sexta-feira, 31 de outubro de 2008

24º Dia - 30/10/2008


Villafranca del Bierzo ao Cebreiro - 30,7 Km

Realizado - 649,20 Km

Para Santiago - 148,60 km


Esta etapa foi a que me trouxe maior apreensao. Entre os peregrinos é considerada a pior etapa ao lado da etapa dos Pirineus. Saímos do refúgio por volta das 9h10 com um frio congelante. Para piorar, quando estávamos quase fora da cidade lembrei-me que havia esquecido meu cajado. Voltamos busca, pois a etapa seria de subida e precisaria dele. Estava vestindo todas as minhas roupas da mochila, mas mesmo assim foi difícil de aguentar o frio. Para ajudar choveu o dia todo, alternando alguns momentos de sol, o que nos presenteou com um lindo arco-íris. Caminhamos junto com uma holandesa, porém sem falar muito coisa, pois a etapa toda era subida. Estava sempre esperando chegar ao pé do morro que levava ao Cebreiro. Gente, vcs nao tem noçao como caminhamos, sempre subindo. Cheguei a falar para o Igor que isso parece coisa de gente louca, eheheheh, para quem no vive o caminho pode ser que nao entenda. Finalmente chegamos, por volta das 15h30, ao pé do morro. Começamos a subir por uma trilha toda lameada, que lembrava o filme do Robin Wood ou do Patriota. Chegamos a um povoado (Fava) , depois de 1h30 e eu estava me achando, dizendo par ao Igor que nem foi tudo aquilo que falavam quanto a dificuldade. Restavam apenas 4 Km de Fava a Cebreiro. Nossa fiquei super feliz e aliviada, porém foram os 4 Km mais duros. Caminhávamos muito por uma íngreme subida com lama até a canela, desviando dos excrementos de animais (vacas, gabritos, cahorros e outros sem identificaçao), com um frio (pq havia neve), com uma chuva fina e gelada, caminhando entre as nuvens, que impediam de enxergarmos mais do que 1 m a frente. Caminhamos 2 Km e eu entreguei os Bets....disse para Igor que nao aguentava de frio e dor nas costas e precisava parar. Para um peregrino párar faltando apenas 2 km é uma burrice, mas neste caso foi uma parada revigorante. Quando voltamos a caminhar subi morro acima como um cachorro que corre atrás da linguiça, td que queria era chegar no albergue para me abrigar e sair do frio. Cegamos no Albergue por volta da 18h15 (noite). Fomos muito bem recebidos em um albergue bem estruturado, bastante quente, com calefaçao. Deitei na cama que nao queria saber de nada. Porém neste povoado há exposto um milagre semelhante ao milagre de Lanciano, entao disse para Igor que nao poderia deixar de ir a Igreja para comtemplar tal milagre. Assim fizemos. Saímos junto com a Holandesa, um dinamarques e uma alema. Eu gritava como uma louca (Brasil eu te amo!!!), pq precisava extravasar o frio que sentia. Tudo que nao esperava era encontrar no caminho neve, porém sentia-me feliz por viver isso pela primeira vez na vida. Vimos o milagre, com emoçao e na volta para o refúgio paramos para jantar e voltamos correndo para dormir. Igor dormiu sem camisa e passou muito calor, para vcs terem uma idéia do efeito da calefaçao. Eu consegui dormir sem cobertor, ehehehehh.

Em fim, foi um dia cheio de alegrias, sofrimentos e realizaçoes. Adentramos à província da Galícia, onde há as mais lindas paisagens da Espanha. Ao final deste dia estávamos com um sentimento de vencer algo que, devido as condiçoes climáticas, parecia intransponível. Daqui para frente é só alegria, esperar chegar a Santiago.

Santiago aí vamos nós.......

23º Dia - 29/10/2008


Ponferrada a Viafranca del Bierzo - 22,9 Km

Realizado - 618.50 Km

Para Santiago - 179,30 Km


O caminho hoje foi diferente. Estava muio confiante e segura ao lado do Igor. Durante a noite eu acordava e me dava conta que o Igor estava dormindo na cama a cima da minha, isso me trazia uma alegria interior muito grande, agradecia Deus por ter nos presenteado com estes momentos que estaríamos vivendo juntos. Caminhamos juntos e muito felizes, conversando sobre tudo qu aconteceu por aqui e também no Brasil. Colocamos o papo em dia. Igor queria tirar fotos de tudo. Eu nao, já estou cansada de fotografrar td, entao passei pro o Igor a máquina e disse para registrar o que quisesse. Saímos do refúgio de Ponferrada por volta das 8h30. Durante o caminho fui mostrando para o Igor as diversas marcaçoes do Caminho. Chegamos no refúgio por volta das 16h, pq pegamos um caminho que foi marcado por um povoado que nao fazia parte do roteiro do caminho, entao tivemos que caminhar mais 4 Km, fizemos neste dia um total de 26, 9 Km. Igor foi bem, nao teve bolhas, e fomos direto para o refúgio Ave Fenix, muito tradicional no caminho, por ter um hospitaleiro chamado Jesus Jato, que acolhe os peregrinos muito bem. A noite participamos de uma ceia preparada pelo próprio hospitaleiro que depois realizou uma oraçao e uma cerimônia (foto) para espantar os "maus espíritos do caminho"(bolhas, tendinites, desânimos e qualquer outra coisa que impeça o peregrino de chegar ao final do caminho). Em fim. Este dia estava muito frio. Tive que lavar as minhas roupas, porém a secadora do refúgio pifou bem na hora de secar as roupas. Conclusao: estava naquele frio sem roupas quentes para realizar o caminho no dia seguinte. O hospitaleiro entao colocou o varal com as roupas sobre o fogao a lenha, secando as roupas e as impregnando com cheiro da fumaça. Tudo bem, fiquei bem feliz por ter roupar para enfrentar a etapa do Cebreiro, onde estava nevando.

O dia foi muito especial, pois dividir o camino com o Igor deu um novo ânimo para minha caminhada.

Saudades de todos

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

22º Dia - 28/10/2008

Molinaseca a Ponferrada - 6,8 Km

Realizado - 595, 60 Km

Para Santiago - 202,20

Hoje a etapa foi curta, pois precisava esperar o Igor que estava chegando. Foi um dia de muita ansiedade. Cheguei às 10h em Ponferrada e fiquei fazendo hora para entrar no refúgio que abriria apenas às 15h.
Aqui também há pessoas boas nos bares. Entrei em um bar recomendado pelo hospitaleiro Alfredo, do refúgio anterior, e pedi a atendente para deixar minha mochila para poder conhecer o Castelo dos Templários e toda a cidade. Gentilmente ela aceitou. Fiquei bastante tempo no bar e fui muito bem acolhida. Já passei por muitos locais em que fui bem tratada. Em fim.
Cheguei no refúgio, fui tomar banho para me esquentar, pois estava muito frio. Nunca passei tanto frio na vida. O frio daqui é diferente. Gente, ainda tomei banho frio, pq a caldeira nao esquentou a água. Quase morri de tanto bater queixo.
No final da tarde fui a um Cyber para poder atualizar o blog e fiquei esperando dar a hora de buscar o Igor. Saí correndo para a rodoviária. Ônibus ainda atrasou. Tinha uma mistura de sensaçoes. Ansiedade, alegria. Quando o ônibus chegou e vi o Igor, parecia uma criança. Ele desceu do ônibus e correu para mim. Nos abraçamos e choramos de alegria. Ficamos alguns minutos abraçados, nos tocando, como se quisessémos ter certeza que estávamos vivendo isso. Foi um sentimento de reencontrar algo que parecia perdido. Nao sei dizer. Senti uma alegria por viver este casamento tao abençoado. Agradeço a Deus. Ficamos tao entretidos um no outro que o ônibus quase partiu com a mochila do Igor. Eheheheh
Em fim. Estamos juntos e muito felizes. Na próxima postagem contaremos como foi o 1º dia de caminhada.
Saudades, obrigada a todos que torcem e oram por nós

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Cruz de Ferro



Recados:
1 - Cristiane, nesta bandeira está tua medalha, com ela minhas oraçoes para que vc encontre seu caminho, que tenho certeza que é um caminho de felicidade. Continue confiando em Deus amiga, tenho certeza que vc encontrará o busca, será muito mais feliz do que já foi até aqui.
2 - Mari e Ericson - todos os dias lembro de vocês. Tem sido muito útil a calça da Mari que tem me aquecido e a faixa de orelha que tem trazido conforto durante o caminho. Gente tá muito frio por aqui. Pelas previsoes irei ver neve. Obrigada amigos;
3 - Cris (peregrina) - tenho também lembrado de ti. Todos os lugares por onde passo fico pensando que por aquele chao vc também passou. Deus abencoe teu caminho de luz.
4 - Queridos amigos que tem orado por mim e pela minha família. Obrigada. Tenho sentido muto forte todo o carinho e amor que vem daí.
5 - Tata e Mano, cada passo em direçao a Santiago e a aproximaçao de nosso reencontro. Estou ansiosa por abraçá-los, filhos amados....
6 - Ni, obrigada por ser uma essa presença de segurança para meus passos. A mae se foi, mas deixou esse grande bem para nós 4. Nossa uniao. Amo vc.
7 - Sil - obrigada por ter assumido este papel de ser mae de meus filhos por estes dias. Estou segura de que estao bem com vc.

21º Dia - 27/10/2008



Foncebadón a Molinaseca - 20,2 Km


Realizado - 588,8 Km


Para Santiago - 222,40 Km



(Esquerda para direita - Julian (francês); Tiago (médico brasileiro); Mario (Curitiba pai) e Guilherme (filho))


Este dia foi bastante atípico. Foi o dia que em que me separei dos meus amigos queridos, meus anjos até este dia. Todos sabiam que teria que esperar e tardar uma etapa para poder esperar o Igor em Ponferrada. Enquanto meu grupo seguiria a Ponferrada, neste dia eu pararia em algum pueblo anterior. Entao todos seguimos juntos até a Cruz de Ferro. Este é um lugar muito especial. Nele deixamos todos os pedidos, oraçoes, sonhos, desejos, expectaivas, em fim, toda nossas vidas. Subi a cruz de Ferro com a bandeira do Brasil para deixá-la, entregando meu povo, meus amigos e todos os seus sonhos. Pedi a Deus bençaos para nossa naçao. No dia anterior preparei a bandeira para deixá-la na Cruz e costurei na bandeira a medalha de Santo Expedito que minha amiga Cristiane (amiga do trabalho) pediu para entregar no caminho. Senti uma emoçao muito grande, pq fiquei pensando naquele monte de pedras deixadas por todos os peregrinos que por aqui passaram. Há uma tradiçao que deixá-se na cruz de Ferro uma pedra trazida do país de origem. Eu esqueci a minha, mas deixei a bandeira do Brasil que trouxe.
Quantas vidas aqui trazidas, quantos sonhos, quantos peregrinos com suas vidas mudadas. Foi um momento de entrega. Momento também de desapego, pois foi o último contato que tive com meus amigos anjos.
Segui sozinha um caminho duro, pois descemos mais de 1000m, completamente na vertical, abaixo de chuva, sobre pedras escorregadias. Cheguei a Molinaseca às 14h30. Fui a primeira peregrina a chegar, pois fiz apenas pequena de 20 km. Foi um dia de descanso e expectativa para a chegada do Igor.

20º Dia - 26/10/2008

Astorga - Foncebadón - 27 Km

Realizado - 524,80 Km

Para Santiago - 266,20



Este foi um dia muito especial, pois nesta etapa enfrentaria os perros (cahorros) do caminho. Eheheh. Em muitos livros que li relatavam fatos ocorridos com peregrinos ao se depararem com os cachorros que existiam nesta regiao do caminho. Falei para todos os meus amigos peregrinos sobre meu temor dos perros, entao foi uma expectativa para todos, chegar a Foncebadon. Esteé um pueblo que está ressurgindo. Há muito tempo estava abandonado, apenas restavam ruínas, sendo refúgio apenas para perros sem dono. Entao segui meu caminho de Astorga a Foncebadón, cheia de expectativa e um pouco de temor. Segui sozinha o caminho todo. Nada de perros, a nao ser um sedento por água, quase a beira de sucumbir. O cachorro branco, grande, até bonito, mas descia a ladeira com a língua na pata. Parecia que nao tomava água a dias. Foi um dia feliz pois recebi uma força divina, muito além das minha expectativas. Este dia iniciei com dor de garganta, resfriada, com dores no joelho, quadril e nas bolhas. Pra falar a verdade nao havia um lugar em meu corpo que nao doesse. Estava meio tristonha por estar sola, já começa a andar como um rato (como dizia meu amigo peregrino Máximo), quando comecei a pensar em Jesus. Foi o máximo. Muito especial, pq comecei a contemplar Jesus peregrino, como foi sua vida, seus desafios, em fim. Entao lembrei-me de Jesus sofredor, que nao maldice suas dores, tao pouco suas chagas, que nao se entregou. Foi entao que me ocorreu que em meu seguimento a pessoa de Jesus sempre busquei o Jesus misericordiosos, buscava isso pra mim. Jesus bom, buscava isso pra minha vida. Jesus acolhedor, buscava também ser assim. Em fim, mas nunca busquei viver o Jesus sofredor. Afinal, quem na vida quer sofrer? Foi entao que veio em mim muito forte poder assumir meu sofrimento físico com coragem, sem reclamar, sem esmorecer, mas viver td com coragem. Gente, nao sei explicar, mas quanto mais desejava também seguir a Crsito no sofrimento, mais Ele se manifestava para mim, mais forças tinha, mais rápido caminhava. As dores, a gripe, o desânimo nao mais me impediam de seguir com coragem. Foi um momento muito especial para mim, pq muito mais do que seguir a Cristo naquilo que viveu de bom, o grande desafio é podermos ter coragem de erguer nossas cabeças quando pensamos que nao temos mais forças. É no sofrimento que mais podemos manifestar o Cristo que está em nós. Pode parecer loucura, porém senti-me muito feliz por poder seguir a Cristo em meu pequeno sofrimento, nada comparado ao que Ele viveu, e viveu com muita, muita coragem.

Poder viver a alegria interior mesmo quando nao está bem fisicamente é uma experiência especial.

Deus, obrigada por estar manifestando seu amor todos os dias, em todas as horas e momentos.

domingo, 26 de outubro de 2008

O meu amado fala e me diz:

"Levante-se, minha amada,
Formosa minha, venha a mim!
Venha: o inverno já passou!
Olhe: a chuva já se foi!
As flores florescem na terra,
o tempo da poda vem vindo,
e o canto da rola já se ouve em nosso campo.
Despontam figos na figueira
e a vinha florida exala perfume.
Levante-se, minha amada,
formosa minha, venha a mim!
Pomba minha que se aninha nos vãos dos rochedos
na fenda dos barrancos...
Deixa-me ver a sua face, deixe-me ouvir a sua voz
pois a sua face é tão formosa
e tão doce é a sua voz..."

Cantares 2, 10-14

sábado, 25 de outubro de 2008

19º Dia - 25/10/2008

Villar de Mazaride a Astorga - 32 Km
Realizado - 497,80
Para Santiago - 293,20

Nao tenho muito que contar no dia de hoje. Como foi uma etapa longa cansei muito e novas bolhas surgiram. Isso é normal para um peregrino. Caminhei o dia todo sozinha, como ontem. Por um lado é bom, pois posso refletir mais, porém quando fico muito instropectiva fico mais lenta, isso faz o corpo sofrer mais, pois levo mais tempo para completar a etapa. Hoje cheguei ao refugio por volta das 17h45. Exausta! Ainda fiz uma das minha topeirices: faltando 4 Km para chegar a Astorga, como enxergava a cidade pensei que estava próximo, entao resolvi passar no supermercado do pueblo anterior para nao precisar sair mais do refúgio, pois queria descansar. Isso era por volta das 16h30. Gente, ninguém merece, ter caminhado o dia todo, 28 Km, e ainda carregar uma sacola com comprinhas de mais ou menos 2,5 Kg. Durante os quatro Km nao conseguia me ajeitar, o caminho foi ficando cada vez mais penoso, a mochila mais pesada. Meu Deus, a cidade criou pernas...eu andava e ela também, mas em sentido contrário ao meu...eheheheh
Em fim, cheguei bem, e muito feliz, pois meus amigos estavam no albergue, inclusive Mario (pai) e Guilherme (filho) que nao nos víamos desde de quinta.
Foi um bom dia, com muita contemplaçao e reflexoes, mas isso conto em outra postagem.
Falta apenas 3 dias para encontrar o Igor, que alegria....
Saudades de todos

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

18º Dia - 24/08/2008

Arcahueja a Villar de Mazaride - 31 Km
Realizado - 465,80 Km
Para Santiago - 325,20 Km

Entao, hoje acordamos todos atrasados. Levantamos às 8h. Saímos do refúgio às 9h, horário considerado tarde para um peregrino. Tudo bem, valeu a pena, precisávamos descansar. Hoje a estapa foi longa e demoramos um bocado para cumprí-la, principalmente pq tivemos que passar por Leon, um cidade grande. Sempre no perímetro urbano levamos mais tempo, pq temos que estar mais atento as setas que desaparecem no meio das grandes cidades. Nos campos os sinais sao sempre mais evidentes. Paramos para visitar a Catedral de Leon, que também é líndissima. Depois envio fotos, pq nos refúgios nem sempre há possibilidade de conectar um pen drive. Em fim, seguimos o dia como sempre: caminhando, caminhando, caminhando....
Estou com tendinite, isso tem me prejudicado um pouco a caminhada. Tenho que ir na base de 3 Km/h, o que me fez chegar no refúgio somente às 17h55, enquanto ontem, para realizar o mesmo percurso cheguei às 15h45. Td bem, faz parte do caminho esses contra-tempos. Tiago e Julian, meus companheiros desde o 2º dia, seguem sempre mais a frente, mas quando percebem que estou muito para trás, me esperam...estao sendo meus anjos. Já tive muitos anjos por aqui: Isidro, Maria, Mario, Tiago, Julian, Panaiota, Michel, Joaquim, Otávia, Michele, Máximo e muitos outros. Por aqui o que nao falta sao anjos.
Amanha terei que fazer novamente 30 Km, apesar de querer diminuir, porém o caminho nao permite, pq ou faço 14 km ou 30. Se fizer 14 km terei que fazer muito mais nos outros dias para poder encontrar Igor na próxima terça-feira (28/10), entao me resta seguir amanha devagarinho.
Estou feliz, muito feliz, creio que estou vivendo na Graça. Isto me basta, nada mais quero pedir...

Decolores no Caminho

Gostei muito da postagem escrita abaixo, ela me recordou algo que havia esquecido de dizer. Encontrei por aqui também Cursilhistas, caminharam comigo e recordaram durante o caminho a música "DECOLORES". Mario (Curtibano pai), durante o caminho ouviu eu falar para outro peregrino que participava do Movimento de Cursilhos de Cristandade. Quando ouviu disse-me que fez o Cursilho e que durante todo aquele dia foi lembrando da música Decolores. Foi um momento feliz. Ele disse-me que lembrava muito claramente do Zétola e ficou muito feliz por saber que eu o havia conhecido. Recordamos da pessoa especial que Zétola foi. Daí pra frente fomos juntos, pelo caminho cantando Decolores. Um dia depois, Máximo (espanhol), veio pelo caminho cantando Decolores, quando aproximou-se de mim comecei a cantar também, entao fomos juntos cantarolando, em espanhol e português. Em espanhol a letra é igualzinha a que cantamos no Brasil, porém tem alguns trechos em que a melodia muda um pouco. A música Decolores tem sido minha companheira no Caminho..

Depois descobri que Tiago (médico sem fronteiras) também é um Católico, que já foi muito praticante. Participou 2 vezes de missoes pela regiao do Peru. Quase se consagrou como Leigo em um movimento Católico chamado Movimento de Vida Crista, muito forte na regiao do Rio. Julian (francês) também é Católico. Fomos todos a missa em Carrion de los Condes, onde partilhamos momentos de espiritualidade muito bonitos e fortes. Olhei para todos os peregrinos presentes e senti-me muito feliz por partilhar com todos a missa. É muito bom poder estar com pessoas que comungam da mesma fé...

Decolores


Do PPS enviado pela Yanne hoje (muito obrigado!)

Si estás en gracia, no temas, con Cristo todo es posible, hasta lo imposible. Lo que importa es tener fe, pero fe verdadera, evangélica, no te pierdas el gozo de ver a los hermanos en Cristo y a Cristo en los hermanos

Estar "de colores" significó y significa estar llenos de la Gracia de Dios, vivir con Él, comprometemos con Cristo y con el hermano.


Quizá la frase de Fray Luis de Granada explica bien lo que todos los cursillistas sentimos con el "De Colores": "La Gracia es aquella vestidura de muchos colores, porque de la gracia proceden los colores de todas las virtudes".

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Liberdade interior

Hoje o dia foi bastante reflexivo. Tenho descoberto muitos motivos pelos quais estou aqui. Um deles seria minha busca espiritual, que sempre foi muito intensa. Estou feliz, pq minha inquietude espiritual sessou. Tenho sentido muito forte a presença de Deus, que tem me dito muitas coisas e me questionado em muitas coisas, através de td que tenho vivido, através das pessoas que tem deixado suas marcas em mim, em fim...Porém hoje ficou muito claro pra mim que um dos grandes aprendizados é o exercício do desapego. Desapego das coisas, de mim mesma, dos amigos, mas o mais difícil tem sido o desapego em relaçao a minha família.
Há muitos anos tenho procurado viver os ensinamentos de Cristo, através dos exercícios espirituais dos jesuítas. Nesta esporitualidade buscamos, no dia-a-dia, exercer a liberdade interior em relaçao a td: saúde, coisas, pessoas, a nós mesmos. Aqui tenho vivido esta prática na pele. Desapego pessoal foi o primeiro exercício. Temos que sair de nós mesmos para ajudar os outros peregrinos que precisam de nosso apoio; Desapego da saúde, dia-a-dia, nao importa as dores, bolhas, oq ue for, temos que seguir, com alegria interior, que provém do próprio Deus. Agora estou tendo que exercer a liberdade em relaçao as pessoas. nao tem sido fácil. É uma prova dura, pq todos os dias sinto uma saudade que nao cabe em meu peito. Esta é a grande batalha que estou vivendo. Sinto muita falta dos meus amigos, principalmente da minha família, meus filhos. Penso todos os dias e as vezes acho que nao vou aguentar.
Lembro-me de Cristo, que Deus está comigo, e quanto é importante manter minha alegria interior mesmo na saudade. Estou feliz pq Deus tem me permitido viver toda essa experiência. Nao sou mais a mesma, isso tenho certeza.
A magia do caminho está em poder viver no mais puro desapego interior, assim descobrir, na prática, saindo da teoria, que a felicidade tá na simpicidade do dia-a-dia. Isso parece a coisa mais óbvia do mundo, mas o mundo, os egos, os apegos e td mais nos impedem de viver a plena felicidade.
Pensava que era feliz, hoje tenho a mais absoluta certeza...
Nao há como ser o mesmo depois de passar por uma experiência dessas....
Aqui tive que me abandonar completamente em Deus, esperar dia-a-dia Nele....
Cada dia Ele me apresentou um novo jeito de ver as coisas, pensar, me alegrar, compreender o outro...

17º Dia

Burgo Ranero a Arcahueja - 30 km
Realizado - 434,80
Para Santiago - 356,20

Hoje levantamos com um frio como nunca vi. Saímos às 8h15 da manha, com geada nos campos e ao fundo uma paisagem linda: montanhas cobertas de neve. Nevou em Madrid, por aqui o frio é intenso. Hoje tive que segurar um pouco o passo, nao consegui caminhar todo o tempo com Tiago e Julian, pq eles vao em um passo muito forte, na base de 5 Km/h. Para seguí-los tenho que fazer algum esforço, como estou com um pouco de dor no tornozelo esquerdo achei mais prudente, para evitar a tendinite (muito comum entre os peregrinos), pegar mais leve.
Nosso grupo hoje novamente se desfez. Máximo (espanhol) seguiu para Leon, onde termina sua etapa do caminho. Mario (Curitibano pai) e seu filho, Guilherme, ficaram em um povoada antes. Eles sao muito rápidos também, acredito que nos alcancem amanha. Continuamos eu, Tiago (brasileiro médico) e Julian (francês).
Quando chegamos em Arcahueja estávamos bem e pretendíamos seguir para Leon, mais 8 Km, porém chegaria a Ponferrada no domingo, quando preciso chegar na terça, para esperar o Igor. Depois que se passa metade do caminho consegue-se realizar etapas mais longas com maior facilidade. Porém as dores nunca nos deixam.....
As saudades sao constantes, isto é o mais difícil do caminho...

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Gratidao

Todos os dias quando abro o blog e leio td que me escrevem uma nova força toma meu ser. Nao há como explicar o que acontece. Sinto a presença de todos, sinto-me protegida, acompanhada, amada por todos. A todos meus queridos amigos, leio cada linha com atençao, cada uma delas me trás novas emoçoes.
Se pudesse trazer cada um de vocês para viver este caminho os traria. É duro, difícil, porém nao tem preço que pague o que se vive aqui. Tudo que é maravilhosos desejamos aqueles que amamos.
Há cada etapa vencida nos aproximamos de Santiago e uma sensaçao de aproximaçao com o sagrado vai tomando nosso ser. Há uma alegria pela conquista, mas ao mesmo tempo uma saudade de tudo que se vive aqui.
Amo todos vocês. Obrigada, obrigada por tudo, pela força, torcida, amor, oraçoes.
Serei eternamente grata a todos que me ajuaram a conquistar o que estou vivendo. Aos meus parceiros do caminho que me deixaram, aos que estao comigo, ao meu amor que ainda virá, a todos que me acompanham.
Gratidao, é o que sinto...
Saudades

16º Dia

Terradillos de Templários - Burgo Ranero - 31 Km

Realizado - 404,80 Km

Para Santiago - 386,20 Km



Hoje foi um dia muito feliz, também muito frio. Saímos do refúgio com tempo bastante úmido, ainda estava noite, e o frio era intenso. Porém saímos com passos firmes de quem sabe onde quer chegar. Hoje andamos em 6: eu, Tiago (brasileiro médico), Guilherme (Curitibano filho), Mario (Curitibano pai), Julian (francês) e Máximo (espanhol).
Hoje decidi desde que levantei que nao ficaria para trás, nao seria lenta, mas me determinei em acompanhar Tiago e Julian, únicos que restaram comigo do grupo que se encontrou no 1º dia da caminhada. Fiquei impressionada como rendeu o dia de hoje. Uma etapa que seria dura, por ter 31 Km, foi a melhor, mais tranquila. Chegamos a fazer 8 Km em 1h20, tempo que levava em meus períodos de treino em Curitiba para realizar apenas 6 Km. Chegamos ao refúgio em Burgo Ranero por volta das 15h20, sendo que saímos às 8h da manha e fizemos 3 paradas para comer.

Em uma dessas paradas aconteceu uma coisa muito engraçada: daquele monte de comida que tive que carregar ontem pra fazer um pick nick que nao aconteceu, sobrou sanduíches para hoje. Entao guardei alguns para o decorrer do caminho. Quando chegamos no restaurante para comer algo, meus amigos pediram o que queriam e eu pedi uma Coca-cola. Sentei com eles e fui comer meu sanduíche. O dono do restaurante disse-me que nao poderia comer dentro do restaurante, pq nao comprei lá. Eu disse: td bem, vou-me para fora. Ehehehe, naquele frio. Nao contente, o homem pediu a Julian para me dizer que também nao poderia ficar em frente ao restaurante. Eu disse: td bem. Entao sentei-me em um lugar ao lado da porta do restaurante. Comi meu sanduíche com a Coca, depois entrei no restaurante, ajeitei-me, usei o banheiro, e quando saímos disse ao homem: muchas gracias. Ele gentilmente respondeu: Hasta luego.
Nao senti-me ofendida, mas entendi a posiçao do dono do restaurante, apesar de nao ter sido muito humana e tao pouco inteligente, pq afinal eu era uma peregrina cliente, que poderia indicar seu establecimento para outros, caso fosse bem tratada. Fiquei mais preocupada com o constrangimento dos meus amigos do que o tratamento dispensado a mim. Tiago disse-me: tem horas que dá vontade de levantar pras dez. Disse-lhe entao: pra que? Quebraríamos toda a espiritualidade que estamos vivendo. E ele concordou.
Essas coisas acontecem aqui no caminho. Há lugares que somos muito bem tratados, há outros que nos tratam muito mal. Por acaso o caminho da vida é diferente?

Quero dizer que todas as oraçoes de vocês tem tidfo muito efeito em mim. Hoje me senti tao forte, uma guerreira no caminho. Fizemos os 31 Km em um tempo menor que normalmente levava para fazer 26 Km.

Nao há como explicar a açao de Deus.

Dia 28 de outubro o Igor me encontrará. Tenho aguardado este dia com ansiedade. Meus amigos também esperam com alegria. Inclusive me ajudaram a acertar as próximas etapas para chegar em Ponferrada no mesmo dia que o Igor. Chegaremos juntos, entao o Igor poderá conhecer os meus anjos no caminho. Agradeço a Deus pela vida de cada um deles.

Saudades...

terça-feira, 21 de outubro de 2008

15º Dia

Carrion de Los Condes - Terradillos de Templários - 26 Km
Realizado - 373,80
Para Santiago - 417,20
Este trecho foi muito chato. Uma reta infinita, plana, porém nao se via nada. Tudo que víamos era horizonte. A primeira cidade que chegamos depois de Carrion ficava a 17 Km. Por causa disso, no dia anterior me enchi de suprimentos, pensando em mim e nos meus companheiros. me ferrei. Pq levei mais 1,5Kg nas costas e todos se disssiparam. Os mais rápidos sumiram, e os que estavam comigo todos recusaram minha oferta. Conclusao: Carreguei 1,5 kg por todo oc aminho. Queria morrer. Eheheh....
Tudo bem. Passei o dia ganhando o peso que perdi. Pq tudo qu queria era comer tudo pra diminuir o peso. Eheheh
Cheguei no albergue por volta das 15h. descansei um monte. O estava precisando.
Amanha será um dia duro. Está chovendo, fazendo frio e temos pela frente 31 Km.
Como cada dia há uma nova surpresa, veremos

Saudades

Fotos do Jantar no Albergue das monjas.


segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Nenhum Recado pra Mim?

Eu também estou com saudades!!

14º Dia

Boadilla del Camino - Carrión de los Condes - 26 Km

Realizado - 347,80

Faltam para Santiago - 443,20



A caminhada foi tranquila. Entramos em umt recho de reta, segue toda a vida e é plano. Paramos bastante, e por isso chegamos tarde, já eram 16h30. Ficamos hospedados no Albergue administrado por monjas Agustianas. Super acolhedoras.

Nao há como explicar o que vivi aqui neste albergue. Uma presença de Deus tao forte que nao há como explicar. O jantar foi organziado através da partilha do que cada peregrino tinha. Todos entregaram para as irmas o que tinham, e todos juntos organizaram o jantar. Com saladas de diferentes tipos, paes, sopas, macarrao, muito vinho e com sobremesa. No ar pairava muito amor, pq a partilha estava presente.

As irmas, depois do jantar, fizeram um momento de congregaçao. Reuniram todos os peregrinos, independente de religiao, língua, crença, tudo para agradecerem e partilharem momento de espiritualidade. Havia 2 intépretes (inglês e francês), pq as Monjas falaram em espanhol. Foi tao lindo, pq uma das monjas (peruana), falou sobre fé. Disse que a fé é um caminho que tem que se percorrer, com muito amor, abertura, determinaçao. Disse que Sao Tiago viveu esta fé, foi chamado, e viveu seu caminho, assim como cada um de nós em nossas vidas. Mais que tudo, Sao Tiago descobriu que este caminho é Cristo, que segue conosco, a todo tempo. E mais, que Cristo nao apenas está conosco neste árduo caminho da vida, mas que carregar para nós as pesadas mochilas interiores de cada um de nós. Nao preciso que estava chorando. Claro...

Foi tudo muito especial. Aqui, é assim. Há muitas coisas árduas que vivemos. Nao é mole. Porém sempre no dia há algo que acontece que renova nossas força.

Saudades de todos....

Obrigada pelas palavras de incentivo....tem sido muito importantes para mim

RECADOS

Maria - Os regalos que me deu estao sendo muito úteis. Já usei o lenço e a meia. Muchas Gracias, amiga. Que bom que enviou a letra do nosso hino de chegada a Burgos, pq já havia esquecido.
Rosangela (fisio) - Obrigada pela cobertinha que me fez trazê-la. Tem me esquentado muito nas noites frias. E a faixinha tem me ajudado no alongamento,
Isidro - O pin que vc me deu nao me pertence mais, há muitos outros peregrinos mais lentos que eu. nao passei o pin para frente pq foi um regallo que tu me deu, entao faz parte do meu caminho;
Jorge - Obrigada pelas mensagens que me manda no celular. Os grampos me regallou estao sendo muito úteis;
Queridos amigos - Leio todas as postagens que me escrevem. Com muita emoçao. A cada leitura que faço minhas forças sao renovadas. Obrigada por me ajudarem com tanto carinho;
Jane peregrina - Li sua postagem com emoçao. Nossos caminhos estao muito ligados, saber que estas me acompanhando renovou minhas forças;
Igor - Te amo muito, espero cada dia pela tua chegada. Aqui tá todo mundo te esperando e loucos pra te conhecerem;
Silvana - Obrigada pela amiga que tem sido. Pelo cuidado que tem tido com meus filhos, que sao td que tenho de mais precioso, juntamente com Igor. Vc faz parte deste caminho, sabes disso;
Tata e Mano - mamae está com muita saudades, muitas mesmo. Amo vcs e espero ansiosa por vê-los novamente. Estou muito orgulhosa pela coragem que têm demonstrado. Por partilharem este sonho comigo. Tenho certeza que vocês saberao correr atrás dos sonhos de vocês também.

Estou sempre um dia atrasa com minhas postagens, pq q Internet por aqui nao é tao acessível quanto eu pensava. Hoje terminei meu 14º Dia.

13º Dia

Hontanas - Boadila del Camino - 29 Km
Realizado - 321,80 Km
Para Santiago - 469,20

Hoje foi muito mais leve. Apesar das dores caminhei mais tranquila, com mais paradas. Caminhos eu, Otávia (americana filha de brasileiros) e Mario (Curitibano). Ao final Otáviajá estava cansada e demonstrava abatimento, entao eu e Mario começamos a marchar e cantar músicas de soldados. Terminamos o percurso assim. Tudo isso para poder dar mais ânimo para Otávia, pq afinal, aqui é isso, todos por um. Acabamos descobrindo que Otávia estava se irritando, porém no final disse-nos que fomos seus anjos. Ficamos em um refúgio muito especial. O refúgio do Dudu. Ele é um espanhol que ama o Brasil. Em seu refúgio há coisas do Brasil espalhadas por todo canto. Neste final de ano irá passar o Natal em Curitiba e prometeu visitar-nos. Se tiver oportunidade apresento Dudu a todos que desejarem, pq vale a pena conhecê-lo. Fui para no refúgio do Dudu indicado pela Cris, que fez o caminho. Ficamos todos muito a vontade, senti-me bastante acolhida. Foi um dos melhores refúgios que fiquei. O âmbiente propicia descontraçao. Td de bom, terminei o dia muito feliz. Com sensaçao de ter comprido td que me propus, estando bem emocionalmente e fisicamente. Nada como um dia após o outro.

domingo, 19 de outubro de 2008

12ª Dia

Burgos - Hontanas - 30,9 Km

Realizado - 292,80 Km

Para Santiago - 498,20 Km



Com a despedida de Maria novamente encontrei-me sozinha. Para sair de Burgos pela manha contei com ajuda de Tiago (brasileiro) e Julian (francês) que estao realizando o caminho sempre próximos a mim, porém, como sao mais rápidos sempre chegam ao final da etapa antes. No decorrer do caminho voltei a encontrar Guilherme e Mario (pai), brasileiros de Curitiba. Guilherme, sempre com muita energia acompanhou Tiago e Julian, enquanto Mario gentilmente me acompanhou.
A etapa foi muito dura, penso que a pior até este momento. Quando estávamos já chegando ao final, faltando uns 10 Km, pensei que restaria apenas 2h30. Por volta de uma 16h já nao aguentava mais caminhar. No caminho havia subidas e descidas, nos últimos Km´s entramos em um retao que nao acabava mais. Olhavámos o horizonte e nao víamos cidade alguma. O sol estava alto, porém o vento estava muito frio, que a cada parada enrigecia nossos músculos. Comecei a ter dores musculares, o que dificultava a caminhada. Ao Final dos 30 Km nao conseguia mais caminhar. Foi duro. Para piorar, ao chegarmos no final da reta demos de cara com um povoado muito pequeno que fica no meio de um vale. Era por isso que nao enxergávamos nenhum pueblo. Quando mirei a cidade, no fundo do vale, e a descida que teria que fazer, tive vontade de sentar e chorar. Desci os últimos intermináveis 100 m de costas, para poupar os joelhos, quadril e pernas, que nao mais me obedeciam.
Quando cheguei no albergue, que também era um bar/restaurante, encontrei uma americana, filha de brasileiros, Otávia, que fala muito bem o português. Otavia quis me ajudar, porém eu nao queria nada, nem conversa, de tanto cansaço. Tudo que queria era uma cama.
Fui para o quarto, deitei-me e chorei. Chorei muito: de cansaço, dor e alegria, por poder estar em uma cama quentinha, onde poderia descançar.
Foi uma oportunidade incrível para exercer a liberdade orientada pela espiritualidade inaciana que tanto busco. Uma liberdade interior em relaçao também a saúde, podendo sentir-me feliz interiormente, mesmo que meu corpo estivesse tao abatido.
Foi um momento especial apesar de tudo, pq todos os peregrinos apareciam com uma soluçao para minhas dores. Um vinha com remédio, outro com gel, outro com massagem nos pés. Cuidados nao faltou. Há muita soliedariedade por aqui. Algo que nunca havia vivido antes. Nao há barreiras da língua para podermos nos ajudar. Senti-me amada e cuidada. Posso também exercer meu amor com eles também. Há respeito, companheirismo, amizade. Há muito AMOR.
Mario (brasileiro pai) me ajudou muito. Me ajudou a superar a pressao psicológica do desejop da chegada, a manter-me serena no propósito, a vencer a dor e sobretudo a recuperar a confiança. Serei eternamente grata a ele.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Jantar com o grupo


Todos os dias saímos juntos para jantar, o conhecido menu do Peregrino. Neste dia, em Atapuerca fomo a um restaurante muito especial, bem produzido, com boa música ambiente. Nem acreditamos quando vimos o restaurante, pq o povoado é pequeníssimo. Foi o melhor jantar que tive desde que cheguei aqui. Comemos como entrada salada mista, esta foi a melhor salada que comi em toda minha vida.
Este que está comigo é Tiago, brasileiro.

Determinaçao e preparo físico


O Caminho é para todos que querem com muita determinaçao, porém um mínimo de preparo físico torna o caminho menos penoso. Conheço pessoas que o enfrentaram sem nenhum preparo físico, porém, enquanto caminho, fico pensando quanto sofrimento nao teriam passado.
Eu particularmente considero que tenha me preparado para viver o Caminho. Como disse em postagem anterior, corro há três anos, tenho sido acompanhada por uma assessoria esportiva, mesmo assim sinto a força do caminho. Nao tenho dores musculares, mas tenho muitas dores nos pés (bolhas nao há mais), no quadril e ao final de um dia sentimos o peso dos exercícios.
Se me pergutarem o que precisa para realizar o caminho diria: muita determinaçao e preparo fìsico, para quem deseja vivê-lo com menos sofrimento físico. Nao é fácil.....
Aqui na Espanha a prática da corrida também é difundida. Durante a passagem pelos povoados tenho passado por muitos corredores. Isso me faz sentir saudades de correr. As vezes, quando cruzo com um corredor tenho vontade de deixar a mochila e sair correndo. Pena que faltá-me um par de tênis para fazê-lo.
Bjs ao meus amigos queridos da Trainer, saudades também dos nossos encontros no Barigui. Logo volto, com mais determinaçao.

Catedral de Burgos


Este é o momento em que cheguei a Burgos. Ao fundo esta a Catedral, muito londa. Para vocês terem uma idéia, quando se esta chegando na cidade a primeira coisa que se encherga sao as torres da Igreja. É fantástico. Hoje a noite irei na missa, rezarei por todos.
Saudades.
Amo vocês

11º Dia - Atapuerca - Burgos



Atapuerca - Burgos - 21 km


Realizado - 261,90 Km


Para Santiago - 529,10 Km



Esta é minha amiga Maria, uma espanhola especial que conheci em Grañon. Há 3 dias que caminhamos juntas. Depois que Isidro nos deixou, foi com ela que compartilhei o caminho. Claro que há outros peregrinos que seguem próximos a nós, mas sempre tem um que fica mais chegado. Nestes 3 dias tem sido Maria uma companhia muito rica. Hoje porém Maria acabou sua estapa do caminho e mais uma vez tenho que lidar com o momento da despedida. Isso é uma parte triste do caminho, porém necessária para o crescimento e aquisiçao da liberdade interior que tanto busco.
Hoje foi uma caminhada tranquila, uma etapa curta. Chegamos em Burgos às 13h30. Praticamente abrimos o albergue, fomos as primeiras a chegar, porém apenas eu me registrei, pois Maria parte hoje para Pamplona, sua cidade de origem.
Hoje estou um pouco chorosa, pq a saudade é tao grande que parece que nao vou conseguir aguentar. Enquanto caminhava pela manha, era umas 11h30 aqui, resolvi ligar pra casa pra ouvir as voz das crianças e do Igor, pq nao consigo me desligar deles. Pra piorar nao tem mais Isidro e Maria falando para mim: " É aqui que tem que estar, viva o agora, pq é isto que tem".
Amanha vou caminhar com Julian e Tiago (brasileiro médico), pra poder sair de Burgos, que nao é fácil. Cidade grande, pouco sinalizada. Sigo, dia-a-dia, com passos firmes de quem sabe onde quer chegar.....
Saudades!!!

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Jó, Servo de Deus, e seu Caminho

A história de Jó conta as angústias e preocupações de um homem que perdeu tudo o que tinha na vida, mas mesmo assim, não amaldiçoou a Deus. Esta semana estamos orando sobre este livro. E no final da história, Deus o questiona a Jó o porquê de tanta reclamação. Porquê não se reconhecer criatura e se entregar nas mãos do Criador? Caindo em si, Jó aceita a proposta de Deus e é abençoado tendo a sua vida de volta, e muito mais. Assim foi o caminho de Jó e assim também é o nosso caminho. Quando nos esquecemos que somos criados e que Ele nos conhece melhor do que nós mesmos, acabamos vivendo uma vida confusa. Porém, com os olhos em Cristo, que nos leva ao Pai, mesmo a maior confusão parece ter sempre uma saída fácil.

Isso se confirmou em nossa aula de Libras hoje, onde o Pe Wilson nos apresentou o vídeo da vida de um rapaz iraquiano que não tem os braços e se comunica através de sinais com os pés. E, como sempre, o Pe pergunta: "Ele está triste?". Não, respondemos nós, ele vive a sua vida com todos os benefícios que estão ao nosso alcance, dos quais muitas vezes reclamamos. A caminhada de cada um é dizer um humilde "sim" ao nosso Criador, na esperança de um dia vê-lo face a face.

10º dia - Tosantos - Atapuerca

Tosantos - Atapuerca - 26, 1 Km
Realizado - 240,90 Km
Para Santiago - 550,10

Espanha, 16/10/2008 - Quinta-feira

Hoje como todos os outros foi especial, pois encontrei 2 brasileiros, Mario (pai) e Guilherme (filho). Acreditem! São de Curitiba. Fiquei muito feliz por encontrá-los e poder voltar a falar português, sem ter que ficar me esforçando para entender o que me falam. É tudo de bom poder falar com naturalidade, sem ter que pensar. Até isso aprendemos a dar valor...
Hoje foi dia de ver novos rostos, fazer novos amigos.
Aqui é assim, despede-se de uns, porém encontrá-se outros, e nunca estamos sós.
Sinto-me bem e bastante confiante. Estou conseguindo vencer todas as etapas. Cada dia é um novo dia. Assim vivemos por aqui. Um dia de cada vez, seguindo a jornada de pouco em pouco, assim nao fica tao duro.
Saudades, segui aqui o meu caminho.
Tata e Mano eu os amo muito, sinto falta de vocês.
Igor, você é o amor da minha vida. Agradeço a Deus por tê-lo como marido. Te amo.

9º Dia - Grañon - Tosantos

Grañon - Tosantos - 21 Km
Realizado - 214,8 Km
Para Santiago - 576,20 Km
Espanha, 15/10/2008 - Quarta-feira

Este foi um dia especial. Momento de mudar de ciclo. Estou mais forte. As dores estão presente, mas estou mais resistente. Hoje Isidro nos deixou em Belorado, terminou a sua etapa no Caminho. Aqui há muitos espanhóis realizando o caminho, porém a maioria faz em etapas. As pessoas se vão, mas o aprendizado fica. Aqui divide-se vida, inquietudes, alegrias, td. Vive-se de forma muito simples, pq aqui não cabe milindres.
Como em Grañon, Tosantos também é um Hospital de Peregrinos, com isso também guarda toda hospitalidade acolhedora. Neste povoado também desejei estar e viver tudo de especial que trouxe-me. Também compartilhamos a ceia e pela manhã tivemos um pelo café da manhã, td preparado com carinho.
Após a ceia vivemos um momento especial de espiritualdiade. Compartilhamos uma oração na Capela que fica na parte mais alta da casa. O momento foi conduzido pelo hospitaleiro espanhol, que de forma amorosa explicou-nos como tudo aconteceria. Fizemos um breve momento de introspecção, através do silêncio, todos aquietaram suas mentes. Em seguida seguimos um pequeno folheto litúrgico redigido em várias línguas. Cada parte foi rezada em uma língua diferente, conduzida por um peregrino da respectiva nacionalidade. Cada um poderia seguir a oraçao em sua própria língua. A espiritualdiade presente uniu diversas nações em seus diversos idiomas. Diversos povos, unidos por um só Deus. Depois cada um leu, em sua língua, diversas oraçoes e pedidos que foram deixados por peregrinos que passaram por este pueblo. Foi um momento lindo, porque hoje oramos pelos peregrinos que passaram , com seus anseios e agradecimentos. Amanhã serão outros peregrinos que irão orar por nós. Daqui 20 dias nossas orações serão queimadas na Ermita de Tosantos (Igreja construída no alto do morro, encrustrada na Pedra), muito especial.
Cada dia um momento, uma nova vivência. A vida é isto, precisamos viver o agora, pois é o que temos. O passado já era, não podemos mudar. O futuro não sabemos o que será, mas o presente é o que podemos mudar, e sobretudo, viver!!!
Saudades, amo a todos...

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

8º Dia - Najera - Grañon



Najera - Grañon - 27.7 Km
Realizado - 193.80 Km
Para Santiago - 597,20 Km

Espanha, 14/10/2008 (Terça-feira)






Este foi um dia esperado. Há muito tempo queria estar no refúgio de Grañon, mencionado nos livros que li, pelos amigos que viveram o caminho. Em fim. Não houve decepçao, apenas confirmaçao. O lugar é mágico. O refúgio fica no campanário da Igreja. Durante o percurso caminhei mais sozinha. Preferi, para poder parar de conversar, pensar, explicar. Cheguei a Grañon sozinha. Antes de chegar no povoado, passei por uma cidade chamada São Domingo de La Calzada. Lá percebi que estou com uma alergia nos pés. Cada um fala uma coisa. Encontrei um homem, que trabalhava próximo do local em que estava vendo os pés. Ele logo aproximou-se e me levou no posto médico. Disse-me que seria alergia a produtos químicos que sao utilizados nas lavouras de uva, por onde passei. Não pude consultar, porque não tinha em mãos um documento que tinha que ter trazido da vigilância sanitária. Apesar de ter seguro saúde, não quis acioná-lo, não achei necessário. A pessoa que me ajudou chama-se Joshuá, é um homem do mundo. Disse-me que não tem lugar fixo, mora onde está em lugares onde a estação do ano é o verão. Hoje está na Espanha. Próxima parada na India, no ano que vem na América Latina. Uma pessoa muito diferente, na qual gostei muito de conhecer. Foi muito gentil comigo. Ao chegar em Grañon, conheci novos amigos. Um filandês, um alemão, outro Tcheco, um argentino e muitos outros. Acreditem, consigo me comunicar até em Inglês. Como uma índia, uga, uga, eheheheh, porém me entendem, isso que importa.


Grañon é especial, pq os hospitaleiros conseguem congregar todos os peregrinos através do jantar que eles preparam para todos nós. É um momento de partilha intenso, que iniciou com a vivência da missa, para aqueles que queriam, depois veio o jantar, onde partilhamos, cantamos, rimos, em fim, logo após lavamos a louça todos juntos e por fim terminou com uma oraçao em uma Ermita.


Pela manhã fomos acordados com um belo café da manhã, também preparado por eles. Foi muito especial, conheci Maria, espanhola querida, que caminhou comigo no dia de hoje. Contarei mais na próxima postagem. Reencontrei Tiago e Jualian, porém o caminho de Isidro acabou hoje.


Estou com saudades, amo a todos. Estou muito feliz. O mais legal, é que não importa a dor física, porque o espírito está descansado.

7º Dia - Logroño - Najera



Logroño - Nájera - 27,6 km
Realizado - 166,10 Km
Para Santiago - 624, 90

Espanha, 13/10/2008

Esta foto é o amanhecer em Logroño, tirada de um parque que há na saída da cidade.
Hoje foi um dia especial, como sempre cheio de descobertas. Logroño é uma cidade grande, levamos cerca de uma hora para sair do perímetro urbano. Ao redor há muitos parques que foram construídos para aproveitar os pântanos que havia ao redor da cidade. Foi especial porque pudemos desfrutar da natureza, dos pássaros que cantavam, do dia que raiava.

Descobri que minha luta espiritual está chegando ao fim, finalmente. Preciso parar de pensar, querer encontrar explicaçoes para tudo. Tenho percebido que as coisas sao mais simples, porque elas simplismente são o que são, sem ter que ficar justificando tudo, encontrando resposta para tudo e tão pouco ter que explicar tudo. Caminhei novamente com Isidro, espanhol que me adotou. Conversamos bastante, porque aqui se tem tempo para ouvir as pessoas e compartilhar a vida. Ele, como o Igor, me perguntou se não me canso de pensar, buscar respostas para tudo. Isso me ajudou a refletir que tenho que simplismente viver, com simplicidade, ser o que sou, sem ter que ficar buscando entender meus sentimentos o tempo todo. Se observar o tempo todo pode ser também algo que nos aprisiona. Tem sido muito importante viver tudo isso. O dia todo caminho. Inicio logo cedinho e paramos apenas no final do dia, passamos muitas coisas, alegria, dor, saudades, em fim. Tudo se torna um grande aprendizado.


Quando cheguei a Nájera, estava muito exausta, queria apenas chegar no refúgio, comer algo e dormir. Isidro queria preparar um filé para nós, porém eu não queria. Ele me levava pra lá, pra cá. Entramos em um bar, que oferecia menu do Peregrino e a atendente foi muito mal educada conosco. Eu estava já estressada pelo cansaço, atitude da moça me deixou indignada. Segui com Isidro buscar o que comer, e eu compartilhei com ele minha indignação, porque aqui na Espanha há alguns lugares em que as pessoas não são acolhedoras, e nos tratam como um baú de dinheiro. Percebem que somos peregrinos, por isso aproveitam-se disso. Cobrá-se muito caro tudo, e come-se muito mal. Fiquei 7 dias sem comer bem. Queria comer arroz, feijao, carne, salada. Aqui só comem, Ramones, ramones, ramones (espécie de presunto, sei lá), muito gordurento. Como se comecessemos Bacon puro.

Depois deste estress do dia, Isidro me fez cair na real, de que criei um caminho perfeito, onde em todos os lugares as pessoas são boas, porém isso não existe, porque o caminho está corrompido.

Há sim muito amor entre os peregrinos. Um cuida do outro, preocupá-se com o outro. Isso que vale. O comércio em cima do caminho é muito grande. Temos que ficar atentos.

O mais importante de tudo é que descobri que amo meu país profundamente. E agradeci a Deus por ter nascido brasileira. Nao há país melhor que o nosso.

domingo, 12 de outubro de 2008

6º Dia - Torres del Rio - Logroño



Torres del Rio a Logroño - 20 Km
Realizado - 138,5 Km
Para Santiago - 652,50



Espanha, 12/10/2008 (Domingo)



Hoje foi um dia especial. Senti muita consolaçao. Passei o dia muito bem. Andando com passos firmes de quem sabe onde quer chegar. Somente eu e Isidro, sempre encontrando nossos amigos peregrinos. O nosso grupo inicial está se desfazendo aos pouco. Tico, o peruano ficou em Torres del Rio se recuperando de uma tendinite, Tiago (brasileiro), Paco (espanhol), Jorge (espanhol) e um francês (Julian) seguiram em frente e Isidro (espanhol) seguiu comigo. Isidro meio que me adotou. Não quer me deixar sozinha, está sempre me cuidando. Ele está vivendo uma etapa importante em sua vida, um de seus propósitos no caminho, que é parar de fumar. Depois que leu o livro, no qual falei na postagem anterior, abandonou o livro com o maço de cigarro junto. Hoje passou o dia mareado, tentando vencer a vontade. É um guerreiro, hoje foi seu segundo dia sem fumar. Como disse, o grupo incial aos poucos está se dissipando. Hoje chegamos todos no mesmo albergue, nos encontramos, e como sempre é uma alegria. Porém, Jorge, um dos espanhóis, deixou o grupo e seguiu uma etapa a frente. Assim seguimos cada um com seu caminho, seu ritmo.

Durante o caminho eu e Isidro conversmos sobre nossas vidas. Dividimos histórias, fé, rimos muitos, foi bem legal. Ele vive em um povoado próximo de Logroño e sua esposa hoje veio visitá-lo no albergue. Ele ficou muito contente. Esta é uma vantagem de morar perto do caminho, pode matar as saudades da família.

Falamos bastante de religião. Isidro disse-me hoje que descobriu algo importante. Disse-me comigo descobriu que não pode ficar pré-julgando as pessoas por sua religião. Disse que não gostava de Católicos. Para ele, se eu tivesse dito que eu era católico já teria se afastava, pois em sua concepção inicial Católico não prestava. Disse-me que descobriu no caminho que o Catolicismo também tem gente boa e também leva para Deus. Assim como tem em qualquer religião. Este fato pode parecer simples, mas Isidro é a mostra da falência da credibilidade do Catolicismo aqui na Europa. Tenho observado isso por aqui, falarei disso em outra postagem.

As descobertas aqui sao especiais. Aqui se vive dia-a-dia o que Jesus ensinou: humildade (nao temos nada, nao queremos nada, solamente compartilhamos); paciência (pois só nos resta caminhar); amor (tratamos uns dos outros sem esperar nada), em fim, Deus está muito presente por aqui.

É isso aí. Amanhã se conseguir conto mais


Estella a Torres del Rio


5º Dia - Estella - Torres del Rio
















Estella - Torres del Rio - 30 Km
Realizado - 118.5 Km
Para Santiago - 672.5 Km
Espanha, 11/10/2008
Neste dia, após ter ficado triste no dia anterior, e ter conhecido pessoas como Panaiota (esquerda - canadense) e Michelli (direita - francesa), que souberam compreender-me e ser presença em minha vida naquele momento, decidi nao seguir com os meus amigos que caminhei os 3 dias anteriores, pois o ritmo deles é mais rápido que o meu. Logo cedo, enquanto no arrumávamos, pergutara-me se estava bem e disseram que iriam me esperar. Pedi a eles que não, pois eu iria no meu ritomo e não queria atrasá-los e nem me preocupar em seguí-los para que não se atrasassem. O dia começou assim, eu saindo depois de los niños, junto com Panaiota e Michele. Entendia alguma coisa que Michele falava e alguma coisa que Panaiota falava, sempre em Inglês. Foi um grande desafio pra mim comunicar-me com as duas que falavam muito pouco do espanhol. Em fim, foi um dia tranquilo, eu já havia me desligado de todos os meus companheiros, o que havia me trazido tristeza por deixá-los. A segurança veio com as minhas novas companheiras, agora no mesmo ritmo que o meu. No meio do caminho encontrei Isidro (espanhol) que acompanhou-me 2 dias antes, me ajudou a superar o Monte do Perdao. Ele estava junto a uma fonte, lendo tranquilamente um livro destinado para quem deseja parar de fumar. Permaneceu neste lugar até terminar de lê-lo e depois alcançou-me. Foi um momento feliz, pq permanceu comigo até terminarmos a estapa do dia, que foi mais pra frente do que havia me determinado. Segui junto com Isidro, Panaiota e Michele até chegar em um povoado muito feio, chamado Los Arcos. A meninas ficaram neste povoado, que ficava apenas 20,9 Km do local de início da caminhada. Eu porém segui com Isidro, Davi e Charle, estes últimos também espanhóis, que me deram muita força para vencer esta etapa que acabaria em 30 Km. Panaiota nao queria que me fosse, porém no dia seguinte ambas iriam apenas até Viana, enquanto eu teria que seguir sozinha até Logroño. Isto me fez optar por seguir com os outros amigos. Quando deixei Panaiota e Michele foi outro momento forte, pq aqui tudo se potencializa, as relaçoes sao muito intensas. Nos abraçamos e dissemos adeus, o que é muito duro. É duro saber que as pessoas que você passa a amar tem que deixá-las. Panaiota disse que o único dia em que ficamos juntos foi maravilhos, o que pra mim também foi.
Segui meu caminho com os niños, que para me ajudar a andar mais 10 km foram hablando, hablando, hablando....Isidro diz que não posso ficar muito introspectiva pq passo a andar muito lenta, viro uma lagarta no casulo, ao passo que se falo viro uma borboleta, fico ágil e sigo. Assim conheci melhor Davi e Charle, que me contaram um pouco de suas vidas. Aqui o conhecimento das pessoas acontece muito rápido, pq se tem tempo para ouvir, compartilhar, cuidar-se, amar-se....é muito especial poder ter tempo para o outro. Saímos de nós mesmos, passamos a ver o outro. Este foi um dia feliz, apesar dos momentos da partida. Aprendi muitas coisas, senti-me muito feliz. Aqui a dor é o de menos. Suportamos tudo com alegria. Não se preocupa com nada, a nao ser em viver o dia em plenitude. Aqui a linguagem é o amor. Se compartilha a comida, as dores, as alegrias. Quando encontramos os companheiros no próximo albergue é sempre uma festa. A cada dia estou mais forte. As bolhas já estao saradas. Sinto-me muito bem, com muita energia. O dia acabou com muitas dores nos pés, afinal, fazer 30 Km nao é mole. Iniciei a caminhada às 8h30 e parei eram 19h. E principalmente feliz, muito feliz. Cheio de descobertas interiores e afetividade vivida.
Sinto saudades de todos, muitas saudades...

sábado, 11 de outubro de 2008

4º Dia - Puenta de la Reina - Estella

Puenta la Reina - Estella - 22,4 Km
Realizado - 89.4 Km
Para Santiago - 700,6 Km

Espanha, 10/10/2008

Foi uma etapa um pouco mais leve que a anterior, porém fazia muito sol. Isso tornou o caminho mais cansativo. Isidro, espanhol que me acompanhou na etapa anterior seguiu mais rápido, até que o nosso grupo o perdeu de vista. Ficamos em 5 peregrinos, sendo 2 espanhóis, um francês, eu e mais um brasileiro. O grupo seguia em frente e eu tentava acompanhá-los, porém sempre mais atrás. Fiquei preocupada em seguí-los, porque eles sempre me esperavam e se atrasavam.
Durante o caminho senti muita alegria, porque a presença de Deus é muito forte. Descobri porque no caminho sente-se muita felicidade. Aqui vivemos realmente a mensagem de Jesus. Aqui os "Egos" nao se manifestam, porque o outro é sempre mais importante. Todos se ajudam, como irmaos de em terra sem nome.
Quando chegamos em Estella fizemos uma parada para comer, porém eu tive uma queda de pressao, passei muito mal e todos resolveram ficar em Estella. Thiago, brasileiro que faz parte da missao Médicos sem Frontreiras, me cuidou, me ajudaram a chegar no albergue e ficamos em Estella. Tudo bem, porque era de fato a etapa que eu teria que fazer.
Esse acontecimento me abateu um pouco, porque percebi, vivendo, que realmente a coisa não é fácil. Por mais treinado que estejamos, todos os dias fazendo percursos longos tem-se que ter muita força de vontade.
Chorei muito de saudades, de medo em não completar o caminho, em fim....
Fiquei contente depois porque percebi, vivendo na pele, que realmente o caminho é quem diz o ritmo que temos que fazer.
Conheci duas pessoas maravilhosas, que me cuidaram no albergue. Michele (francesa) e Panaiota (canadense). Um dia foi suficiente para que fizessemos uma linda amizade. Quando estava triste elas me acolherem e conseguimos nos comunciar, mesmo eu nao falando nem franês e tao pouco inglês. Aqui no caminho a língua oficial é o amor. Nao há outra.
Estou muito contente, porque de tudo que aconteceu no dia de hoje aprendi que tenho que realizar meu próprio caminho, dentro das minhas possibilidades. Como na vida, cada um tem seu próprio caminho, nao podemos querer realizar as coisas como os outros e tão pouco pelos outros. Isso tudo sabia bem, porém na teoria. Aqui você descobre as coisas vivendo na pele. É muito rico.
Hoje pela manhã resolvi não seguir o mesmo grupo. Dividi com eles minha preocupação e todos seguiram na frente. Estou bem, firme em meu propósito, com passos firme de quem sabe onde quer chegar.
ULTREYA

Cursilho 56 Jovens Feminino

Começou o Cursilho. Neste retiro, quase 40 meninas estão também aprendendo que "peregrinar é abrir caminhos", como diz o nosso Diário do Peregrino. E nessa vida de caminhada, os caminhos que abrimos levarão outras pessoas a caminhar os passos que caminhamos. Por isso, se seguirmos os passos de Cristo, "saberemos onde queremos chegar, com passos firmes", como diz a Peregrina Cris.

Te amo.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Oração

Cris, você que me visita todos os dias em meu santuário interior, com seu chapéu, mochila e cajado, não desanime! A caminhada é difícil e dolorosa, mas ela traz consolação e experiências únicas, como deveria ser a nossa vida. Te amo.

Senhor Deus, sinto que conseguirei não desejar mais riqueza que pobreza, saúde que doença ou mais honra que desonra, mas como é difícil não desejar que a Cris esteja por perto. Por isso, a convidarei sempre para orarmos juntos no santuário e juntos escutarmos a tua voz. Assim, um dia também seremos como Cristo, ou mesmo como um peregrino do Caminho, cuja preocupação é só acordar e caminhar por mais 1 dia. Te amo.

Dá-nos hoje o pão nosso de cada dia
Mt 6, 13
Maria, nossa mãe, partiu em uma caminhada em direção à realização do plano de Deus sem conhecer o que iria acontecer.
Siguiéndola, no te desvias;
orándole no te desesperes;
pensando en ella, no te equivocarás.
Si ella te tiene de la mano, tu no te caerás;
Si ella te guia, tu no conocerás la fatiga;
Si ella esta contigo, ten por seguro de llegar hasta el final

3º Dia - Cizur Menor - Ponta de La Reina

Cizur Menor - Ponta de La Reina - 27 Km
Realizado - 67 Km
Para Santiago - 723

Espanha 09/10/2008

O dia de hoje foi mais difícil que os 2 dias anteriores. Fizemos a subida do Monte do Perdão. Descobri porque se chama monte do Perdao: porque depois que chega no alto descobrimos que pagamos metade dos pecados da vida e depois que desce para pagar a outra metade. É uma etapa difícil devido ao terreno, que é cheio de pedras que rolam, como se fosse um rio seco. Isso dificulta a caminhada. Saimos às 8h30 e cheguei na cidade de Ponta de La Reina às 18h.

Meus amigos me deixaram para trás, porque estava caminhando muito devagar, por causa das bolhas que nasceram na planta do pé e de uma dor que sinto no calcanhar, internamente. Segundo meu amigo brasileiro, que faz parte da Equipe de Médicos sem Fronteira, pode ser início de uma tendinite. Permaneceu comigo apenas Isidro, o espanhol, que me acompanhou durante todo o percurso e me deu o seu par de bastoes, aquele usado para esquiar na neve. Aqui há muito desses. Esse recurso me ajudou muito, já que o cajado não estva sendo suficiente para segurar a força da descida e da subida.
Faz muito frio por aqui. Quando chegamos no topo do Monte do Perdao ventava muito, eu cheguei a ser carregada pelo vento, eheheheh, apesar de ser magra isso nunca havia acontecido, eheheheh.

Quando chegamos no final do Monte do Perdão, depois de mais de 4 horas de caminhada paramos em um povoado. Isidro comprou para mim com um pim, que tem uma lesminha com um cajado.... O que vocês acham que ele quis dizer, eheheheh

Depois resolvemos pegar um desvio de mais 3 Km para visitar uma Igreja muito antiga que chama-se Eunate, dos Templários. Foi muito especial. Pernmanecemos por ali por mais de 15 minutos, orando e recebendo a energia que nos revigorou para mais uns 3 Km de caminhada, não sei bem....

Durante todo o dia caminhei parte só e parte com Isidro. Falamos de muitas coisas: da família, trabalho, amigos, filhos, mas principalmente compartilhamos nossa fé.

Durante a subida do Monte do Perdão vivi um momento muito especial. Comecei a perceber as pedras que rolavam enquanto passava, a dificuldade que era para transpô-las e comecei a pensar em minha vida, na vida de todos nós, que é cheia de pedras que podem dificultar nossa vida. Porém podemos fazer das pedras nossas aliadas ou não.
Assim como as pedras da vida, podemos usá-las para nos levar a um lugar melhor, onde queremos chegar, aprender e sairmos mais fortes. Podemos escolher parar, desistirmos e ficarmos pensando que é muito difícil. Senti no percurso uma alegria interior muito intensa, porque percebi que nao importava as bolhas, dores no calcanhar, no corpo, no ombro, em fim, mesmo com as dores e dificuldades podemos ser infinitamente felizes. Me senti muito feliz, mesmo com todas as dificuldades, porque nada, nada pode nos separar do amor de Deus que está presente a todo instante.

Infelizmente não estou tendo tempo para ir em uma Lan house para mandar as fotos, mas amanhã estarei em Estella, uma cidade um pouco maior do que os pueblos que passei.

Tem sido também bem engraçado falar com os holandeses que só falam Inglês e eu espanhol ou português. Nos comunicamos de qualquer maneira, e nos divertimos muito juntos. Acho que será melhor quando o Igor chegar, pq daí poderá ser nosso tradutor, eheheheh

Estou com muitas saudades. Amo todos vocês....
Ultreya (descobri o verdadeiro sentido dessa palavra, ou melhor, agora vivencio na carne, eehehehe)

Respostas

Olá Mano e Tata,

Vi sim o bilhete que vocês deixaram em minha mochila, fiquei muito feliz e emocionada. A bandeira está pendurada na minha mochila, pq no cajado não tenho como prendê-lá.

Estou muito feliz com as notícias vindas do Brasil. Ni, fico mais tranquila sabendo que está atenta as crianças. Por favor, ligue também pra vó e diga a ela que estou bem.

Amigos queridos, obrigada pelas palavras amorosas. Isso alimenta meu coraçao e dá-me mais energia.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Oración por Los Peregrinos

Por você e todos os peregrinos, orei o texto abaixo...

"Señor Jesucristo que sacaste a tu siervo Abraham de la ciudad de Ur de los Caldeos guardándole en todas sus peregrinaciones y que fuiste el guía delpueblo hebreo a través del desierto.

Te pedimos te dignes bendecir a estos hijos tuyos que por amor a tu nombre peregrinan a Compostela. Sé para ellos: compañero en la marcha, guía en las encrucijadas, albergue en el Camino, sombra en el calor, luz en la oscuridad, consuelo en sus desalientos yfirmeza en sus propósitos; para que por tu guía lleguen incólumnes al termino de su camino y enriquecidos de gracias y de virtudes vuelvan ilesos a sus casas llenosde saludables virtudes.

Por Jesucristo, nuestro Señor, que es el Camino."

Te amo, Cris

2º Dia - Larrasoaña - Cizur Menor

Larrasoña - Cizur Menor - 21 Km
Realizado - 46 Km
Para Santiago - 744 Km

Espanha, 08/10/2008

Hoje sinto-me mais forte. Ontem me sentia só. No final da noite estava muito sensível. Saudades de todos, muitas dores no corpo, nos pés....Em fim. Mas aqui é tudo mágico. Encontrei um outro brasileiro que me fez sentir em casa. Parecia uma louca, quando ele se apresentou, depois de identificar meu sotaque hablando Espanhol, olhei pra ele e disse: Oh, estou tao contete, e fui abraçá-lo. Todos ficaram me olhando admirados, achando-me uma brasileira louca. Logo em seguida fomos todos jantar, comecei a ficar mais enturmada. Hoje começamos o caminho em 8, sendo apenas eu de mulher. Um espanhol e o brasileiro me acompanharam o tempo todo. Quando chegamos em Pamplona, um morador me parou na rua e perguntou se eu era brasileira, começou a contar suas histórias com as brasileiras que passam no caminho. Isidro, espanhol que me acompanhava ficou a me esperando, nao conseguíamos nos livrar do Senhor que me parou. Quando vimos nos perdemos da nossa turma, que se mandou rápido para Cizur menor para poder voltar a Pamplona para ver a festa dos touros. Hoje é um dos dias em que soltam os touros para correr atrás do povo que se aventura. Eu e Isidro continuamos andando por Pamplona tentando achar nossos companheiros, porém nao os encontramos mais. Entao decidimos ficar, Isidro comprou algumas coisas que queria e eu fui em uma Lan House tentar baixar as fotos e mandar o vídeo que fiz para Cursilho, que por sinal, enquanto gravava um espanho ficou ouvindo eu falar e depois que percebeu que eu disse o que oferecia de Alavanca todo o sofrimento, dores e iria rezar por todos estes dias, teve um acesso. Começou a falar que perco meu eu perco meu tempo no caminho e é tudo uma bobagem. Virou para Isidro e disse-lhe: "Desista dela, porque ela fica só rezando, se queres algo com ela, nao terás. Eu e Isidro rimos muito, porque foi uma situaçao muito engraçada. Em fim, conto com detalhes depois. Durante todo o resto da tarde fomos conversando sobre fé, o que cada um pensa sobre o amor de Deus. Falamos coisas muito bonitas. Foram horas muito especiais
O Caminho é mágico, acontece coisas muito especiais, que só vem confirmando tudo que li e as histórias que ouvi. Nao é fácil. Hoje estou com bolhas, que foram tratadas pela hospitaleira do refúgio em que estou. Todos os peregrinos cuidam uns dos outros. Não estamos só nunca. Porém cada um respeita o momento de instrospecçao do outro. As coisas vem a mente devagarinho e podemos sentir muito forte a presença de Deus, porque o contato com a natureza e com as pessoas é mais intenso.
Aqui na Espanha há muito respeito com as pessoas. Os peregrinos são bem tratados, pelo menos foi o que percebi até agora. Para atravessar as ruas, se você estiver sobre a faixa de segurança, onde não tenha sinaleiro, os carros param. É fantástico isso. As pessoas em primeiro lugar.
Estou muito bem, cansada, muito cansada, com dores no corpo, mas há uma felicidade interior que brota a cada passo que damos no caminho.
Meu tempo na Internet está acabando. Há muitas coisas que queria dividir, mas não temos muito tempo. As fotos nao consegui baixar ainda, mas tentarei novamente depois de amanhã. Amanhã terei uma etapa dura. Subiremos o Monte do Perdao. Rezem por todos os peregrinos. Há muitos com bolhas nos pés, assim como eu.
Estou com muitas saudades de todos.
Amo a todos, tenho acompanhado todos os comentários, porém não posso responder a todos, mas veja a todos.
Igor, Matheus e Thabata, amo vocês, estou com muitas saudades....

terça-feira, 7 de outubro de 2008

1º Dia - Roncesvalles - Larrossaña

Roncesvalles - Larrossoña - 25 Km
Para Santiago - 765
Espanha, 07/10/2008

Sai a peregrinar as 7h, estava super escuro. Fui acompanhada por um casal de espanhóis que fará apenas 3 dias no caminho, para ver como é. Acho que eles vao desistir de fazer todo o caminho. Eeheheheh...brincadeirinha.
Entao, fui com eles por apenas uns dois Km. Logo a frente conheci um frances (Michel) e um espanhol (Joaquim), ambos de meia idade. Fizemos o caminho juntos por 18 Km, foi muito divertido. Falamos de nossos países, de economia, política. Perdi-me de Michel e Joaquim, por volta do Km 18. Acreditem, toda a comida estava com eles. Passei o dia com um pacote de amendoim, chocolate e água. Bebi água como nunca tomei na vida. Pela manhã o tempo estava estável, não fazia muito frio. Depois começou a chover, aí sim o caminho ficou difícil, pq há muitas pedras, subidas e bastante descidas. Com a chuva as pedra ficam muito escorregadias, tendo que ter muito cuidado para nao cair. Ganhei meu cajado, como queria. Quem me deu o cajado foi um Canadense. Pasmem! Eu entendia alguma coisa do que ele falava. Ele irá partir amanhã. Ficou em um povoado anterior a que estou. Antes de eu partir ele perguntou se eu aceitaria o cajado, porque ele nao precisaria mais. Fiquei muito feliz, pois queria muito ganhar meu cajado, assim como ganhei minha vieira. São coisas do caminho.
Gente eu estou hablando espanhol muy bien. As vezes chego a ter que pensar como fala-se em português, pq aqui só se fala em espanhol. O caminho é lindo. Há uma mistura de várias nacionalidades. Hoje jantei com franceses, Italianos, Coreano, Espanhol, Holandes, Peruano....é mole ou quer mais.
As fotos mando amanha de Pamplona.
Saudades, muchas saudad....

A viagem

Ontem durante a viagem foi muito divertido. Nao dormi durante a noite, apenas tirei alguns cochilos. Cheguei em Pamplona às 11h50, horário local, compramos a passagem de trem e atravessamos a cidade de Madri para chegar na estaçao de trem. Foi um dia muito intenso. Enquanto isso meu amigo brasileiro tentava me convencer em ir para San Jean, no lado Francês. Victor, que é de Sao BErnardo do Campo chegou a dizer que carregaria minha mochila para atraversamos os Pireneus. Dei muitas risadas. Depois que chegamos na estaçao de trem, depois de 3 horas de viagem, estavam nos esperando Juan (taxista) e Sérgio (outro brasileiro), que foi de aviao para Pamplona. Durante toda a viagem foram os três me convencendo de ir para San Jean. Sr. Juan quis me apresentar os Pirineus através da estrada, levando Victor e Sérgio primeiro. Tive que cortar o barato deles, pois chegamos a Roncesvalles as 19h30 e eu queria participar da missa de envio de Peregrino. A despedida foi muito triste, pq os dois nao queriam me deixar. Victor ficou bastante preocupado em deixar-me, porém cada um tem seu caminho. O deles era iniciar em San Jean, o meu em Roncesvalles. Foi muito estranho chegar no albergue. Gente de todas as nacionalidades (coreanos, suécos, americanos, espanhóis, franceses, etc) O hospitaleiro era Holandes. Entrei no albergue e ele perguntou se eu falava inglês (isso eu entendi), e eu disse que nao. Ele perguntou fala francês? Disse nao. Fala holandês? Nao. Fala Alemao? Nao. O homem e um verdadeiro poliglota, porém nao fala as linguas principais: português e espanhol. Eheheheh. Td bem, eu é deveria saber ao menos inglês. Sem o inglês vivemos mais solitários, pois a maioria no caminho sao de outras nacionalidades que nao é espanhol e nem brasileiro. Eheheheeh. Consegui me comunicar com o hospitaleiro, pq aqui, nao sei bem como as pessoas se entendem. Fui dormir as 22h, horário em que se apaga as luzes e fecha os albergues. A cidade de Roncesvalles um tico, tem 15 habitantes, mas é muito especial.
Nao tenho muito tempo na Internet, por isso irei demorar um pouco para postar. Amanha irei em uma lan house para poder baixar as fotos que tirei.

domingo, 5 de outubro de 2008

Partiu




Olá, Gente!

Meu nome é Igor Schultz, sou o marido da Cris, e estou também fazendo o caminho junto com ela. Neste momento ela está no avião para Madrid, as crianças estão dormindo e eu estou me preparando para a primeira semana como "pai e mãe" e tudo mais. Esse é o meu caminho.

Assim como no Cursilho existem pessoas que realizam diversas funções e todas elas fazem parte da "Grande Mensagem" de Cristo, este "Cursilhão" que a Cris está fazendo também está sendo feito por todos nós, que junto com ela vivenciamos com fé a preparação do caminho, bem no estilo do que Paulo dizia aos Hebreus (cap 11): "fé é tornar real aquilo que ainda não aconteceu". E é verdade: esse caminho já vem acontecendo conosco há vários meses. E isso é fé. Foi tornado real. Saint-Exupéry já dizia no Pequeno Príncipe: "Se vieres, por exemplo, às 5 horas, desde às 3 já serei feliz", pois antecipa-se aquilo que realmente vai acontecer. E dessa forma, o caminho acontecerá aqui em casa também, pois precisaremos fazer com que tudo continue funcionando mesmo sem a Cris por perto...

E ela está indo... Vamos ficar um bom tempo sem olhar para a mesma terra ou o mesmo céu, mas quando estivermos em oração, poderemos ver um ao outro através da luz de Deus que nos une em um só Espírito, para que todos juntos realizemos as coisas que ele nos inspira. Obrigado, Senhor por mais este momento. Que este grande retiro possa fortificar tudo o que diz respeito à tua vontade, seja na Cris, em mim e nas crianças, tudo para a tua maior Glória, e para que todo mundo saiba as maravilhas que acontecem conosco e acreditem no teu amor.

Estaremos esperando com saudades!

Igor Schultz

Hora da Partida

Não sei explicar qual é sentimento, é uma mistura de medo, ansiedade, esperança, alegria, saudade, em fim... Medo de estar indo para um país que não conheço, não domino a língua, não sei como é a cultura, é o medo do desconhecico. Medo de que esta escolha possa trazer alguma dor para meus filhos e marido; ansiedade, por ver o sonho se concretizar e querer viver td intensamente; esperança pq tenho certeza que muitas coisas irei aprender, descobrir, que irão me ensinar a ser uma pessoa mais feliz e completa, que me ajudará a olhar o mundo de uma forma mais positiva, otimista, acreditando cada vez mais no ser humano....; alegria, por ter coragem de viver esta aventura, que será muito mais que isso, mas uma grande viagem para uma nova descoberta em meu próprio interior; saudade dos meus filhos, marido, amigos, com quem convivo intensamente e que por algum tempo terei que viver sem eles, esse será meu maior desafios, pois nunca fiquei longe e tanto tempo sozinha. Conviver com a solidão, será um desafio. Mais do que a dor física que irei passar, é a dor interior, necessária para que a transformação, em uma pessoa melhor, aconteça. Quando falo da solidão, falo daquela de não estar com ninguém por perto, a não ser o Criador....por isso ....não sigo só. Sigo com Ele, será um momento especial para viver minha fé e aprofundar minha relação com o autor da vida...

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Auxílio da Fisioterapia



Então turma, essa ao lado, comigo, é a Rosangela, minha fisioterapeuta. Vou explicar qual é o papel da Ro em meu caminho. Como falei na postagem anterior, encontrei na corrida um grande estímulo para manter-me fisicamente para o caminho, porém a corrida é um esporte que exige bastante das articulações, que precisam ser cuidadas com fortalecimento da musculatura e bastante alongamento. Certa vez uma ortopedista me disse que todo atleta tem algum problema por conta da atividade física, normalmente ligado com as articulações, mas que isso não é nada perto das consequências de ser sedentário, por isso vale a pena cuidar das lesões que aparecem pelo esforço físico. Eu preferi ser atleta, por isso, mesmo com lesão, vou em frente. Para tratar das minhas lesões tenho acompanhamento de um ortopedista e da minha fiel fisioterapeuta, a Rosangela (Ro). Ela conserta o que estrago na corrida. É um vai e vem na fisioterapia. Tudo bem, já encaro como se fosse uma atividade física. Com ela aprendi a conviver com minha dor, a praticar o alongamento diariamente e a conhecer os meus limites. Ela se tornou uma grande amiga.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Trainer, parceira no sonho

Para me preparar para o caminho precisei de decisão, perseverança e disciplina. Não sou uma pessoa auto-didata, apesar de ser disciplinada. Preciso de orientação. Para isso fui buscar parceiros neste sonho. Há muitos amigos acompanhando este sonho, entre eles a Equipe Trainer. Eles são responsáveis pela minha Preparação Física.
A Trainer Assessoria Esportiva foi criada em 2003, com o objetivo de fornecer orientação para atividades físicas, nas modalidades de caminhada e corrida, orientando seus atletas a aquisição de autonomia na execução da atividade Fisica. Conheci a Trainer através de uma amiga, a Flavia, que já participava da equipe. Passei a fazer parte da equipe em 2005, até então era totalmente sedentária, não corria 200m sem ter que parar.
O bacana é que o método de treino faz com que tracemos metas. Quando iniciei, dividi com meu técnico, Tchê, que queria ser capaz de terminar uma corrida de 10 Km, sem parar. Depois de ter alcançado esta meta, defini novo desafio, percorrer 10 Km, de forma que terminsasse a prova inteira, sem estar acabada ao final dos 10 Km, o que era muito comum no início. A cada meta alcançada novos objetivos eram traçados.
A diferença em treinar com uma equipe de profissionais é que eles nos conduzem aos novos desafios, dentro de nossas possibildiades físicas, nos mantendo sempre motivados, buscando sempre melhorar o condicionamento físico e a saúde.
A prática da corrida foi motivada pelo projeto do Caminho. Talvez alguns me perguntem, mas por que correr se o objetivo é caminhar? Simples, a corrida é completa, através dela adquiri maior resistência física, capacidade cardio-respiratória, desenvolvimento muscular e flexibilidade. Tenho certeza, que os frutos desses 3 anos de corrida sentirei no decorrer do caminho.

Divulgação do Blog, muitas emoçoes

Hoje foi o dia que divulguei o Blog, para todos os amigos, família querida, turma do Cursilho, do trabalho, em fim. Foi especial demais abrir minha caixa de e-mail e receber respostas tão carinhosas, com palavras tão encorajadoras.
Minha amiga e cunhada, Denise Schultz, escreveu: "é preciso muita continuidade de propósito e dedicação para ir em busca daquilo que se deseja". Ela tem toda razão, mas com certeza há muitas pessoas que convivem comigo que me apoiam a ter atitudes que levem a realizar os sonhos....
Agradeço a Deus por me chamar constantemente, meus amigos queridos que me acolhem com minhas maluquices (Ao infinito e além.....), a minha família amada, que nunca disse que as coisas que projeto e desejo são loucura, em fim, não estou sozinha neste sonho.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

A Vieira


Hoje foi um dia especial, porque me dei conta que realmente já estou vivendo meu caminho há muito tempo. Há dois anos atrás conheci uma querida amiga peregrina. Ouvi ela dar uma de suas palestras sobre o caminho e quanto mais a ouvia, mais certeza tinha que iria percorrê-lo. Naquela ocasião, em 2006, ela disse para a platéia que há algumas coisas especiais que acontecem no caminho, entre elas é termos a "sorte" de ganharmos o cajado e a vinheira (concha) que identificam o Peregrino. Em meu interior veio o desejo de ter esta sorte, poder também, de forma especial ganhar meu cajado e a minha vinheira. Hoje, cedinho, não era nem 7h30, tive a graça de ganhar minha vinheira. Fiquei muito feliz, pq foi esta amiga especial, Cris (também), quem me deu. Foi muito legal, pq ela foi, dentro do espírito peregrino, me passando alguns coisas que me emprestou para levar pro caminho, assim não precisaria gastar ainda mais(meu Deus como gasta). Depois de ter me passado tudo, tirou de dentro da sacolinha a Vinheira e me deu, junto com um carinhoso abraços de envio, carregado de desejo de coragem....... Esta vinheira me acompanhará por todo percurso. Foi muito bom, pq ganhei e não precisei comprar....digo isso não pelo dinheiro, mas pq a magia do caminho já se apresenta desde já.....
Tô muito feliz, muito feliz mesmo!!!!!Obrigada eterna peregrina Cris......
O ser peregrina está no espírito, todos somos peregrinos nesta vida. Turistas neste mundo, cidadãos da eternidade.....