língua, diversas oraçoes e pedidos que foram deixados por peregrinos que passaram por este pueblo. Foi um momento lindo, porque hoje oramos pelos peregrinos que passaram , com seus anseios e agradecimentos. Amanhã serão outros peregrinos que irão orar por nós. Daqui 20 dias nossas orações serão queimadas na Ermita de Tosantos (Igreja construída no alto do morro, encrustrada na Pedra), muito especial.
Cada dia um momento, uma nova vivência. A vida é isto, precisamos viver o agora, pois é o que temos. O passado já era, não podemos mudar. O futuro não sabemos o que será, mas o presente é o que podemos mudar, e sobretudo, viver!!!
Saudades, amo a todos...

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

8º Dia - Najera - Grañon



Najera - Grañon - 27.7 Km
Realizado - 193.80 Km
Para Santiago - 597,20 Km

Espanha, 14/10/2008 (Terça-feira)






Este foi um dia esperado. Há muito tempo queria estar no refúgio de Grañon, mencionado nos livros que li, pelos amigos que viveram o caminho. Em fim. Não houve decepçao, apenas confirmaçao. O lugar é mágico. O refúgio fica no campanário da Igreja. Durante o percurso caminhei mais sozinha. Preferi, para poder parar de conversar, pensar, explicar. Cheguei a Grañon sozinha. Antes de chegar no povoado, passei por uma cidade chamada São Domingo de La Calzada. Lá percebi que estou com uma alergia nos pés. Cada um fala uma coisa. Encontrei um homem, que trabalhava próximo do local em que estava vendo os pés. Ele logo aproximou-se e me levou no posto médico. Disse-me que seria alergia a produtos químicos que sao utilizados nas lavouras de uva, por onde passei. Não pude consultar, porque não tinha em mãos um documento que tinha que ter trazido da vigilância sanitária. Apesar de ter seguro saúde, não quis acioná-lo, não achei necessário. A pessoa que me ajudou chama-se Joshuá, é um homem do mundo. Disse-me que não tem lugar fixo, mora onde está em lugares onde a estação do ano é o verão. Hoje está na Espanha. Próxima parada na India, no ano que vem na América Latina. Uma pessoa muito diferente, na qual gostei muito de conhecer. Foi muito gentil comigo. Ao chegar em Grañon, conheci novos amigos. Um filandês, um alemão, outro Tcheco, um argentino e muitos outros. Acreditem, consigo me comunicar até em Inglês. Como uma índia, uga, uga, eheheheh, porém me entendem, isso que importa.


Grañon é especial, pq os hospitaleiros conseguem congregar todos os peregrinos através do jantar que eles preparam para todos nós. É um momento de partilha intenso, que iniciou com a vivência da missa, para aqueles que queriam, depois veio o jantar, onde partilhamos, cantamos, rimos, em fim, logo após lavamos a louça todos juntos e por fim terminou com uma oraçao em uma Ermita.


Pela manhã fomos acordados com um belo café da manhã, também preparado por eles. Foi muito especial, conheci Maria, espanhola querida, que caminhou comigo no dia de hoje. Contarei mais na próxima postagem. Reencontrei Tiago e Jualian, porém o caminho de Isidro acabou hoje.


Estou com saudades, amo a todos. Estou muito feliz. O mais legal, é que não importa a dor física, porque o espírito está descansado.

7º Dia - Logroño - Najera



Logroño - Nájera - 27,6 km
Realizado - 166,10 Km
Para Santiago - 624, 90

Espanha, 13/10/2008

Esta foto é o amanhecer em Logroño, tirada de um parque que há na saída da cidade.
Hoje foi um dia especial, como sempre cheio de descobertas. Logroño é uma cidade grande, levamos cerca de uma hora para sair do perímetro urbano. Ao redor há muitos parques que foram construídos para aproveitar os pântanos que havia ao redor da cidade. Foi especial porque pudemos desfrutar da natureza, dos pássaros que cantavam, do dia que raiava.

Descobri que minha luta espiritual está chegando ao fim, finalmente. Preciso parar de pensar, querer encontrar explicaçoes para tudo. Tenho percebido que as coisas sao mais simples, porque elas simplismente são o que são, sem ter que ficar justificando tudo, encontrando resposta para tudo e tão pouco ter que explicar tudo. Caminhei novamente com Isidro, espanhol que me adotou. Conversamos bastante, porque aqui se tem tempo para ouvir as pessoas e compartilhar a vida. Ele, como o Igor, me perguntou se não me canso de pensar, buscar respostas para tudo. Isso me ajudou a refletir que tenho que simplismente viver, com simplicidade, ser o que sou, sem ter que ficar buscando entender meus sentimentos o tempo todo. Se observar o tempo todo pode ser também algo que nos aprisiona. Tem sido muito importante viver tudo isso. O dia todo caminho. Inicio logo cedinho e paramos apenas no final do dia, passamos muitas coisas, alegria, dor, saudades, em fim. Tudo se torna um grande aprendizado.


Quando cheguei a Nájera, estava muito exausta, queria apenas chegar no refúgio, comer algo e dormir. Isidro queria preparar um filé para nós, porém eu não queria. Ele me levava pra lá, pra cá. Entramos em um bar, que oferecia menu do Peregrino e a atendente foi muito mal educada conosco. Eu estava já estressada pelo cansaço, atitude da moça me deixou indignada. Segui com Isidro buscar o que comer, e eu compartilhei com ele minha indignação, porque aqui na Espanha há alguns lugares em que as pessoas não são acolhedoras, e nos tratam como um baú de dinheiro. Percebem que somos peregrinos, por isso aproveitam-se disso. Cobrá-se muito caro tudo, e come-se muito mal. Fiquei 7 dias sem comer bem. Queria comer arroz, feijao, carne, salada. Aqui só comem, Ramones, ramones, ramones (espécie de presunto, sei lá), muito gordurento. Como se comecessemos Bacon puro.

Depois deste estress do dia, Isidro me fez cair na real, de que criei um caminho perfeito, onde em todos os lugares as pessoas são boas, porém isso não existe, porque o caminho está corrompido.

Há sim muito amor entre os peregrinos. Um cuida do outro, preocupá-se com o outro. Isso que vale. O comércio em cima do caminho é muito grande. Temos que ficar atentos.

O mais importante de tudo é que descobri que amo meu país profundamente. E agradeci a Deus por ter nascido brasileira. Nao há país melhor que o nosso.

domingo, 12 de outubro de 2008

6º Dia - Torres del Rio - Logroño



Torres del Rio a Logroño - 20 Km
Realizado - 138,5 Km
Para Santiago - 652,50



Espanha, 12/10/2008 (Domingo)



Hoje foi um dia especial. Senti muita consolaçao. Passei o dia muito bem. Andando com passos firmes de quem sabe onde quer chegar. Somente eu e Isidro, sempre encontrando nossos amigos peregrinos. O nosso grupo inicial está se desfazendo aos pouco. Tico, o peruano ficou em Torres del Rio se recuperando de uma tendinite, Tiago (brasileiro), Paco (espanhol), Jorge (espanhol) e um francês (Julian) seguiram em frente e Isidro (espanhol) seguiu comigo. Isidro meio que me adotou. Não quer me deixar sozinha, está sempre me cuidando. Ele está vivendo uma etapa importante em sua vida, um de seus propósitos no caminho, que é parar de fumar. Depois que leu o livro, no qual falei na postagem anterior, abandonou o livro com o maço de cigarro junto. Hoje passou o dia mareado, tentando vencer a vontade. É um guerreiro, hoje foi seu segundo dia sem fumar. Como disse, o grupo incial aos poucos está se dissipando. Hoje chegamos todos no mesmo albergue, nos encontramos, e como sempre é uma alegria. Porém, Jorge, um dos espanhóis, deixou o grupo e seguiu uma etapa a frente. Assim seguimos cada um com seu caminho, seu ritmo.

Durante o caminho eu e Isidro conversmos sobre nossas vidas. Dividimos histórias, fé, rimos muitos, foi bem legal. Ele vive em um povoado próximo de Logroño e sua esposa hoje veio visitá-lo no albergue. Ele ficou muito contente. Esta é uma vantagem de morar perto do caminho, pode matar as saudades da família.

Falamos bastante de religião. Isidro disse-me hoje que descobriu algo importante. Disse-me comigo descobriu que não pode ficar pré-julgando as pessoas por sua religião. Disse que não gostava de Católicos. Para ele, se eu tivesse dito que eu era católico já teria se afastava, pois em sua concepção inicial Católico não prestava. Disse-me que descobriu no caminho que o Catolicismo também tem gente boa e também leva para Deus. Assim como tem em qualquer religião. Este fato pode parecer simples, mas Isidro é a mostra da falência da credibilidade do Catolicismo aqui na Europa. Tenho observado isso por aqui, falarei disso em outra postagem.

As descobertas aqui sao especiais. Aqui se vive dia-a-dia o que Jesus ensinou: humildade (nao temos nada, nao queremos nada, solamente compartilhamos); paciência (pois só nos resta caminhar); amor (tratamos uns dos outros sem esperar nada), em fim, Deus está muito presente por aqui.

É isso aí. Amanhã se conseguir conto mais


Estella a Torres del Rio


5º Dia - Estella - Torres del Rio
















Estella - Torres del Rio - 30 Km
Realizado - 118.5 Km
Para Santiago - 672.5 Km
Espanha, 11/10/2008
Neste dia, após ter ficado triste no dia anterior, e ter conhecido pessoas como Panaiota (esquerda - canadense) e Michelli (direita - francesa), que souberam compreender-me e ser presença em minha vida naquele momento, decidi nao seguir com os meus amigos que caminhei os 3 dias anteriores, pois o ritmo deles é mais rápido que o meu. Logo cedo, enquanto no arrumávamos, pergutara-me se estava bem e disseram que iriam me esperar. Pedi a eles que não, pois eu iria no meu ritomo e não queria atrasá-los e nem me preocupar em seguí-los para que não se atrasassem. O dia começou assim, eu saindo depois de los niños, junto com Panaiota e Michele. Entendia alguma coisa que Michele falava e alguma coisa que Panaiota falava, sempre em Inglês. Foi um grande desafio pra mim comunicar-me com as duas que falavam muito pouco do espanhol. Em fim, foi um dia tranquilo, eu já havia me desligado de todos os meus companheiros, o que havia me trazido tristeza por deixá-los. A segurança veio com as minhas novas companheiras, agora no mesmo ritmo que o meu. No meio do caminho encontrei Isidro (espanhol) que acompanhou-me 2 dias antes, me ajudou a superar o Monte do Perdao. Ele estava junto a uma fonte, lendo tranquilamente um livro destinado para quem deseja parar de fumar. Permaneceu neste lugar até terminar de lê-lo e depois alcançou-me. Foi um momento feliz, pq permanceu comigo até terminarmos a estapa do dia, que foi mais pra frente do que havia me determinado. Segui junto com Isidro, Panaiota e Michele até chegar em um povoado muito feio, chamado Los Arcos. A meninas ficaram neste povoado, que ficava apenas 20,9 Km do local de início da caminhada. Eu porém segui com Isidro, Davi e Charle, estes últimos também espanhóis, que me deram muita força para vencer esta etapa que acabaria em 30 Km. Panaiota nao queria que me fosse, porém no dia seguinte ambas iriam apenas até Viana, enquanto eu teria que seguir sozinha até Logroño. Isto me fez optar por seguir com os outros amigos. Quando deixei Panaiota e Michele foi outro momento forte, pq aqui tudo se potencializa, as relaçoes sao muito intensas. Nos abraçamos e dissemos adeus, o que é muito duro. É duro saber que as pessoas que você passa a amar tem que deixá-las. Panaiota disse que o único dia em que ficamos juntos foi maravilhos, o que pra mim também foi.
Segui meu caminho com os niños, que para me ajudar a andar mais 10 km foram hablando, hablando, hablando....Isidro diz que não posso ficar muito introspectiva pq passo a andar muito lenta, viro uma lagarta no casulo, ao passo que se falo viro uma borboleta, fico ágil e sigo. Assim conheci melhor Davi e Charle, que me contaram um pouco de suas vidas. Aqui o conhecimento das pessoas acontece muito rápido, pq se tem tempo para ouvir, compartilhar, cuidar-se, amar-se....é muito especial poder ter tempo para o outro. Saímos de nós mesmos, passamos a ver o outro. Este foi um dia feliz, apesar dos momentos da partida. Aprendi muitas coisas, senti-me muito feliz. Aqui a dor é o de menos. Suportamos tudo com alegria. Não se preocupa com nada, a nao ser em viver o dia em plenitude. Aqui a linguagem é o amor. Se compartilha a comida, as dores, as alegrias. Quando encontramos os companheiros no próximo albergue é sempre uma festa. A cada dia estou mais forte. As bolhas já estao saradas. Sinto-me muito bem, com muita energia. O dia acabou com muitas dores nos pés, afinal, fazer 30 Km nao é mole. Iniciei a caminhada às 8h30 e parei eram 19h. E principalmente feliz, muito feliz. Cheio de descobertas interiores e afetividade vivida.
Sinto saudades de todos, muitas saudades...

sábado, 11 de outubro de 2008

4º Dia - Puenta de la Reina - Estella

Puenta la Reina - Estella - 22,4 Km
Realizado - 89.4 Km
Para Santiago - 700,6 Km

Espanha, 10/10/2008

Foi uma etapa um pouco mais leve que a anterior, porém fazia muito sol. Isso tornou o caminho mais cansativo. Isidro, espanhol que me acompanhou na etapa anterior seguiu mais rápido, até que o nosso grupo o perdeu de vista. Ficamos em 5 peregrinos, sendo 2 espanhóis, um francês, eu e mais um brasileiro. O grupo seguia em frente e eu tentava acompanhá-los, porém sempre mais atrás. Fiquei preocupada em seguí-los, porque eles sempre me esperavam e se atrasavam.
Durante o caminho senti muita alegria, porque a presença de Deus é muito forte. Descobri porque no caminho sente-se muita felicidade. Aqui vivemos realmente a mensagem de Jesus. Aqui os "Egos" nao se manifestam, porque o outro é sempre mais importante. Todos se ajudam, como irmaos de em terra sem nome.
Quando chegamos em Estella fizemos uma parada para comer, porém eu tive uma queda de pressao, passei muito mal e todos resolveram ficar em Estella. Thiago, brasileiro que faz parte da missao Médicos sem Frontreiras, me cuidou, me ajudaram a chegar no albergue e ficamos em Estella. Tudo bem, porque era de fato a etapa que eu teria que fazer.
Esse acontecimento me abateu um pouco, porque percebi, vivendo, que realmente a coisa não é fácil. Por mais treinado que estejamos, todos os dias fazendo percursos longos tem-se que ter muita força de vontade.
Chorei muito de saudades, de medo em não completar o caminho, em fim....
Fiquei contente depois porque percebi, vivendo na pele, que realmente o caminho é quem diz o ritmo que temos que fazer.
Conheci duas pessoas maravilhosas, que me cuidaram no albergue. Michele (francesa) e Panaiota (canadense). Um dia foi suficiente para que fizessemos uma linda amizade. Quando estava triste elas me acolherem e conseguimos nos comunciar, mesmo eu nao falando nem franês e tao pouco inglês. Aqui no caminho a língua oficial é o amor. Nao há outra.
Estou muito contente, porque de tudo que aconteceu no dia de hoje aprendi que tenho que realizar meu próprio caminho, dentro das minhas possibilidades. Como na vida, cada um tem seu próprio caminho, nao podemos querer realizar as coisas como os outros e tão pouco pelos outros. Isso tudo sabia bem, porém na teoria. Aqui você descobre as coisas vivendo na pele. É muito rico.
Hoje pela manhã resolvi não seguir o mesmo grupo. Dividi com eles minha preocupação e todos seguiram na frente. Estou bem, firme em meu propósito, com passos firme de quem sabe onde quer chegar.
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